sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Afinal, quem é Jesus Cristo?

Uma resposta aos Antitrinitarianos


Em parte, posso dizer que devo minha conversão a um colega de classe testemunha de Jeová. Quando fazia o curso de química no ensino médio, lá em Criciúma, SC, num intervalo entre as aulas, no ano de 1991, entrei num debate com esse amigo que tentava me provar que Jesus havia sido criado por Deus, sendo, portanto, um deus – assim, com letra minúscula. Apesar de ser católico praticante, na época, eu não conhecia o suficiente da Bíblia para provar para aquele colega que ele estava equivocado. No entanto, a própria lógica me dizia isso. Argumentei que eu jamais aceitaria o amor de um Deus que, em lugar de morrer por Suas criaturas caídas, criasse um deus substituto para vir aqui morrer pelos pecadores. Isso não faz sentido. Isso não é amor. Cria e creio em um Deus que “tabernaculou” com os seres humanos. Fez aqui Sua morada, o “Deus conosco”, encarnado para mostrar Sua identificação completa com a humanidade que Ele criou e redimiu. O meu Deus veio até aqui e morreu por mim! Não enviou outro para fazer isso. Exatamente como eu faria, caso um de meus filhos estivesse em perigo. Eu não mandaria outro em meu lugar e ficaria assistindo sentado.


Enquanto conversávamos, outro colega de classe se aproximou e começou a participar da conversa. Ele conhecia bem a Bíblia e usou diversos textos para apoiar “meu” ponto de vista. Isso me deixou muito feliz! Depois de algum tempo, a testemunha de Jeová pediu licença e se afastou de nós. O Vanderlei e eu continuamos conversando por mais algum tempo e eu acabei descobrindo que ele era adventista do sétimo dia. Nos tornamos amigos e passamos a estudar a Bíblia juntos, por vários meses. O desfecho dessa história você pode ver neste vídeo e nesta entrevista. Mas permanece minha gratidão ao colega testemunha de Jeová. Ele foi uma peça-chave para que eu conhecesse a verdade bíblica.

Então, vamos falar um pouco mais sobre esse Jesus divino-humano que me cativou e a quem sigo do fundo do meu coração. Seria bom você ter uma Bíblia à mão para conferir os textos que serão citados.

O evangelho de João foi escrito em uma época em que a igreja cristã estava começando a ter problemas com heresias. O Docetismo negava a humanidade de Cristo. Os Ebionitas diziam que Jesus era um grande profeta, um homem extraordinário. O Monarquianismo sustentava que Jesus era simplesmente um homem que recebeu poder do Pai por ocasião do batismo. O Arianismo negava a divindade de Cristo e do Espírito Santo. O Monofisismo defendia uma só natureza. João escreve seu evangelho e suas epístolas nesse contexto, para exaltar a legítima divindade e eternidade de Cristo.

Em João 8:24, Jesus diz: “Por isso, Eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que Eu Sou, morrereis nos vossos pecados.” O texto claramente demonstra a importância fundamental de se crer na divindade de Jesus, além da Sua humanidade. “Eu Sou” é a expressão utilizada para o Deus Eterno no Antigo Testamento. O texto não está dizendo que Jesus é o Pai, mas que é divino e eterno tanto quanto o Pai. O grego “ego eimi” na Septuaginta vem do hebraico “ani hu”, usado em Deuteronômio 32:39: “Vede, agora, que Eu Sou, eu somente, e mais nenhum deus além de mim.”
 
Em Isaías 43:10 lemos: “Vos sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor, o Meu servo a quem escolhi para que o saibais, e Me creiais, e entendais que Sou Eu mesmo, e que antes de Mim deus nenhum se formou, e depois de Mim nenhum haverá.”

Esses textos são muito claros. Jesus não é um deus com d minúsculo, pois no texto fica evidente que nem antes nem depois deus algum surgiu. Deuteronômio 32:39 diz que não existe nenhum outro deus além do verdadeiro e único Deus. Jesus não é uma divindade menor que o Pai. Mas um ser, uma pessoa divina igual ao Pai.

