Uma resposta aos Antitrinitarianos
Em parte,
posso dizer que devo minha conversão a um colega de classe testemunha de Jeová.
Quando fazia o curso de química no ensino médio, lá em Criciúma, SC, num
intervalo entre as aulas, no ano de 1991, entrei num debate com esse amigo que
tentava me provar que Jesus havia sido criado por Deus, sendo, portanto, um
deus – assim, com letra minúscula. Apesar de ser católico praticante, na época,
eu não conhecia o suficiente da Bíblia para provar para aquele colega que ele
estava equivocado. No entanto, a própria lógica me dizia isso. Argumentei que
eu jamais aceitaria o amor de um Deus que, em lugar de morrer por Suas
criaturas caídas, criasse um deus substituto para vir aqui morrer pelos
pecadores. Isso não faz sentido. Isso não é amor. Cria e creio em um Deus que
“tabernaculou” com os seres humanos. Fez aqui Sua morada, o “Deus conosco”,
encarnado para mostrar Sua identificação completa com a humanidade que Ele
criou e redimiu. O meu Deus veio até aqui e morreu por mim! Não enviou outro
para fazer isso. Exatamente como eu faria, caso um de meus filhos estivesse em
perigo. Eu não mandaria outro em meu lugar e ficaria assistindo sentado.
Enquanto
conversávamos, outro colega de classe se aproximou e começou a participar da
conversa. Ele conhecia bem a Bíblia e usou diversos textos para apoiar “meu”
ponto de vista. Isso me deixou muito feliz! Depois de algum tempo, a testemunha
de Jeová pediu licença e se afastou de nós. O Vanderlei e eu continuamos
conversando por mais algum tempo e eu acabei descobrindo que ele era adventista
do sétimo dia. Nos tornamos amigos e passamos a estudar a Bíblia juntos, por
vários meses. O desfecho dessa história você pode ver neste vídeo e nesta entrevista. Mas permanece minha gratidão ao colega testemunha de Jeová. Ele foi
uma peça-chave para que eu conhecesse a verdade bíblica.
Então,
vamos falar um pouco mais sobre esse Jesus divino-humano que me cativou e a quem
sigo do fundo do meu coração. Seria bom você ter uma Bíblia à mão para conferir
os textos que serão citados.
O
evangelho de João foi escrito em uma época em que a igreja cristã estava
começando a ter problemas com heresias. O Docetismo negava a humanidade de
Cristo. Os Ebionitas diziam que Jesus era um grande profeta, um homem
extraordinário. O Monarquianismo sustentava que Jesus era simplesmente um homem
que recebeu poder do Pai por ocasião do batismo. O Arianismo negava a divindade
de Cristo e do Espírito Santo. O Monofisismo defendia uma só natureza. João
escreve seu evangelho e suas epístolas nesse contexto, para exaltar a legítima
divindade e eternidade de Cristo.
Em João
8:24, Jesus diz: “Por isso, Eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque,
se não crerdes que Eu Sou, morrereis nos vossos pecados.” O texto claramente
demonstra a importância fundamental de se crer na divindade de Jesus, além da
Sua humanidade. “Eu Sou” é a expressão utilizada para o Deus Eterno no Antigo
Testamento. O texto não está dizendo que Jesus é o Pai, mas que é divino e
eterno tanto quanto o Pai. O grego “ego eimi” na Septuaginta vem do hebraico
“ani hu”, usado em Deuteronômio 32:39: “Vede, agora, que Eu Sou, eu somente, e
mais nenhum deus além de mim.”
Em Isaías
43:10 lemos: “Vos sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor, o Meu servo a quem
escolhi para que o saibais, e Me creiais, e entendais que Sou Eu mesmo, e que
antes de Mim deus nenhum se formou, e depois de Mim nenhum haverá.”
Esses
textos são muito claros. Jesus não é um deus com d minúsculo, pois no texto
fica evidente que nem antes nem depois deus algum surgiu. Deuteronômio 32:39
diz que não existe nenhum outro deus além do verdadeiro e único Deus. Jesus não
é uma divindade menor que o Pai. Mas um ser, uma pessoa divina igual ao Pai.
