segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Significado, Celebração e Data do Natal – Por Samuele Bacchiocchi

O Significado do Nascimento de Cristo

No mundo cristão, a celebração do nascimento de Cristo tem um significado muito maior do que a comemoração da Sua morte e ressurreição na Páscoa.

A história do nascimento de Jesus é contada apenas nos Evangelhos de Mateus e Lucas, sendo a preocupação dos escritores do Evangelho salientar o significado teológico do nascimento do Salvador do mundo, ao invés de fornecer os detalhes históricos do evento. Em contrapartida, todos os quatro Evangelhos dedicam quase um terço de sua narrativa aos acontecimentos da última semana da vida de Jesus.

No entanto, é o nascimento de Cristo que tem capturado a imaginação e o interesse do mundo cristão. Uma possível razão é que os nascimentos são eventos mais alegres e atraentes do que a morte. Nós celebramos o nascimento de um filho, mas lamentamos a morte de uma pessoa.

Não há indicações de que durante os primeiros dois séculos a igreja primitiva celebrava o nascimento de Cristo. O evento que era amplamente comemorado todos os anos era a morte e ressurreição de Jesus na Páscoa.

No entanto, a vontade de Deus em assumir a carne humana e nascer como um bebê, me diz muito sobre o caráter de Deus. Resumidamente, o nascimento de Cristo como um bebê indefeso, me diz quatro coisas importantes a respeito de Deus.

Deus é Emanuel: Deus conosco
Em primeiro lugar, o nascimento da Segunda Pessoa da Trindade como um indefeso bebê humano me diz que Deus estava disposto a entrar, não só nas limitações do tempo humano na criação e comunhão com Adão e Eva, mas também nas limitações, sofrimento e morte da carne humana na encarnação para se tornar Emanuel, Deus conosco.

João exprime esta verdade eloquentemente dizendo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14). Para apreciar toda a força desse versículo, é importante notar que a palavra – “habitou – Skené” em Grego, significa “barraca, tenda”. Isso não significa que Cristo tomou habitação temporária entre nós. Na Bíblia a palavra não implica residência temporária. Por exemplo, em Apocalipse 21:3 os novos céus e a nova terra são descritos, dizendo: “Eis aqui o tabernáculo (tenda!) de Deus com os homens. Ele vai morar (armar a sua tenda!) Com eles, e eles serão o seu povo.”

A noção de Deus, levantando uma tenda entre nós, implica que Ele quer estar perto de nós e interagir conosco. É por isso que Cristo nasceu como um bebê. Ele queria estar perto de nós e se identificar conosco. Levantou a sua tenda como se fosse no nosso quintal.

Se Cristo tivesse vindo como um super-homem, ou uma espécie de King Kong, o teríamos temido e não amado. Mas Ele veio como um bebê, porque podemos aceitar e amar um bebê indefeso.


Nosso corpo humano é a boa criação de Deus
Em segundo lugar, o nascimento de Cristo como um bebê humano me diz que Deus vê o nosso corpo humano como Sua boa criação. Esta verdade da Bíblia era inaceitável para os pensadores dualistas do NT que viam o corpo material humano como mal e a ser descartado no momento da morte. Essas pessoas formaram influentes seitas “cristãs” conhecidas como gnósticas ou Docéticas. Elas ensinavam que Cristo tinha uma aparência humana, mas não um corpo material humano, porque o corpo físico humano é mau. Em seus pensamentos, Cristo não poderia ter assumido um corpo humano, sem se contaminar. A divindade não poderia assumir a humanidade sem perder sua natureza divina.

João condena essas pessoas como “falsos profetas”, possuídos pelo espírito do anticristo. “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus, mas todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus. Este é o espírito do anticristo” (1 João 4:2-3).

O fato de que Cristo nasceu como um bebê humano e viveu como um ser humano, nos diz que Deus vê a nossa natureza humana como Sua boa criação. A finalidade da encarnação não foi mudar a natureza dos nossos corpos de físico para espiritual, mas para redimir e restaurar-lhe a sua perfeição original. Isso nos dá razão para acreditar que se a nossa natureza humana era “muito boa” na criação e na encarnação, também será boa na restauração final. Em outras palavras, no fim, Deus não vai mudar o nosso corpo humano em algo totalmente diferente, porque Ele descobriu uma falha na sua criação original, mas restaurá-lo à sua perfeição original.


Nosso Deus estava disposto a se humilhar para Nossa Salvação
Terceiro, a vontade de Cristo de deixar de lado Sua glória, posição e prerrogativas divinas para nascer como um bebê indefeso na família humana, me diz que Ele estava disposto a se humilhar para a nossa salvação.

Paulo expressa esta verdade com clareza, dizendo: “Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:5-11).

Antes de Sua encarnação Jesus Cristo era “em forma de Deus”(v. 6), isto é, Ele tinha a natureza de Deus e esta Divindade essencial nunca poderia deixar de existir. Mas, para nascer como um bebê: “Ele se humilhou”, deixando de lado temporariamente Sua majestade, glória e posição como o Filho de Deus. Somente a eternidade revelará a profundidade de significado nas palavras, “humilhou-se a si mesmo”.

O nascimento de Cristo como um bebê humano a fim de se identificar conosco, me diz que nós adoramos um Deus que é transcendente e imanente, isto é, que habita além de nós no céu glorioso, mas também com a gente nesta terra. Ele é tanto El Shaddai – o Deus Todo-Poderoso, como Emmanuel – Deus conosco. Esta é a tensão entre o Cristo, que se humilhou para se tornar um bebê e o Cristo que se ergue triunfante sobre a morte e as regras do mundo.


Nosso Deus escolheu revelar-Se através de um bebê indefeso
Em quarto lugar, Deus escolheu revelar a Sua santidade, pureza e glória através do rosto e da natureza de uma criança indefesa. Durante todo o Antigo Testamento, Deus quis fazer-Se conhecido ao seu povo. Mas isso era impossível. Antes do pecado entrar no mundo, Adão e Eva desfrutavam de uma relação perfeita com Deus. Eles moravam na presença de Deus. Mas uma vez que o pecado entrou no mundo, ver Deus face a face se tornou impossível. Os seres humanos perderam a capacidade de viver em segurança na presença de Deus.