“Vós sois as Minhas testemunhas, o Meu servo a quem escolhi.” Portanto, esse verso não se aplica a quem não reconhece Jesus como o Eu Sou. “Morrereis em vossos pecados”, diz a Bíblia Sagrada. O texto é claro. A salvação só seria possível se alguém fizesse a ligação entre o céu e a humanidade, unidos em uma pessoa, Jesus. Isso, para o judeu, é difícil de entender. Deuteronômio 6:4 diz: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, é o único Senhor.” Um texto que aparentemente mostra a unicidade Divina. O único Senhor. Só que esse “único” aqui, no hebraico, é echad, uma unidade composta. Echad aparece inicialmente no relato da criação: “Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (Gênesis 1:5). Tarde e manhã formam um único dia. Depois, em Gênesis 2:24: “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une a sua mulher, tornando-se os dois uma [echad] só carne.” Duas pessoas distintas formando uma echad, uma só carne.
 
“Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único [echad] Senhor.” Moisés, inspirado por Deus, usou echad. Uma unidade composta, e não uma palavra que representasse uma unidade absoluta. Se Deus desejasse ser retratado como uma unidade absoluta, Moisés teria utilizado yachid, como aparece em Gênesis 22:2, referindo-se a Isaque. Moisés, inspirado por Deus, usou a palavra que melhor poderia retratar a Divindade. Uma divindade formada por mais de um ser pessoal. Uma unidade em natureza, propósito e cooperação, não uma unidade de um único ser.
 
Gênesis 1:1 diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra.” Nesse verso Deus (Elohim) aparece no plural. O singular é Eloah. O plural é Elohim.

Gênesis 1:26: Façamos o homem à nossa imagem e à nossa semelhança.”
 
Gênesis 3:22: “Se tornou como um de nós...”
 
Moisés poderia ter usado Yhwh ou Eloah, em Gênesis 1:1, mas não usou. E sabe por que não? Porque ele escreveu inspirado por Deus.
 
Salomão, também inspirado por Deus, escreveu em Eclesiastes 12:1: “Lembra-te dos teus Criadores [Bore ka] nos dias da tua mocidade.” Por que será que Deus inspirou Salomão a escrever “teus Criadores”? Para que no futuro, quando aparecesse o Messias dizendo que também era e é o “Eu Sou”, começasse a abrir a mente das pessoas para essa nova compreensão.

Em João 8:24, 28 Jesus disse três vezes “Eu Sou”. Em João 8:54, Jesus Se apresenta como o “Eu Sou”, o Eterno. Isso porque a pergunta dos judeus tinha a ver com a idade de Jesus, e Ele respondeu à pergunta dizendo: “Eu Sou”, “Eu sempre existi”, “Sou o Eterno”. E essa resposta de Jesus, apontando para a Sua eternidade, deixou os judeus furiosos. Se a resposta de Jesus não retratasse Sua divindade eterna, os judeus não iriam querer matá-Lo. Para a mente dos judeus, que nem pronunciavam o nome de Deus, Jesus dizer que era o Eterno foi demais. Se Jesus só tivesse dito que já existia antes de Abraão, os judeus iriam morrer – morrer de rir. Mas não, Jesus respondeu à pergunta deles Se apresentando como o Eterno, o Eu Sou. Cinquenta anos, quinhentos anos, cinco mil anos não são nada para o Eterno.
 

Tem que se fazer uma tradução muito “criativa” para ofuscar a divindade de Jesus Cristo. Por isso as testemunhas de Jeová têm que ter uma Bíblia só para elas (clique aqui e leia sobre a Tradução do Novo Mundo). Além do malabarismo criativo, há as inverdades incluídas nas explicações dos textos. Mesmo que alguma testemunha de Jeová entendida em grego diga que a Septuaginta em Êxodo 3:14 é diferente de João 8:58, é simples: isso não é verdade. Trata-se de má-fé. Se não for entendida em grego, trata-se apenas de ignorância. Menos mal.
 
Na Septuaginta, a expressão “Eu Sou”, de Êxodo 3:14, está traduzida para “Ego Eimi”, exatamente a mesma expressão usada em João 8:58, provando de maneira insofismável a divindade de Cristo. (Clique aqui e confira Êxodo 3:14 na Septuaginta online.)