“Vós sois
as Minhas testemunhas, o Meu servo a quem escolhi.” Portanto, esse verso não se
aplica a quem não reconhece Jesus como o Eu Sou. “Morrereis em vossos pecados”,
diz a Bíblia Sagrada. O texto é claro. A salvação só seria possível se alguém
fizesse a ligação entre o céu e a humanidade, unidos em uma pessoa, Jesus.
Isso, para o judeu, é difícil de entender. Deuteronômio 6:4 diz: “Ouve, Israel,
o Senhor nosso Deus, é o único Senhor.” Um texto que aparentemente mostra a
unicidade Divina. O único Senhor. Só que esse “único” aqui, no hebraico, é
echad, uma unidade composta. Echad aparece inicialmente no relato da criação:
“Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (Gênesis 1:5). Tarde e manhã formam um
único dia. Depois, em Gênesis 2:24: “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une
a sua mulher, tornando-se os dois uma [echad] só carne.” Duas pessoas distintas
formando uma echad, uma só carne.
“Ouve,
Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único [echad] Senhor.” Moisés, inspirado por
Deus, usou echad. Uma unidade composta, e não uma palavra que representasse uma
unidade absoluta. Se Deus desejasse ser retratado como uma unidade absoluta,
Moisés teria utilizado yachid, como aparece em Gênesis 22:2, referindo-se a
Isaque. Moisés, inspirado por Deus, usou a palavra que melhor poderia retratar
a Divindade. Uma divindade formada por mais de um ser pessoal. Uma unidade em
natureza, propósito e cooperação, não uma unidade de um único ser.
Gênesis
1:1 diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra.” Nesse verso Deus
(Elohim) aparece no plural. O singular é Eloah. O plural é Elohim.
Gênesis
1:26: “Façamos o homem à nossa imagem e à nossa semelhança.”
Gênesis
3:22: “Se tornou como um de nós...”
Moisés
poderia ter usado Yhwh ou Eloah, em Gênesis 1:1, mas não usou. E sabe por que
não? Porque ele escreveu inspirado por Deus.
Salomão,
também inspirado por Deus, escreveu em Eclesiastes 12:1: “Lembra-te dos teus
Criadores [Bore ka] nos dias da tua mocidade.” Por que será que Deus inspirou
Salomão a escrever “teus Criadores”? Para que no futuro, quando aparecesse o
Messias dizendo que também era e é o “Eu Sou”, começasse a abrir a mente das
pessoas para essa nova compreensão.
Em João
8:24, 28 Jesus disse três vezes “Eu Sou”. Em João 8:54, Jesus Se apresenta como
o “Eu Sou”, o Eterno. Isso porque a pergunta dos judeus tinha a ver com a idade
de Jesus, e Ele respondeu à pergunta dizendo: “Eu Sou”, “Eu sempre existi”,
“Sou o Eterno”. E essa resposta de Jesus, apontando para a Sua eternidade,
deixou os judeus furiosos. Se a resposta de Jesus não retratasse Sua divindade
eterna, os judeus não iriam querer matá-Lo. Para a mente dos judeus, que nem
pronunciavam o nome de Deus, Jesus dizer que era o Eterno foi demais. Se Jesus
só tivesse dito que já existia antes de Abraão, os judeus iriam morrer – morrer
de rir. Mas não, Jesus respondeu à pergunta deles Se apresentando como o
Eterno, o Eu Sou. Cinquenta anos, quinhentos anos, cinco mil anos não são nada
para o Eterno.
Tem que
se fazer uma tradução muito “criativa” para ofuscar a divindade de Jesus
Cristo. Por isso as testemunhas de Jeová têm que ter uma Bíblia só para elas
(clique aqui e leia sobre a Tradução do Novo Mundo). Além do malabarismo
criativo, há as inverdades incluídas nas explicações dos textos. Mesmo que
alguma testemunha de Jeová entendida em grego diga que a Septuaginta em Êxodo
3:14 é diferente de João 8:58, é simples: isso não é verdade. Trata-se de
má-fé. Se não for entendida em grego, trata-se apenas de ignorância. Menos mal.
Na
Septuaginta, a expressão “Eu Sou”, de Êxodo 3:14, está traduzida para “Ego
Eimi”, exatamente a mesma expressão usada em João 8:58, provando de maneira
insofismável a divindade de Cristo. (Clique aqui e confira Êxodo 3:14 na
Septuaginta online.)