Quando Moisés disse a Deus que queria vê-lo, Deus respondeu: “Você não pode me ver e viver.” Estar na presença plena de Deus era impossível para os seres humanos pecaminosos. Então Deus disse a Moisés para se esconder numa rocha enquanto Ele passava. Moisés capturou uma breve visão de Deus, e retornou ao seu povo com o rosto brilhando, tão brilhante que o povo o fez colocar um véu para protegê-los da glória de Deus refletida no rosto de Moisés.

Quando os israelitas vagaram rumo à Terra Prometida, Deus escolheu revelar-Se num pilar de nuvem de dia, e numa coluna de fogo à noite. Essa foi uma maneira de Deus estar com seu povo, sem destruí-los com a glória da Sua presença.

Mas Deus desejava revelar-Se mais plenamente para a família humana. Ele fez isso através da encarnação de Seu Filho, nascido neste mundo como um bebê com carne e sangue como um ser humano. É assim que Deus se revelou a nós.

Os Hebreus explicam que no passado Deus revelou-Se de “várias maneiras.” Visões, colunas de fogo, e anjos. “Mas, nestes últimos dias, Ele nos falou por seu Filho. . . O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa” (Hebreus 1:1-3). O bebê Jesus é a revelação mais próxima da perfeita santidade de Deus que Ele poderia revelar a este mundo pecaminoso. Por isso, somos eternamente gratos que Deus escolheu revelar-Se através do menino Jesus.

João exprime a mesma verdade dizendo: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (João 1:14). É através da encarnação do Filho de Deus que contemplamos a glória de Deus.

A mesma observação é feita no versículo 18. “Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.” Aqui a questão é que embora Deus seja invisível, Ele tem agora Se revelado de uma forma mais original através da encarnação de Si mesmo em Seu Filho Jesus. Em Jesus vemos Deus. É por isso que Jesus podia dizer: “Aquele que vê a mim vê o Pai” (João 14:9).

Em suma, o nascimento de Cristo como um bebê indefeso diz que Deus é Emanuel, no sentido de que Ele quer estar perto de nós e se identificar conosco. Ele nos diz que Deus vê a nossa natureza humana como Sua boa criação, porque ela foi assumida pelo seu próprio Filho. Ele nos diz que Deus é um Deus humilde. Ele estava disposto a Se humilhar para a nossa salvação. Ele nos diz que Deus escolheu revelar a Sua santidade, pureza e glória através do rosto e da natureza de uma criança indefesa. O nascimento de Cristo como um bebê indefeso, nos diz que nós adoramos um Deus maravilhoso, profundamente interessado em nos devolver a uma relação harmoniosa com Ele.


A Celebração do Nascimento de Cristo
A celebração do nascimento de Cristo coloca dois problemas: a data e a forma da celebração. Quanto à data do nascimento de Cristo, logo veremos que a adoção da data de 25 de dezembro pela Igreja Ocidental, para comemorar o nascimento de Cristo foi influenciada pela celebração pagã do retorno do sol após o solstício de inverno.

Diversos estudos acadêmicos sugerem que a Festa dos Tabernáculos em Setembro / Outubro fornece uma data bíblica e tipológica muito mais precisa para comemorar o nascimento de Cristo do que a data pagã de 25 de dezembro. A última data não apenas retira do tempo real o nascimento de Cristo, como também é derivada da celebração pagã do retorno do sol após o solstício de inverno.

A questão da data do nascimento de Cristo será discutida em breve. Neste momento eu gostaria de comentar sobre a maneira de sua celebração. De uma perspectiva comercial, o Natal tornou-se o evento comercial do ano. As pessoas gastam o dinheiro que não têm para comprarem coisas que não precisam. Para promover maiores vendas, o dia do nascimento de Cristo tornou-se um “Holiday Season” com a “Black Friday”, sexta-feira que sucede o feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos marcando um dos momentos de maior volume de vendas no país por dar início ao período de compras natalinas.

De acordo com a Time “para muitos varejistas, as vendas deste feriado são responsáveis por até 40% de sua receita anual e até 80% de seus lucros – daí o nome Black friday – ou o dia em que tradicionalmente as lojas saem “do vermelho” para “o preto”. (Http://www.time.com/time/business/article/0, 8599,1855555,00. Html)

A comercialização do Natal obscurece o significado do nascimento de Cristo. Cristo nasceu em uma manjedoura humilde para nos ensinar humildade e abnegação, não para celebrar o Seu nascimento, comendo e bebendo, comprando e vendendo.

A boa notícia da data do nascimento de Cristo, não é um feriado, com os seus presentes, festas, diversão, e árvores de Natal iluminadas – pois isso são apenas vestígios de uma cultura pagã que nada sabe do verdadeiro Deus. A boa notícia do nascimento de Cristo gira em torno de uma pessoa – um dom inefável de Deus, um Salvador que é Cristo o Senhor.


A celebração do nascimento de Cristo em algumas igrejas Adventistas
Vários crentes me pediram para comentar especificamente sobre a celebração do nascimento de Cristo em algumas igrejas adventistas. Não é incomum nossas maiores igrejas Adventistas terem um serviço religioso de véspera de Natal. Alguém me perguntou: “Você poderia me explicar por que algumas igrejas adventistas têm serviços especiais de véspera de natal, enquanto outras não?”

Francamente, eu não entendo por que algumas igrejas adventistas de hoje estão adotando a prática popular de um culto na igreja à noite em 24 de dezembro. Talvez elas não estejam cientes de que estão imitando a católica “Missa de Cristo”, comemorada à meia-noite de 24 de dezembro. Elas podem também ignorar a origem pagã da data do nascimento de Cristo, que será discutida posteriormente. Provavelmente, para estas igrejas, pode ser apenas uma questão de conformidade cultural, ou seja, o desejo de imitar os impressionantes serviços de véspera de Natal realizados em igrejas católicas e protestantes.