Veja só: o que é dito ser o argumento mais forte contra o Eu Sou é, na verdade, uma mentira. Resumindo, os dois argumentos contra o Eu Sou são muito fracos, e, como eu já disse neste vídeo, atendem ao interesse de Lúcifer de rebaixar Jesus. O primeiro argumento é uma mentira, o segundo é só falta de percepção. Jesus é o grande Eu Sou. Está, sim, na Septuaginta; e Jesus retratou Sua existência eterna quando Lhe perguntaram se conhecia Abraão.
 
As testemunhas de Jeová ainda afirmam que a frase “Eu Sou”, de João 8:58, pode ser empregada no chamado “presente histórico”. Embora exista o “presente histórico”, aplicá-lo a essa passagem é um verdadeiro absurdo, pois a gramática nos ensina que seu uso é para relatar fatos passados, como se fossem presentes, para tornar mais vívida a narração.

Mas a prova final de que Jesus Se declarou o Deus Eterno é que os judeus tomaram pedras para apedrejá-Lo. As leis judaicas permitiam o apedrejamento apenas em cinco casos: espíritos adivinhadores (Lv 20:27); blasfêmia (Lv 24:27); filhos obstinados (Dt 21:18-21); falsos profetas que levavam o povo à idolatria (Dt 13:5-10); adultério e estupro (Dt 22:21-24; Lv 20:10).
 
Cristo emprega o Eu Sou porque denota uma existência contínua, que o tempo não pode medir. Por esse motivo a expressão pareceu blasfêmia aos judeus.
 
Ainda em João 5:58, lemos: “Antes que Abraão tivesse nascido [genesthai], Eu Sou [Ego Eimi].” Para Abraão foi utilizado genesthai, que indica nascimento, geração. Para Jesus foi utilizado eimi, que significa “ser existente”. Se Jesus tivesse sido em algum momento no passado gerado por Deus, deveria ser utilizado o termo genesthai, jamais eimi, “ser existente”. O grego jamais admitiria o uso de “Eu tenho sido”. Fazer isso é uma violência ao texto bíblico. A única tradução possível é “Eu Sou”. A Tradução do Novo Mundo violenta as Escrituras Sagradas na tentativa de depreciar Jesus. Ele mesmo disse ser o EU SOU.
 
O mesmo termo “Eu Sou”, utilizado para Jeová no Antigo Testamento, se aplica a Jesus no Novo Testamento. Segue-se que Jeová e Jesus são “um” em substância, poder e eternidade.
 
Em João 1:18, lemos: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” Se ninguém viu a Deus, e as pessoas viram Jesus, então Jesus não é Deus? Será que é isso mesmo? João 1:18 apresenta o clímax do prólogo do livro de João. O verbo que é Deus Se fez carne para habitar conosco. A encarnação é retratada em João 1:14 e explica o verso 18. A encarnação cobriu a divindade de Cristo, permitindo que Ele pudesse ser visto pelas pessoas sem que elas morressem. Dessa forma, Jesus revelou a divindade sem que os que O viram tivessem que morrer.
 
A encarnação, portando, tem muito a ver com a divindade. A encarnação é o Verbo Se fazendo carne para podermos vê-Lo sem ser destruídos. É o se esvaziar do esplendor da divindade ao assumir a humanidade. É o revestir a divindade com a humanidade. É Se humilhar ao cobrir Sua divindade com a humanidade.
 
Quando João escreve sua primeira epístola, no capítulo 4, a Divindade encarnada é o contexto do que ele está falando. Veja 1 João 4:1. Devemos provar os espíritos porque existem muitos falsos profetas. Como identificar os falsos profetas? Os versos 2 e 3 respondem: se essa pessoa não reconhecer a encarnação de Jesus, é um falso profeta. Jesus, sendo Deus, Se fez carne para que pudesse revelar a Divindade para a humanidade. Por isso os falsos profetas não aceitam a encarnação de Jesus. Não aceitam que uma das pessoas da Divindade Se humilhou, Se esvaziou ao assumiu a humanidade.
  
