sábado, 14 de dezembro de 2013

Estudo 5 - Noções de Calendário - 2.ª Parte

Introdução
Após um cuidadoso exame dos principais sistemas de calendário produzidos pelas mais importantes civilizações do mundo antigo, será de inestimável valor também uma investigação acerca dos métodos utilizados por esses mesmos povos para datar os acontecimentos em termos de anos.

Datação Por Fatos Memoráveis
Os povos mais antigos desconheciam a contagem do tempo por eras, como é feito atualmente com muita naturalidade. A prática adotada pelos sumérios e babilônicos era o de batizar cada ano com um nome, com base no mais notável evento do ano anterior. Dessa maneira, o sétimo ano de Hamurábi, por exemplo, foi chamado de “o ano em que Uruk e Isin foram tomadas”. Os vários escritórios da época mantinham listas completas dos nomes dos anos, as quais cobriam um longo período de tempo.


Os Cânones Epônimos
Outro método de datação foi criado pelos assírios, segundo o qual um alto oficial era escolhido para ser o “limmu” durante um ano; no período em que ele ocupasse esse posto, seu nome era usado para identificar o ano. O mesmo método foi seguido pelos gregos, entre os quais o termo correspondente a limmu era o de “epônimo”, e entre os romanos, com sua lista de cônsules (2 por ano).
Havia, no entanto, uma diferença entre o archon epônimo de Atenas, os cônsules romanos e o limmu assírio. O archon ateniense e os cônsules romanos eram sempre chefes de Estado, enquanto que o limmu poderia ser escolhido entre os vários oficiais e altas personalidades do Império Assírio.
Dessas listas, a mais importante para a fixação das datas dos acontecimentos relacionados à profecia das 70 semanas é a dos cônsules romanos.

Os Anos de Reinado
Na Mesopotâmia, no Egito, na China, entre os hebreus e entre outros povos antigos, adotou-se o sistema dos anos de reinado. Essa prática não chegou a se generalizar na Roma Imperial. Possuía o inconveniente de fazer recomeçar a contagem sempre que um novo soberano subisse ao poder. Quaisquer omissões ou erros nas listas reais, como os decorrentes de reinados simultâneos em períodos de instabilidade política, viciavam o cômputo total.
Existiam 2 métodos diferentes para o cálculo dos anos de reinado:
1) Com Ano de Ascensão. Quando um rei morria, o primeiro ano de seu sucessor não era contado a partir do dia imediatamente seguinte ao da morte do antigo rei, mas, sim, a partir do próximo Dia do Ano Novo. O período decorrido nesse intervalo era chamado de “ano de ascensão”. Um nítido exemplo desse método pode ser encontrado em 2 Reis 18:1, 9 e 10. Depois de informar que Ezequias subiu ao trono no terceiro ano de Oséias, o autor do livro declara que o cerco de Samaria começou no quarto ano de Ezequias, o sétimo de Oséias, e findou 3 anos depois, no sexto ano de Ezequias, o nono de Oséias. A perfeita harmonia de todas essas informações só é possível mediante a aplicação do sistema do ano de ascensão, como pode ser demonstrado pelo esquema abaixo.

2) Sem Ano de Ascensão. Por esse sistema, empregado no Egito e também indicado na Bíblia, o período imediatamente seguinte ao da ascensão do novo monarca já era considerado o primeiro ano de reinado. Assim, a primeira parte do ano era calculada em termos do reinado do antigo monarca, enquanto que a última parte era datada em termos do novo soberano. Um claro exemplo desse método é dado em 1 Reis 15:25 e 28. Nadabe de Israel subiu ao poder no segundo ano de Asa de Judá. Nadabe reinou por 2 anos e foi assassinado no terceiro ano de Asa. Obviamente, apenas o sistema que não utiliza o ano de ascensão permite a exata combinação dessas informações, como pode ser demonstrado pelo esquema abaixo.

Quando um documento antigo estabelece a data de um evento em termos dos anos de reinado de um governante qualquer, torna-se indispensável identificar qual dos 2 sistemas está sendo utilizado para a exata localização na escala A.C. – A.D. do ano em consideração.

As Olimpíadas
Além do esquema ateniense de contagem (lista de archons), todos os Estados Gregos utilizavam as Olimpíadas como sistema de datação. Consistiam no período de 4 anos compreendidos entre os Jogos Olímpicos. A data tradicionalmente aceita do primeiro ano da primeira Olimpíada é 776/775 A.C. (do meio do verão setentrional ao meio do verão seguinte). O fato de essa data ser apenas tradicional não prejudica a utilidade cronológica dessa escala mais que uns poucos anos de erro na data do nascimento de Cristo afetam a validade da Era Cristã. A datação pelas Olimpíadas foi utilizada por escritores gregos e romanos e também pelo historiador judeu Flávio Josefo.

A Era Selêucida
Com a fragmentação política do Império de Alexandre, um de seus generais, Seleuco, deu início a uma série de reis que governaram sobre a Ásia Menor, a Síria, a Palestina e a Mesopotâmia. Em Babilônia, onde o ano começava na primavera (março ou  abril), contou-se o início do reinado de Seleuco a partir de 311 A.C., enquanto que, pelo calendário macedônico, cujo ano começava no outono (setembro ou outubro), o início do mesmo reinado retrocedia a 312 A.C.. A Era Selêucida se difundiu por todo o Oriente Médio, figurando no livro apócrifo dos Macabeus e tendo sido adotada até mesmo pelos reis arsácidas, que a acrescentaram à Era de sua própria monarquia (247/246 A.C.). Os romanos da Ásia Menor preferiram datá-la de 24 de setembro, efeméride do mesmo mês da vitória de Augusto sobre Marco Antônio em Ácio.