A celebração religiosa do Natal nas igrejas adventistas é um desenvolvimento recente. Eu cresci em Roma, na Itália, onde nunca tivemos uma árvore de Natal em nossa casa ou na igreja. Meu pai trabalhava regularmente no dia de Natal. Nossa família considerava o Natal como uma festa católica, similar ao Domingo de Páscoa, a Festa da Imaculada Conceição em 25 de março, a Festa da Assunção de Maria, em 15 de agosto, o Dia de Todos os Santos em 1 de novembro, etc

Quando cheguei aos EUA em 1960 como estudante de um seminário na Universidade Andrews, o Natal era primordialmente uma pausa de inverno. Não me lembro muito de decorações de Natal e celebrações nas igrejas que eu visitei durante os quatro anos que passei no seminário 1960-1964.

Gradualmente as coisas mudaram durante os últimos 50 anos. Isso é evidente pelas fachadas profusamente iluminadas e decoradas de muitas igrejas adventistas na época do Natal. Algumas igrejas parecem competir com a rica decoração geralmente encontrada em igrejas ortodoxas gregas.

Pessoalmente eu não fico inspirado pelas decorações elaboradas e a celebração do Natal, porque como um historiador da igreja estou ciente de sua origem pagã. Jesus nasceu numa manjedoura humilde. Não houve decorações fantasiosas para comemorar seu nascimento. Estaria mais de acordo com a definição de seu nascimento, manter as decorações simples, concebidas para ajudar as pessoas a capturarem o verdadeiro espírito do humilde nascimento de Cristo.

Era a celebração do nascimento do deus-Sol na Roma antiga, que era acompanhada por uma profusão de luzes e tochas e a decoração de árvores. Para facilitar a aceitação da fé cristã pelas massas pagãs, a Igreja de Roma considerou oportuno fazer não só o Dia do Sol a celebração semanal da ressurreição de Cristo, mas também o dia do nascimento do Deus-Sol invencível em 25 de dezembro a celebração anual do nascimento de Cristo. Este ponto será ampliado mais tarde.


Uma oportunidade de testemunho
O reconhecimento da origem pagã do Natal, com todas as suas luzes, decoração, festa e celebração, não significa que é errado dar um tempo para lembrar o nascimento de Jesus nesta época do ano. Afinal seria bom para nós nos lembrarmos a cada dia que Jesus estava disposto a deixar sua posição gloriosa, a fim de nascer na família humana como um bebê indefeso para se tornar nosso Salvador.

Nenhuma outra história aperta o coração humano como a história do amor divino manifesto na vontade de Cristo de entrar na limitação, agonia, sofrimento e morte da carne humana para se tornar “Emanuel”, Deus conosco. Refletir sobre o mistério da encarnação é um digno exercício espiritual diário, que pode ser feito também em 25 de dezembro, conhecido no mundo cristão como o “tempo do Advento”, isto é, a temporada que se comemora o Primeiro Advento do Senhor.

De certa forma o tempo do Advento oferece uma oportunidade única para os adventistas ajudarem os cristãos a compreender o sentido último do Natal, que se encontra no fato de que Jesus que veio pela primeira vez como um bebê indefeso em Belém, voltará a segunda vez como o Senhor dos senhores e o Rei dos Reis. O que isto significa é que o humilde nascimento de Jesus na família humana, é o prelúdio de Seu retorno glorioso para habitar com o Seu povo através dos séculos sem fim da eternidade. A celebração final do tempo do Advento nos aguarda na gloriosa segunda vinda do Senhor.

No lar adventista, o nascimento de Cristo pode ser celebrado lembrando-se dos necessitados em nossa igreja e comunidade. Assim como Deus nos amou, dando o seu Filho unigênito para a nossa salvação, assim podemos celebrar a doação do amor de Deus, compartilhando nossas bênçãos com os necessitados. Isto significa que em vez de perguntar: “O que eu vou ganhar de presente no Natal?” , possamos considerar: “Quem eu posso ajudar este ano?


A data do nascimento de Cristo
Surpreendentemente, não há nenhuma menção no Novo Testamento, de qualquer celebração do aniversário do nascimento de Cristo. Os relatos nos Evangelhos sobre o nascimento de Jesus são muito breves, consistindo apenas em poucos versículos encontrados apenas em Mateus 1:16-24 e Lucas 2:1-20. Em contrapartida, os relatos do que é conhecido como “A Semana da Paixão”, são mais longos, tendo vários capítulos.

De acordo com algumas estimativas, cerca de um terço de cada Evangelho é dedicado à Semana Santa. É evidente que a partir da perspectiva dos escritores do Evangelho, a morte de Cristo é mais importante para a nossa salvação do que o Seu nascimento. A razão é que através da Sua morte expiatória Cristo garantiu a nossa salvação eterna. No entanto, os cristãos de hoje tendem a celebrar mais o nascimento de Cristo do que Sua morte. Talvez a razão é que o nascimento de uma criança Libertadora capture a imaginação muito mais do que a morte de um Salvador. Nossa sociedade comemora nascimentos, não mortes.

Os primeiros cristãos comemoravam anualmente a morte e ressurreição de Cristo na Páscoa, mas não temos indícios claros de uma celebração anual do nascimento de Cristo. Uma grande controvérsia eclodiu na última parte do segundo século sobre a data da Páscoa, mas a data do nascimento de Cristo não se tornou um problema, até o século IV. Naquela época a disputa centrava-se principalmente em duas datas do nascimento de Cristo: 25 de dezembro promovido pela Igreja de Roma e 06 de janeiro, conhecido como Epifania, observado pelas igrejas orientais. “Ambos os dias”, como Oscar Cullmann destaca, “eram festas pagãs cujo significado forneceu um ponto de partida para a concepção especificamente cristã do Natal.”[1]

Muito provavelmente Cristo nasceu no final de setembro ou início de outubro

É um fato reconhecido que a adoção da data de 25 de dezembro pela Igreja Ocidental, para comemorar o nascimento de Cristo foi influenciada pela celebração pagã do retorno do sol após o solstício de inverno. Mais tarde falaremos mais sobre os fatores que influenciaram a aprovação da presente data. Nesta conjuntura, é importante notar que a data de 25 de dezembro é totalmente desprovida de sentido bíblico e é grosseiramente errada em relação ao tempo real do nascimento de Cristo.