1 João 4 complementa esse assunto da encarnação, dizendo: “Deus é amor” (v. 8). Essas palavras – “Deus é amor” – não possuem significado real a menos que Deus seja pelo menos a união de duas pessoas. Amor é algo que uma pessoa tem por outra pessoa. Se Deus fosse uma pessoa singular, então, antes que o Universo e os anjos fossem criados, Ele não teria sido amor. Pois se o amor é a própria essência da natureza de Deus, Ele precisa haver amado sempre, e, sendo eterno, deve ter possuído um eterno objeto de amor. Alguém para amar. Além disso, o perfeito amor somente é possível entre iguais. Adão, na criação, num ambiente perfeito, só se tornou completamente feliz quando foi criada uma pessoa igual para ele poder amar. Nós somos assim, porque somos a imagem e semelhança de Deus. Deus é amor. Sempre foi amor. Por toda a eternidade. E exatamente por isso decidiu vir aqui em pessoa, na pessoa do divino Jesus, para morrer por nós, como tentei provar para meu amigo testemunha, lá nos anos 1990.

João, inspirado por Deus, não perdeu as oportunidades de salientar a divindade de Cristo. Em João 20:28, apresenta Tomé reconhecendo a divindade de Cristo. As testemunhas de Jeová acabaram, por assim dizer, inventando um panteão de deuses verdadeiros ao afirmar que Jeová é o Deus eterno e Jesus, um deus também verdadeiro, mas inferior. Tipo na mitologia grega e em tantas outras. Mas não existe nenhum Deus (maiúsculo) ou deus (minúsculo) além do verdadeiro (Isaías 45:21-23; 37:16-20; 44:6-8).
  
Em João 20:28, Tomé chama Jesus de Senhor meu e Deus meu. E aqui há o artigo antes de Deus, indo contra a interpretação jeovista que procura desmerecer outros textos que não têm o artigo. Só que aqui tem. Refere-se a Deus mesmo. E Jesus é esse Deus que Tomé reconheceu. Jesus repreendeu Tomé? Não, não repreendeu. Jesus confirmou o que ele falou, ao dizer: “Porque Me viste, creste?” “Você acreditou que Eu sou o Senhor e que sou Deus por que você Me viu? Bem-aventurado quem não viu, mas creu.”
   
Uma vez uma testemunha disse que Tomé tinha ficado tão surpreso, que disse: “Meu Deus!” Quando se tenta forçar o texto bíblico para se harmonizar com crenças particulares, dá nisso. Chega a ser uma afirmação absurda. Imagine se um judeu iria tomar o nome de Deus em vão. Sem contar que Jesus o repreenderia naquele exato momento. Mas isso não aconteceu. Vamos analisar o texto.
   
A expressão de Tomé: “Ho theos moy” só pode ser traduzida por “Deus meu”. Aqui o artigo definido ho aparece junto de Kyrios (Senhor) e de Theos (Deus). O próprio Diaglótico Enfático traduz como “o Deus de mim” ou “meu Deus”. E é Deus maiúsculo, o eterno, referindo-se a Jesus. E Jesus não contestou, não repreendeu, mas concordou com Tomé. Você creu porque viu. Tomé agora estava pronto para servir Jesus como Senhor e adorá-Lo como Deus, o Eterno.
   
Outro ponto importante a destacar é a sintaxe da conjunção aditiva kai = e. “Senhor meu e [kai] Deus meu.” Para explicar kai vamos para outro texto: Tito 2:13. Esse verso, obviamente, é adulterado na Tradução do Novo Mundo. Mas vejamos o que o texto diz na Bíblia Sagrada: “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do grande Deus e Salvador Cristo Jesus.” “Grande Deus e nosso Salvador Cristo Jesus.” Essa é a forma correta de traduzir esse texto. A Tradução do Novo Mundo traz equivocadamente assim: “...do grande Deus e de nosso salvador, Cristo Jesus.” Será que as regras gramaticais permitem essa tradução? Vejamos.
    
As excelentes gramáticas gregas de Moulton, Blass e Robertson são unanimes ao afirmar que Tito 2:13 apresenta referência a apenas uma pessoa e, portanto, só pode ser traduzido desta forma: “Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo.”

Dana e Mantey, em sua gramática do grego do Novo Testamento, na página 147, apresentam a seguinte regra de Granville Sharp, sobre a sintaxe do artigo: “Quando a partícula copulativa kai está unida a dois nomes do mesmo gênero, se o artigo preceder o primeiro dos ditos nomes ou particípios, e não estiver repetido antes do segundo nome ou particípio, o último sempre se refere à mesma pessoa expressa ou descrita pelo primeiro nome ou particípio, isto é, denota uma mais ampla descrição da primeira pessoa citada.”

