Sábado
Enquanto o Sol no Ocidente tingia e dourava o Céu, o resplendor de sua glória iluminava o puro e alvo mármore das paredes do templo, pondo-lhe cintilações nas áureas colunas. Do alto do monte
onde Jesus parou com Seus seguidores, apresentava ele a aparência de maciça estrutura de neve, marchetado de
capitéis de ouro. À entrada do templo achava-se uma
videira de ouro e prata, com verdes folhagens e maciços cachos de uvas, executados pelos mais hábeis artistas. Esse desenho representava Israel como
uma próspera vinha. O ouro, a prata e verde vivo eram
combinados com raro gosto e consumada maestria; enlaçando graciosamente os alvos e luzentes pilares,
agarrando-se com as brilhantes gavinhas a seus dourados ornamentos, refletia o
esplendor do Sol poente, resplandecendo como se o Céu lhe houvera emprestado a sua glória.
Jesus contempla a cena, e a multidão silencia suas aclamações, encantada
com a súbita visão de beleza. Todos os olhos se
volvem para o Salvador, esperando ver-Lhe no semblante a admiração por eles próprios experimentada. Ao contrário, no entanto, percebem-Lhe uma nuvem de tristeza.
Surpreendem-se, decepcionam-se ao ver-Lhe os olhos marejados de lágrimas e o corpo a oscilar como a árvore agitada pela tempestade, enquanto uma angustiosa
queixa Lhe brota dos trêmulos lábios, como irrompendo das profundezas de um coração partido. Que cena aquela que se oferecia à contemplação dos anjos! Seu bem-amado
Comandante em lágrimas de angústia! Que visão para a alegre turba que, com
gritos de triunfo e agitar de palmas O escoltava à gloriosa
cidade, onde – esperavam com ardor – iria Ele em breve reinar! Jesus chorara ao pé do sepulcro de Lázaro, mas fora numa divina mágoa de simpatia para com a humana dor. Esta súbita tristeza, porém, era qual
nota de lamento em meio de um grande coro triunfal. Por entre uma cena de
regozijo, em que todos Lhe tributavam homenagens, o Rei de Israel Se debulhava
em lágrimas; não as silenciosas lágrimas da alegria, mas pranto e gemidos de inexprimível angústia. A turba sentiu-se
repentinamente tomada de tristeza. Emudeceram-lhes as aclamações. Muitos choraram, possuídos de simpatia por um pesar que não podiam compreender. [...]
Foi a vista de Jerusalém que pungiu o
coração de Jesus – Jerusalém, que havia rejeitado o Filho de Deus e Lhe
desdenhara o amor, que recusara ser convencida por Seus poderosos milagres e
estava prestes a tirar-Lhe a vida. Viu o que ela era, em sua culpa de rejeitar
o Redentor, e o que poderia ter sido caso O houvesse aceitado a Ele, o único a poder-lhe curar a ferida. Viera para salvá-la; como poderia a ela renunciar? (O Desejado de Todas as Nações, p. 575,
576).
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