Se, como é geralmente aceito, o ministério de Cristo começou quando ele tinha cerca de trinta anos de idade (Lucas 3:23) e durou três anos e meio, até sua morte na Páscoa (março / abril), retrocedendo, chegamos aos meses de setembro / outubro, ao invés de 25 de dezembro.[2] Indireto suporte para a datação de Setembro / Outubro como nascimento de Cristo é fornecido também pelo fato de que de novembro a fevereiro os pastores não assistiam os seus rebanhos durante a noite nos campos. Eles o traziam para uma área protegida chamada curral. Assim, 25 de dezembro é a data mais provável para o nascimento de Cristo.[3]

A data mais provável do nascimento de Cristo é a parte final de setembro ou início de outubro. Essa data corresponde ao período da Festa dos Tabernáculos. Esta festa era a última e mais importante peregrinação do ano para os judeus. As condições de superlotação no momento do nascimento de Cristo (“não havia lugar para eles na estalagem”, Lucas 2:7) pode estar relacionada não só com o censo realizado pelos romanos naquela época, mas também aos muitos peregrinos que ali se aglomeravam especialmente durante a Festa dos Tabernáculos.

Belém ficava a apenas quatro quilômetros de Jerusalém. “Os romanos”, observa Barney Kasdan, “eram conhecidos por fazerem seus censos de acordo com o costume dos territórios ocupados. Assim, no caso de Israel, eles optaram por ter o povo afluindo para as suas províncias em um momento que seria conveniente para eles. Não havia nenhuma lógica aparente em chamar o recenseamento no meio do inverno. O tempo mais lógico de tributação seria após a colheita, no outono” [4], quando as pessoas tinham em suas mãos a receita da sua colheita.

O apoio à crença de que Cristo nasceu no tempo da Festa dos Tabernáculos, que ocorre no final de setembro ou início de Outubro, é fornecido pelos temas Messiânicos da Festa dos Tabernáculos, que discutirei neste boletim de notícias e também por detalhes significativos sobre o tempo do serviço de Zacarias no Templo. Estes são analisados pelo professor Noel Goh em um artigo perspicaz que você pode acessar clicando neste link http://www.biblicalperspectives.com/anotherlook.htm


Uma Palavra Sobre o ensaio do Prof Noel Goh
Para incentivar a leitura de um “Outro olhar para a data do nascimento de Cristo,” do Prof. Noel Goh, deixe-me apresenta-lo: Ele é pastor e professor no Seminário Metodista em Singapura. A Igreja Metodista é a maior denominação cristã em Cingapura, com o maior seminário cristão nesse país. Conheci o Prof Goh a cerca de cinco anos atrás, durante minha primeira palestra em Cingapura. Ele participou das reuniões e se interessou por nossa mensagem adventista, em especial a mensagem do sábado. Ele me convidou para um almoço, a fim de ter uma conversa privada.

Durante o decorrer da conversa, ele expressou seu desejo de vir para a Andrews University por alguns dias para conhecer melhor nossa história e as crenças adventistas. Eventualmente, ele veio e passou quase um mês em nosso campus. Ele ansiosamente assistiu a todas as aulas do seminário que podiam se encaixar em sua agenda e passou longas horas na biblioteca lendo e assistindo os vídeos relacionados à nossa história adventista.

Quando voltou para casa em Cingapura, ele ajudou a organizar uma reunião com o clero local onde entregou duas palestras, uma sobre o ponto de vista holístico da natureza humana e outra sobre a mudança do sábado para o domingo no cristianismo primitivo.

O prof Goh não é adventista ainda, no entanto, ele aprecia a maioria de nossas crenças fundamentais e nosso estilo de vida. Neste ponto eu poderia descrevê-lo como um metodista sabatista. Ele é um homem brilhante e gracioso, que partilha suas convicções com seus alunos e os membros de uma forma amistosa, confessional e sem confrontações.

Você vai gostar de ler seu ensaio “Um outro olhar para a data do Nascimento de Cristo.” Ao examinar as poucas referências de tempo
encontradas no Evangelho de Lucas sobre Maria, Isabel, e o tempo do serviço de Zacarias no Templo, ele chega à conclusão irrefutável de que Cristo provavelmente nasceu em Setembro / Outubro, no tempo da Festa dos Tabernáculos. Você vai achar seu ensaio simples, mas muito esclarecedor. Você pode acessar o ensaio clicando neste link http://www.biblicalperspectives.com/anotherlook.htm

Surpreendentemente, cheguei à mesma conclusão sobre a data aproximada do nascimento de Cristo, considerando especialmente os temas Messiânicos da Festa dos Tabernáculos. Como você sabe, os principais acontecimentos da vida e ministério de Cristo estão ligados no NT a essa antiga festa de Israel.


O nascimento de Cristo no tempo da Festa dos Tabernáculos
Sendo a festa que celebrava em um sentido o tabernáculo de Deus no passado ou a habitação entre o Seu povo com a nuvem de dia e o fogo flamejante de noite durante a sua viagem à Terra Prometida, ela servia para antever o dia em que o Filho de Deus se tornaria carne e habitaria entre nós (João 1:14).

É importante lembrar que as sete festas anuais do antigo Israel foram concebidas para ilustrar eventos importantes da história da salvação. Aqueles que estão interessados em estudar com maior profundidade como as Festas de Israel revelam o desdobramento do Plano da Salvação, são incentivados a ler os meus dois volumes “Festivais de Deus na Escritura e na História”. O primeiro volume sobre as Festas da Primavera mostra como a Páscoa, Pães Ázimos, e Pentecostes, apontavam para a realização redentora do primeiro Advento, ou seja, a morte expiatória de Cristo, Sua ressurreição, ascensão, inauguração de Seu ministério celestial, e envio do Espírito Santo.

O segundo volume sobre “As Festas de Outono” explicam como a festa das Trombetas, Expiação e Tabernáculos apontam para a consumação da redenção, ou seja, o juízo, a disposição final do pecado, e o Segundo Advento quando Cristo virá para reunir o seu povo e habitará com eles em um mundo restaurado.