Isso tudo quer dizer: quando a conjunção aditiva kai (e) ligar dois nomes do mesmo caso, se o artigo vem antes do primeiro nome e não é repetido antes do segundo nome, essa última sempre se refere à mesma pessoa descrita pelo primeiro nome.

Resumindo, a melhor tradução, sem dúvida, é: “...grande Deus e Salvador Cristo Jesus.”

Viu só como é importante conhecer a língua original quando o assunto é tradução? O problema é quando a preocupação não é com a tradução, mas com a “tradução” que seja adequada a uma interpretação doutrinária particular.

Veja também 2 Pedro 1:1: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo.” Simão Pedro é o servo e Jesus Cristo é o apóstolo? Claro que não. Servo e apóstolo se referem apenas a Simão Pedro. No mesmo verso, na parte final de 2 Pedro 1:1, lemos: “...justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.” O texto é claro, não né? Mas, para que a clareza seja mascarada, é necessário modificar uma letrinha aqui, acrescentar uma preposição ali e modificar outro detalhe acolá. Se a forma de traduzir o grego da Tradução do Novo Mundo fosse correta, encontraríamos respaldo unânime nos grandes eruditos da língua.


Vamos a João 1:1 agora. Esse texto é de uma clareza espetacular. Mas é claro que as testemunhas tinham que colocar a mão e traduzir de modo particular. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Assim está na Bíblia Sagrada. No verso 14 é dito que o Verbo é Jesus, o Deus encarnado, para que os humanos consigam ver a Deus sem morrer. Jesus teve que Se revestir da humanidade. “O Verbo era Deus.” Significa dizer que Jesus sempre foi Deus. Sempre. Nunca houve um tempo em que Ele não existisse como Deus. O Verbo era Deus. Afinal, o verso 3 diz que nada pôde ser feito sem Ele. Nada. “O Verbo estava com Deus.” União íntima dos seres que formam a Divindade. Lembra de Echad, o único de Deuteronômio 6:4? E do “uma só carne” de Adão e Eva, lembra? União íntima, profunda. “O Verbo estava com Deus.” Apesar de uma íntima união, Jesus, o verbo, não é Deus Pai. São pessoas divinas diferentes. Mas “o Verbo”, agora, na parte final do texto, “era Deus”. Deus maiúsculo. Ele era, sempre foi Deus em toda a eternidade.

Querem torcer a tradução desse verso? Então vamos para o grego. A gramática grega esclarece o caso. A regra de Corwell, descoberta em 1930: “Predicados nominais definidos que precedem o verbo normalmente não trazem o artigo definido. Um predicado nominal que precede o verbo não pode ser traduzido como substantivo indefinido ou ‘qualitativo’ tão-somente em virtude da ausência do artigo; se o contexto sugere que o predicado é definido, deve ser traduzido como definido.”

A frase transliterada do grego para o português é assim: “Kaí Theos en ho logos.” Kai (“e”, conjunção); Theos (“Deus”, predicado nominal sem artigo definido vindo antes do verbo); en (“era”, o verbo intransitivo que conecta o sujeito, ho logos, ou “o Verbo”, o nome, ao predicado nominal, Theos, ou “Deus”); ho logos (“o Verbo”, o sujeito ou nome da sentença).

A opção mais coerente é a “qualitativa”. Essa opção destaca que, embora a pessoa de Cristo não seja a pessoa do Pai, Sua essência é idêntica. A ideia de um Theos qualitativo é de que o Verbo possui todos os atributos e qualidades que o Pai possui. Jesus compartilha a essência do Pai, embora sejam pessoas distintas. A construção que o evangelista escolheu para expressar a ideia foi a forma mais concisa pela qual ele poderia haver dito que o Verbo era Deus e ainda assim distinto do Pai. Obviamente, João não está dizendo que Jesus, que possui a divindade, era simplesmente “um deus”, tampouco sugere que podemos igualar Jesus à pessoa de Deus o Pai. Ao contrário, João emprega aqui uma gramática cuidadosamente escolhida a fim de expressar sua convicção de que os cristãos, junto com o discípulo Tomé, podem verdadeiramente confessar Jesus como “meu Senhor e meu Deus” (João 20:28).