A Era da Fundação de Roma
Conhecida em latim como ab urbis conditae (A.V.C.,  desde a fundação da cidade, ou seja, de Roma), seu uso foi tardio, entre os historiadores romanos. Difundiu-se sobretudo no período do Baixo Império, apesar de nos documentos oficiais ter sido mantida a datação por cônsules, mesmo durante vários séculos após o desaparecimento da República. A Era da Fundação de Roma tem como ponto de partida a data de 21 de abril de 753 A.C., dia e mês em que era celebrada a inauguração daquela cidade.

A Era Cristã
Em 525 A.D., um monge, chamado Dionísio Exíguo (ou, o Pequeno), propôs que todos os eventos fossem datados a partir do nascimento de Jesus, que ele fixou no ano 753 da fundação de Roma. A Era Cristã de Dionísio foi sendo adotada desde o século 6, mas só foi admitida pela Cúria Romana a partir do século 10.
Para os anos a partir do nascimento de Cristo, a contagem é feita em ordem crescente; para os anteriores a esse acontecimento, em ordem decrescente. Não há um ano zero. Portanto, o dia 31 de dezembro de 1 A.C. é seguido pelo dia primeiro de janeiro do ano 1 A.D. (Anno Domini, ou seja, ano do Senhor). Seguindo essa lógica, o ano 1 A.D. é o primeiro ano do século 1 e o ano 100 A.D., o último. Por conseguinte, o ano 2000 A.D. é o último do século 20 e também do terceiro milênio. Assim sendo, o novo milênio só começou de fato em primeiro de janeiro de 2001 A.D..
A inexistência do zero entre 1 A.C. e 1 A.D. altera em um ano o cálculo de períodos que se iniciam antes de Cristo e que findam durante a Era Cristã. Por exemplo, se houvesse o ano zero, as 69 semanas proféticas (ou 483 dias-anos) terminariam em 26 A.D.; todavia, como tal não existe, a contagem se estende por mais um ano, findando em 27 A.D.. A compreensão desse pormenor é de grande relevância para o cômputo dos períodos proféticos. Uma discussão mais ampla sobre o assunto pode ser encontrada no apêndice ao estudo 2.

O Período Juliano
O período juliano5 constitui um ciclo de 7.980 anos, resultantes da multiplicação dos valores da indicção5 (15 anos), do ciclo metônico (19 anos) e do ciclo solar5. Este último abrange um período de 28 anos, findos os quais os anos voltam a ter os mesmos dias da semana como data inicial.
O referido período inicia-se às 12 horas do dia primeiro de janeiro de 4.713 A.C., uma Segunda-feira. Esse ciclo, inventado por Joseph Scaliger (1.540 A.D. – 1.609 A.D.), segue o calendário juliano, porém sua denominação foi dada em homenagem ao pai de seu idealizador, Julius Caesar Scaliger. O número de dias decorridos até um ano qualquer do período obtêm-se multiplicando 365,25 pelo número de anos do intervalo. A compreensão desse ciclo assumirá particular relevância na utilização de informações de cunho astronômico para a localização da data exata da morte de Jesus.
Um Convite aos Próximos Estudos!
Os próximos estudos desta série procurarão desvendar aos olhos do leitor os pormenores da mais fascinante profecia, já proferida entre os homens, de que se tem registro: as 70 semanas. Se o leitor ainda não assimilou as informações deste e dos estudos anteriores, seria interessante que os revisasse, procurando apreender o conteúdo de cada tópico, pois, a partir da próxima lição, as maravilhosas verdades do plano de salvação serão reveladas em toda a sua precisão matemática. Com toda a certeza, os leitores sinceros dos vindouros estudos serão tomados de tamanha admiração pela amplitude da revelação bíblica e pela profundidade da sabedoria de Deus que serão levados a exclamar como o apóstolo Paulo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos e quão inescrutáveis os Seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o Seu conselheiro? Ou quem primeiro Lhe deu a Ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dEle e por meio dEle e para Ele são todas as coisas; a Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” Romanos 11:33-36. Que o Espírito Santo possa impressionar a mente de todos os sinceros pesquisadores das Escrituras que entrarem em contato com essas verdades, para que elas lhes sejam uma grande luz a iluminar o caminho que conduz ao Salvador!

Bibliografia:
BICKERMAN, E. J., Chronology of the Ancient World, edição revisada, London: Thames and Hudson London, 1.980.
FINEGAN, Jack, Handbook of Biblical Chronology – Principles of Time Reckoning in the Ancient Time and Problems of Chronology in the Bible, Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1.964.
HORN, Siegfried H. e WOOD, Lynn H., The Chronology of Ezra 7, segunda edição, revisada, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1.970.
Verbete “Cronologia”, Enciclopédia  Mirador Internacional, vol. 6, São Paulo - Rio de Janeiro, Brasil: Encyclopaedia Britannica do Brasil Ltda., 1.982.
PARKER, Richard A. e DUBBERSTEIN, Waldo H., Babylonian Chronology, 626 B.C. - A.D. 75. “Brown University Studies”, vol. 19. Providence, R.I.: Brown University Press, 1.956. 
THIELE, Edwing R., The Mysterious Numbers of the Hebrew Kings, Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing House, 1.983.

Henderson H. L. Velten

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