A primeira Vinda de Cristo habitando entre nós em carne humana, serve como um prelúdio e uma garantia da Sua segunda vinda para habitar entre os remidos na glória divina. Ambos os eventos, como veremos, são tipificados pela Festa dos Tabernáculos. A escatologia Adventista é amplamente baseada na tipologia do Dia da Expiação. Os Festivais de Outono ampliam a base tipológica da escatologia adventista mostrando a contribuição de outras duas Festas, a das Trombetas e a dos Tabernáculos para o desdobramento da consumação da redenção.

Aliás, a nossa doutrina adventista do juízo pré-advento é baseada unicamente sobre a tipologia do Dia da Expiação. O problema é que tendemos a compactar em demasia o Dia da Expiação: o início do julgamento, o processo de julgamento, a conclusão do julgamento, e a volta de Jesus.

Um estudo cuidadoso dos Festivais de Outono mostra que o processo de julgamento começava com a festa das trombetas, que anunciava o início do julgamento com o sopro do shofar em toda a terra. O julgamento terminava 10 dias depois, com a purificação do pecado do povo no Dia da Expiação. Cinco dias depois, começava a Festa dos Tabernáculos, um tempo para se alegrar nas realizações redentoras da primeira e segunda vinda. Você encontrará uma ampla discussão sobre este assunto nos Festivais de Outono.

Vale ressaltar que os eventos importantes do plano de salvação são cumpridos de forma consistente sobre os Dias Santos que os prefiguravam. Cristo morreu na cruz no momento quando o cordeiro pascal era sacrificado (João 19:14). Cristo ressuscitou no momento
da ondulação do feixe de cevada como os primeiros frutos da próxima colheita (1 Coríntios 15:23). A manifestação dos primeiros frutos do Espírito Santo de Deus teve lugar “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes” (Atos 2:1). Da mesma forma, Cristo poderia muito bem ter nascido na época da Festa dos Tabernáculos, uma vez que a festa tipifica a Primeira Vinda de Deus para habitar entre nós através da encarnação de Seu Filho e Sua Segunda Vinda para habitar com seu povo (Ap 21:3) por toda a eternidade.


Crescimento em Significado da Festa dos Tabernáculos
A Festa dos Tabernáculos no Antigo e Novo Testamento cresce em seu significado e função durante o curso da história redentora. Ela começa no Antigo Testamento como a Festa de Outono da Colheita para expressar gratidão a Deus pelas bençãos da colheita dos frutos. Tornando-se a Festa dos tabernáculos, para comemorar a maneira como Deus abrigou os israelitas com a “tenda” de Sua presença durante a peregrinação deles no deserto.

A celebração das bênçãos materiais da colheita e das bênçãos espirituais do divino abrigando-os durante a experiência do êxodo, serviu para antever as bênçãos da era messiânica, quando ”não haverá calor, nem frio, nem geada. . . nem dia nem noite será; correrão. . . águas vivas, e habitarão. . . em segurança (Zc 14:6, 7, 11). Um dos destaques da era messiânica seria o encontro anual de todas as nações sobreviventes “para celebrarem a festa dos tabernáculos” (Zc 14:16), a fim de comemorar o estabelecimento do reino universal de Deus.

A rica tipologia da Festa dos Tabernáculos encontra no Novo Testamento tanto um cumprimento cristológico como um cumprimento escatológico. Cristologicamente, a festa serve para revelar a Encarnação e a missão de Cristo. Jesus é o tabernáculo final de Deus pois nele Deus habitou entre os homens (João 1:14). Ele é a água viva (Jo 7:37-38) tipificado pela cerimônia da água da Festa dos Tabernáculos. Ele também é a Luz do mundo (João 8:12) tipificado pela iluminação noturna do templo durante a Festa. Com efeito, através de Cristo as bênçãos tipificadas pela Festa dos Tabernáculos, tornaram-se uma realidade para todo crente.

Escatologicamente, a Festa dos Tabernáculos serve para representar a proteção de Deus do seu povo através das provações e tribulações da vida presente, até eles chegarem a Terra Prometida Celestial. Lá Deus vai abrigar os remidos na tenda da Sua presença protetora (Ap 7:15) e habitará com eles por toda a eternidade (Ap 21:3). Como os antigos israelitas se alegravam diante do Senhor (Lv 23:40), na festa dos Tabernáculos, agitando ramos de palmeira, cantando, tocando instrumentos, e festejando, assim a multidão incontável dos redimidos se alegrará diante do trono de Deus, acenando com ramos de palmeira (Ap 7:9), cantando hinos de louvor (Ap 7:10; 14:3; 15:2-4; 19:1-3), tocando harpas (Ap 14:2), e participando da grande ceia de casamento do Cordeiro (Ap 19:9).


Tempo Ideal para o Nascimento de Jesus
A Festa dos Tabernáculos era o momento ideal para o nascimento de Jesus, porque ele era chamada “A estação de nossa alegria.” A ênfase na alegria da festa é encontrada nas instruções dadas em Deuteronômio 16:13-14: “A festa dos tabernáculos celebrarás sete dias, quando tiveres colhido da tua eira e do teu lagar. E, na tua festa, alegrar-te-ás, tu, e teu filho, e tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas”.

Em contraste com as Festas das Trombetas e da Expiação, que eram momentos de introspecção e arrependimento, a Festa dos Tabernáculos era um momento de regozijo. A atmosfera festiva refletia a gratidão dos israelitas por ambas as bênçãos materiais e espirituais. A razão explícita do regozijo é dada em Deuteronômio 16:15: “porque o Senhor teu Deus te há de abençoar em toda a tua colheita, e em todo o trabalho das tuas mãos; por isso certamente te alegrarás”. Não é de surpreender que os rabinos chamem a festa “A Estação da nossa alegria” (Zeman Simhatenu).

Ellen White observa que o motivo de regozijo era mais do que apenas as bênçãos da colheita. Ela escreve:

“A festa devia ser eminentemente uma ocasião para regozijo. Ocorria precisamente depois do grande dia da expiação, quando haviam obtido a certeza de que sua iniqüidade não mais seria lembrada. Em paz com Deus vinham agora diante dEle para reconhecer Sua bondade e louvá-Lo pela Sua misericórdia. Estando terminados os labores da ceifa, e ainda não iniciadas as labutas do novo ano, o povo estava livre de cuidados, e podia entregar-se às influências sagradas e jubilosas do momento.” [5]

A razão para a alegria não era apenas por causa das bênçãos materiais da colheita, reuniam-se também por causa da bênção espiritual da proteção de Deus e Sua permanente presença. A folhagem das tendas na qual os israelitas viviam por sete dias durante a Festa, lembrava-lhes que Deus irá proteger o remanescente fiel durante o tempo de angústia, abrigando-os com a nuvem de dia e com o fogo flamejante de noite: “E haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia; e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva” (Isaías 4:6). Neste contexto, a nuvem e o fogo da presença de Deus funcionam como uma tenda de proteção sobre o Seu povo.