João está declarando do modo mais direto possível que “Deus” pode ser usado como um predicado nominal “qualitativo” para descrever Jesus como alguém que compartilha da essência plena da natureza divina de Deus o Pai. Amém! Glória a Deus! João, inspirado pelo Espírito Santo, foi cuidadoso com a gramática, assim como deveriam ser os tradutores bíblicos. Além de reverência e respeito pelo texto bíblico, tradutores devem ter muito conhecimento da língua que estão traduzindo e da língua para a qual estão traduzindo. Isso evita uma série de distorções e até heresias.

E por que não usar “o verbo era um deus”? Porque o argumento gramatical é fraco, com pouca ou nenhuma evidência para apoiá-lo. O Novo Testamento apresenta Theos sem o artigo definido em 282 lugares. E dessas 282 ocorrências, apenas 16 são traduzidas na Tradução do Novo Mundo como “um deus”, “deuses” ou “divino”. Isso demonstra claramente um padrão de tradução arbitrário, incoerente e sem lógica alguma. Além da tentativa de harmonizar suas doutrinas à revelia do texto bíblico, usar a expressão “um deus” conduziria a uma versão de panteísmo. A heresia sempre leva a conclusões absurdas. Um erro leva a outro.

Em textos como Marcos 12:26, 27 e Lucas 20:37, 38 não há o artigo e ninguém questiona que se referem a Jeová, ao Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. E no caso de Mateus 1:23, “Emanuel, Deus conosco”, a palavra “Deus” é antecedida pelo artigo grego ho. E a mesma coisa acontece em João 20:28, na declaração de Tomé. Texto claríssimo. Esse texto da declaração de Tomé nem a Tradução do Novo Mundo conseguiu modificar. Deus ali é maiúsculo. (Leia também: “Como usar umguardanapo para provar que uma testemunha de Jeová está errada”)

Talvez seja por isso que A Sentinela de 15 de setembro de 1910, na página 298, recomenda: “Ademais, nós não apenas achamos que as pessoas não podem ver o plano divino estudando a Bíblia por si só, mas também que se alguém coloca os Estudos das Escrituras [livro deles] à parte e se concentra apenas na Bíblia, ainda que tenha se inteirado da Bíblia por dez anos, nossa experiência mostra que dentro de dois anos ela andará em trevas. Por outro lado, se tivesse lido simplesmente os Estudos das Escrituras [livro deles] com suas referências, e não tivesse lido nenhuma página da Bíblia, estaria na luz ao final dos dois anos.”

E mais: A Sentinela, de 1o de dezembro de 1981, na página 27 (edição norte-americana), diz o seguinte: “A menos que estejamos em contato com este canal de comunicação que Deus está usando [a organização das testemunhas], nós não alcançaremos progresso na estrada para a vida, não importa o quanto leiamos a Bíblia.”

Esses são conselhos para não serem seguidos. Quer um infinitamente melhor? Leia 2 Timóteo 3:16 e 17 e estude a Bíblia Sagrada por si mesmo, com a ajuda do Espírito Santo. Tenho certeza de que, se fizer isso com sinceridade, permitindo que o texto fale por si mesmo, você encontrará Jesus, o verdadeiro Jesus Cristo.

Para encerrar, leia Apocalipse 22:12 e 13: “Eis que venho sem demora... sou o alfa e o ômega.” O primeiro e o último. O princípio e o fim. Quem é esse que disse que vem sem demora? Apocalipse 22:20: “Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” Apocalipse 1:17 e 18: “Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive, estive morto, mas eis que estou vivo.” Quem é o primeiro e o último? Aquele que esteve morto, mas agora vive: Jesus. Apocalipse 2:8: “Estas coisas diz o primeiro e o último, que estava morto e tornou a viver.” São títulos aplicados a Deus o Pai e a Jesus, também. Isaías os aplica ao Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro e Eu sou o último, e além de Mim não há Deus” (Isaías 44:6); “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; Eu sou o mesmo, sou o primeiro e também o último” (Isaías 48:12).

Em breve teremos a oportunidade de conhecer pessoalmente o nosso “grande Deus e Salvador”. A volta de Cristo, pessoal e visível, está muito próxima. Eu quero muito que esse dia chegue! E você?


(Michelson Borges é jornalista e mestre em Teologia; Vanderlei Ricken é formado em Biblioteconomia)
Fonte: www.criacionismo.com.br

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