Sendo a época de alegria pelas bênçãos da colheita e presença protetora de Deus, a Festa dos Tabernáculos era o cenário ideal para o nascimento de Jesus – Aquele que veio para o bem do povo em pessoa. Os temas de alegria relacionam-se perfeitamente com a terminologia utilizada pelo anjo para anunciar o nascimento de Cristo: “Não temais, porquanto vos trago novas de grande alegria que o será para todo o povo” (Lucas 2:10). Como “a época da nossa alegria”, a Festa dos Tabernáculos provia as configurações ideais para as “novas de grande alegria” para todo o povo, pois a festa também era uma festa para todas as nações (Zacarias 14:16).

Uma final e interessante peculiaridade que apoia a possibilidade de que Cristo nasceu no mesmo tempo da Festa dos Tabernáculos, é a referência aos sábios que vieram do Oriente para visitar Cristo (Mateus 2:1). As terras do Oriente eram provavelmente a Babilônia, onde muitos judeus ainda viviam na época do nascimento de Cristo. Somente um remanescente dos judeus retornou do exílio babilônico para a Palestina durante o período persa. Os sábios, muito provavelmente, eram rabinos conhecidos em hebraico como chakamin, que significa homens sábios.

Somos informados de que os sábios fizeram a sua viagem do Oriente para Belém porque tinham visto a “estrela do Oriente” (Mt 2:1). A observação das estrelas estava associada especialmente com a Festa dos Tabernáculos. Na verdade, o teto das tendas eram construídos com ramos frondosos cuidadosamente espaçados para que pudessem filtrar a luz do sol sem obstruir a visibilidade das estrelas. As pessoas observavam as estrelas à noite, durante a festa por causa da profecia “uma estrela procederá de Jacó” (Nm 24:17). É possível que foi durante a Festa dos Tabernáculos, uma época especial de observar as estrelas, que os magos avistaram a estrela messiânica e “regozijaram-se com grande alegria.” (Mt 2:10).

À luz das considerações precedentes, o nascimento de Cristo provavelmente coincidiu com a Festa dos Tabernáculos. Sendo a festa de agradecimento pela boa vontade de Deus em proteger o Seu povo com a tenda da Sua presença durante a peregrinação no deserto, ela poderia servir dignamente para celebrar a vontade de Cristo de se tornar um ser humano e lançar a sua tenda entre nós para se tornar nosso Salvador.

As implicações desta conclusão são auto-evidentes. A Festa dos Tabernáculos no final de Setembro / Outubro fornece aos cristãos de hoje uma datação bíblica mais exata e tipológica para comemorar o nascimento de Cristo, do que a datação pagã de 25 de dezembro. A última data não só remove o tempo real do nascimento de Cristo, como também é derivada da celebração pagã do retorno do sol após o solstício de inverno. Por que celebrar o nascimento de Jesus, numa data errada 25 de dezembro – uma data pagã derivada da adoração do sol, quando a Bíblia nos proporciona um período mais adequado e tipológico para comemorar um evento tão importante?

Ellen White incentiva a celebração da Festa dos Tabernáculos. Ela escreve: “Bom seria para o povo de Deus no tempo presente ter uma Festa dos Tabernáculos, uma jubilosa comemoração das bênçãos de Deus para eles. Como os filhos de Israel celebravam a libertação que Deus operara para seus pais, e Sua miraculosa preservação dos mesmos durante a sua jornada do Egito, assim deveríamos gratamente chamar a atenção para os vários meios que Ele planejou para nos trazer para fora do mundo e das trevas do erro, para a luz preciosa da Sua graça e verdade” [6].


Alguns suportes históricos para o nascimento de Cristo na Festa dos Tabernáculos
A ligação entre o nascimento de Cristo e a Festa dos Tabernáculos proposta acima, pode parecer à primeira vista surpreendente, mas tem sido proposta, não só por autores modernos [7], mas também pelos primeiros pais da Igreja. Em seu clássico estudo “a Bíblia e Liturgia”, Jean Daniélou discute a ligação entre a Festa dos Tabernáculos e a Natividade nos escritos de alguns pais da Igreja [8].Ele observa, por exemplo, que em seu sermão sobre a Natividade, Gregório de Nazianzo (329-389 dC) conecta a Festa da Natividade de 25 de dezembro com a Festa do Tabernáculo: “O tema da festa de hoje (25 de dezembro) é a verdadeira festa dos Tabernáculos. Com efeito, nesta festa, o tabernáculo humano foi construído por Ele que se colocou sobre a natureza humana por causa de nós. Nossos tabernáculos, que foram abatidos pela morte, são levantados novamente por Ele, que construiu a nossa habitação desde o início. Portanto, harmonizando as nossas vozes com a de Davi, vamos também cantar o Salmo: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor‘ [Sl 118:26. Este verso foi cantado durante o cortejo da Festa dos Tabernáculos]” [9].

Para Gregório a Festa dos Tabernáculos encontra a sua plenitude na Encarnação. Comentando este texto, Daniélou escreve: “A vinda de Cristo, Seu nascimento, é assim vista, como a inauguração da verdadeira festa dos Tabernáculos. Aqui surge uma nova harmonia:
o scenai [grego para "tenda"], a habitação humana, no início, têm sido atingida pelo pecado…Cristo vem para levantá-la, para restaurar a natureza humana, para inaugurar a verdadeira festa dos Tabernáculos prefigurada na liturgia judaica. E o início desta Scenopegia [Festa dos Tabernáculos] é a própria Encarnação, na qual, segundo São João, Cristo edificou as tendas do seu próprio corpo (João 1:14). Isto faz realmente parecer como se fosse esse termo de São João que faz a ligação entre a festa do scenai [Tabernáculos] e a festa do nascimento de Cristo”[10]. Daniélou considera que os vestígios da conexão patrística entre a Festa dos Tabernáculos e a Natividade ainda sobrevivem no uso corrente dos versículos messiânicos 23, 28, 29 do Salmo 118, durante “o gradual da segunda missa de Natal” comemorada nas Igrejas Católicas. Ele conclui: “É de fato no nascimento de Cristo que o tabernáculo escatológico foi construído pela primeira vez, quando o Verbo “estabeleceu sua morada entre nós” e a unidade dos homens e dos anjos foi restaurada quando os anjos visitaram os pastores”[11].

Infelizmente, a ligação entre o nascimento de Cristo e a Festa dos Tabernáculos foi gradualmente perdida já que a simbologia pagã do sol deslocou a tipologia bíblica da Festa dos Tabernáculos. A tentativa dos pais para se conectar a Festa dos Tabernáculos com o Natal não foi bem sucedida porque as duas festas eram diferentes em origem, significado e autoridade. Ao adotar a data de 25 de dezembro, que era a festa pagã do nascimento do Sol Invencível (dies natalis Solis Invicti), [12] o sentido cristológico da Festa dos Tabernáculos foi gradualmente perdido – como indicado pelo fato de que hoje ninguém pensa no Natal como sendo o cumprimento antitípico da Festa dos Tabernáculos, quando Cristo se fez carne e habitou entre nós, a fim de realizar o Seu plano redentor, para habitar conosco por toda a eternidade no mundo vindouro.


A origem pagã da data do Natal
A adoção do 25 de dezembro para a celebração do Natal é talvez o exemplo mais explícito da influência do culto do Sol sobre o calendário litúrgico cristão. É um fato conhecido que a festa pagã do dies natalis Solis Invictus, o nascimento do Sol Invencível, era realizada nessa data.[13] Fontes cristãs admitem abertamente o empréstimo da data de tal festa pagã? Geralmente não. Admitir um empréstimo de um festival pagão, mesmo após a devida reinterpretação do seu sentido, equivaleria a uma traição aberta à fé. Isto os Pais estavam ansiosos por evitar.

Uma exceção é o comentário de um desconhecido escritor sírio que escreveu na margem do Expositio in Evangelia de Barsalibaeus como segue: “Era um rito solene entre os pagãos celebrar a festa do nascimento do sol neste dia, 25 de dezembro. Além disso, para aumentar a solenidade do dia, eles estavam acostumados a acender fogos, para que os ritos que estavam acostumados convidassem e admitissem mesmo pessoas cristãs. Quando portanto, Os professores observaram que os cristãos estavam inclinados a esse costume, eles inventaram um conselho e criaram neste dia, a “festa do nascimento verdadeiro”[14]

A comemoração do nascimento do deus Sol, não foi facilmente esquecida pelos cristãos. Agostinho e Leão Magno fortemente repreenderam aqueles cristãos que no Natal adoravam o Sol e não o nascimento de Cristo.[15] Portanto, é bom ter em mente que na investigação da influência do culto do Sol na liturgia cristã, o máximo que podemos esperar encontrar não são indicações diretas, mas indiretas. Esta advertência não se aplica apenas para a data do Natal, mas para o domingo também.

Em sua dissertação O culto do Sol Invictus, Gaston H. Halsberghe similarmente conclui: “Os autores que consultamos sobre este ponto são unânimes em admitir a influência da celebração pagã, realizada em honra do Deus Sol Invictus no dia 25 de dezembro, o Natalis Invicti, na celebração cristã do Natal. Essa influência é considerada responsável para o deslocamento do nascimento de Cristo para 25 de dezembro, o qual tinha até então sido realizado no dia da Epifania, a 6 de janeiro. A celebração do nascimento do deus Sol, que era acompanhada por uma profusão de luzes e tochas e decoração de ramos e árvores pequenas, tinha cativado os seguidores do culto a tal ponto que mesmo depois de terem sido convertidos ao cristianismo, continuaram a celebrar a festa do nascimento do deus Sol”[16].


Roma e a Origem do Domingo, Domingo de Páscoa e Natal
Notemos que a Igreja de Roma foi pioneira não só na observância do domingo e, domingo de Páscoa, mas também da nova data de 25 de dezembro para a celebração do nascimento de Cristo. Na verdade, a primeira indicação explícita de que no dia 25 de dezembro os cristãos comemoraram o aniversário de Cristo, é encontrada em um documento romano conhecido como Cronógrafo de 354 (um calendário atribuído a Dionísio Fuzious Philocalus), onde ele diz: “No oitavo das calendas de janeiro [isto é, 25 de dezembro] Jesus nasceu em Belém da Judéia” [17].

Que a Igreja de Roma introduziu e defendeu esta nova data, é aceito pela maioria dos estudiosos. Por exemplo, Mario Righetti, um renomado liturgista católico que é o autor de um conjunto de quatro volumes chamados Storia Liturgica – A História da Liturgia, escreve: “Depois da paz a Igreja de Roma, para facilitar a aceitação da fé pelas massas pagãs, achou conveniente instituir o 25 de dezembro como a festa do nascimento temporal de Cristo, para desviá-los da festa pagã, celebrada no mesmo dia em honra do “Sol Invencível” Mitras, o conquistador das trevas”[18].

No Oriente, no entanto, o nascimento e batismo de Jesus eram comemorados, respectivamente, em 05 e 06 de janeiro. Botte, um estudioso belga beneditino, em um importante estudo concluiu que essa data também evoluiu de uma festa originalmente pagã, conhecida como Epifania, que comemorava o nascimento e crescimento da luz.[19]. Não foi uma tarefa fácil para a Igreja de Roma fazer as igrejas orientais aceitarem a nova data de 25 de dezembro, já que muitas delas “Firmemente aderiram à prática de observar a festa do nascimento de Cristo em sua forma antiga como uma festa da Epifania em 05, 06 de Janeiro” [20].

Estaria além do nosso alcance imediato rastrear o processo de adoção por várias comunidades cristãs da data romana do Natal de 25 de dezembro. Será suficiente notar que a adoção da data de 25 de dezembro para a celebração do nascimento de Cristo não só mostra a influência do culto do Sol, como também o primado exercido pela Igreja de Roma, em promover a adoção dos feriados pagãos do Dies Solis ( Dia do Sol) e Natalis Solis Invicti (aniversário do Sol Invencível), realizado em 25 de dezembro. O fato de que tanto o Natal (Christ + Mass = Missa de Cristo) como o domingo (Dies Solis) os quais eram dias santos pagãos adotados e promovidos pela igreja católica, deveria motivar a reflexão dos adventistas sobre a legitimidade da sua observância.


Conclusão
O nascimento de Jesus é de importância inigualável para a fé cristã. Sem o nascimento de Cristo não haveria batismo, morte, ressurreição, ascensão, efusão do Espírito Santo, a intercessão de Cristo no santuário celestial, e o Segundo Advento.

A data de nascimento mais provável de Cristo coincidiu com a Festa dos Tabernáculos, que cai no final de setembro ou início de outubro. Sendo a festa de agradecimento pela boa vontade de Deus em proteger o Seu povo com a tenda da Sua presença durante a peregrinação no deserto, ela poderia servir dignamente para celebrar a vontade de Cristo de se tornar um ser humano e lançar a sua tenda entre nós para se tornar nosso Salvador.

A Festa dos Tabernáculos fornece aos cristãos um calendário bíblico mais exato e tipológico para comemorar o nascimento de Cristo, do que a data pagã de 25 de dezembro. A última data não só remove o tempo real do nascimento de Cristo, como também é derivada da celebração pagã do retorno do sol após o solstício de inverno. Por que comemorar o nascimento de Cristo na época errada do ano por causa de uma tradição pagã, quando podemos observá-lo na época certa, com base em sólidas razões bíblicas?

De uma perspectiva bíblica o nascimento de Jesus está relacionado com três temas principais: (1) adoração e culto (Lucas 2:8-12), (2); a doação de presentes a Deus (Mateus 2:1-11), e a proclamação da paz e boa vontade (Lc 2:13-14). Que a nossa celebração do nascimento de Cristo, em qualquer época do ano, incorpore estes elementos essenciais: adoração, doação, e louvor.


Referências

1. Oscar Cullmann, The Early Church (1956), p. 35.
2. See A. T. Robertson, A Harmony of the Gospels (New York, 1992), p. 267.
3. See, Adam Clark, Commentary on the Gospel of Luke (New York, 1956), vol. 5, p. 370.
4. Barney Kasdan, God’s Appointed Times (Baltimore, MD, 1993), p. 97.
5. Ellen White, Patriarchs and Prophets, p. 540.
6. See, for example, Edward Chumney, The Seven Festivals of the Messiah (Shippensburg, PA, 1994), pp. 178-184; Barney Kasdan, God’s Appointed Times (Baltimore, MD, 1993), pp. 95-99.
7. Ellen White, Patriarchs and Prophets, pp. 540-541.
8. Jean Daniélou, The Bible and Liturgy (South Bend, IN, 1956), pp. 343-347.
9. Gregory of Nazianzus, Sermon on the Nativity, Patrologia Graeca 46, 1129 B-C, translated by Jean Daniélou (note 7), p. 345.
10 Jean Daniélou (note 8), p. 345.
11. Jean Daniélou (note 8), p. 347.
12. For a study of the influence of sun-worship on the Christian adoption of December 25 for the celebration of Christ’s birth, see my dissertation, From Sabbath to Sunday. A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity (Rome, Italy, 1977), pp. 256-261.
13. In the Philocalian calendar (A.D. 354) the 25th of December is designated as “N[atalis] Invicti—The birthday of the invincible one” (CIL I, part 2, p. 236); Julian the Apostate, a nephew of Constantine and a devotee of Mithra, says regarding this pagan festival: “Before the beginning of the year, at the end of the month which is called after Saturn [December], we celebrate in honor of Helios [the Sun] the most splendid games, and we dedicate the festival to the Invincible Sun. That festival may the ruling gods grant me to praise and to celebrate with sacrifice! And above all the others may Helios [the Sun] himself, the king of all, grant me this” (Julian, The Orations of Julian, Hymn to King Helios 155, LCL p. 429); Franz Cumont, Astrology and Religion Among Greeks and Romans, 1960, p. 89: “A very general observance required that on the 25th of December the birth of the ‘new Sun’ should be celebrated, when after the winter solstice the days began to lengthen and the ‘invincible’ star triumphed again over darkness”; for texts on the Mithraic celebration of Dec. 25th see CIL I, p. 140; Gordon J. Laing, Survivals of Roman Religion, 1931, pp. 58-65, argues persuasively that many of the customs of the ancient Roman Saturnalia (Dec. 17-23) were transferred to the Christmas season.
14. J. S. Assemanus, Bibliotheca orientalis 2, 164, trans. by P. Cotton, From Sabbath to Sunday, 1933, pp. 144-145.
15. Augustine, Sermo in Nativitate Domini 7, PL 38, 1007 and 1032, enjoins Christians to worship at Christmas not the sun but its Creator; Leo the Great rebukes those Christians who at Christmas celebrated the birth of the sun rather than that of Christ (Sermon 27, In Nativitate Domini, PL 54, 218).
16. Gaston H. Halsberghe, The Cult of Sol Invictus, 1972, p. 174.
17. T. Mommsen, Chronography of Philocalus of the Year 354, 1850, p. 631; L. Duchesne, Bulletin critique, 1890, p. 41, has established that the calendar goes back to 336, because the Depositio martyrum is preceded in the Philocalian by the Depositium episcoporum of Rome, which lists Sylvester (d. A.D. 335) as the last pope.
18. Mario Righetti, Manuale di Storia Liturgica, 1955, II, p. 67.
19. B. Botte, “Les Denominations du dimanche dans la tradition chrétienne,” Le Dimanche, Lex Orandi 39, 1965, pp. 14ff.
20. Oscar Cullmann, The Early Church, 1956, p.32.

Texto de autoria de Samuele Bacchiocchi, publicado no site Biblical Perspectives. Crédito da Tradução: Blog Sétimo Dia http://setimodia.wordpress.com/

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