Veja só:
o que é dito ser o argumento mais forte contra o Eu Sou é, na verdade, uma
mentira. Resumindo, os dois argumentos contra o Eu Sou são muito fracos, e,
como eu já disse neste vídeo, atendem ao interesse de Lúcifer de rebaixar
Jesus. O primeiro argumento é uma mentira, o segundo é só falta de percepção.
Jesus é o grande Eu Sou. Está, sim, na Septuaginta; e Jesus retratou Sua
existência eterna quando Lhe perguntaram se conhecia Abraão.
As
testemunhas de Jeová ainda afirmam que a frase “Eu Sou”, de João 8:58, pode ser
empregada no chamado “presente histórico”. Embora exista o “presente
histórico”, aplicá-lo a essa passagem é um verdadeiro absurdo, pois a gramática
nos ensina que seu uso é para relatar fatos passados, como se fossem presentes,
para tornar mais vívida a narração.
Mas a
prova final de que Jesus Se declarou o Deus Eterno é que os judeus tomaram
pedras para apedrejá-Lo. As leis judaicas permitiam o apedrejamento apenas em
cinco casos: espíritos adivinhadores (Lv 20:27); blasfêmia (Lv 24:27); filhos
obstinados (Dt 21:18-21); falsos profetas que levavam o povo à idolatria (Dt
13:5-10); adultério e estupro (Dt 22:21-24; Lv 20:10).
Cristo
emprega o Eu Sou porque denota uma existência contínua, que o tempo não pode
medir. Por esse motivo a expressão pareceu blasfêmia aos judeus.
Ainda em
João 5:58, lemos: “Antes que Abraão tivesse nascido [genesthai], Eu Sou [Ego
Eimi].” Para Abraão foi utilizado genesthai, que indica nascimento, geração.
Para Jesus foi utilizado eimi, que significa “ser existente”. Se Jesus tivesse
sido em algum momento no passado gerado por Deus, deveria ser utilizado o termo
genesthai, jamais eimi, “ser existente”. O grego jamais admitiria o uso de “Eu
tenho sido”. Fazer isso é uma violência ao texto bíblico. A única tradução
possível é “Eu Sou”. A Tradução do Novo Mundo violenta as Escrituras Sagradas
na tentativa de depreciar Jesus. Ele mesmo disse ser o EU SOU.
O mesmo
termo “Eu Sou”, utilizado para Jeová no Antigo Testamento, se aplica a Jesus no
Novo Testamento. Segue-se que Jeová e Jesus são “um” em substância, poder e
eternidade.
Em João
1:18, lemos: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do
Pai, é quem o revelou.” Se ninguém viu a Deus, e as pessoas viram Jesus, então
Jesus não é Deus? Será que é isso mesmo? João 1:18 apresenta o clímax do
prólogo do livro de João. O verbo que é Deus Se fez carne para habitar conosco.
A encarnação é retratada em João 1:14 e explica o verso 18. A encarnação cobriu
a divindade de Cristo, permitindo que Ele pudesse ser visto pelas pessoas sem
que elas morressem. Dessa forma, Jesus revelou a divindade sem que os que O
viram tivessem que morrer.
A encarnação,
portando, tem muito a ver com a divindade. A encarnação é o Verbo Se fazendo
carne para podermos vê-Lo sem ser destruídos. É o se esvaziar do esplendor da
divindade ao assumir a humanidade. É o revestir a divindade com a humanidade. É
Se humilhar ao cobrir Sua divindade com a humanidade.
Quando
João escreve sua primeira epístola, no capítulo 4, a Divindade encarnada é o
contexto do que ele está falando. Veja 1 João 4:1. Devemos provar os espíritos
porque existem muitos falsos profetas. Como identificar os falsos profetas? Os
versos 2 e 3 respondem: se essa pessoa não reconhecer a encarnação de Jesus, é
um falso profeta. Jesus, sendo Deus, Se fez carne para que pudesse revelar a
Divindade para a humanidade. Por isso os falsos profetas não aceitam a
encarnação de Jesus. Não aceitam que uma das pessoas da Divindade Se humilhou,
Se esvaziou ao assumiu a humanidade.
1 João 4
complementa esse assunto da encarnação, dizendo: “Deus é amor” (v. 8). Essas
palavras – “Deus é amor” – não possuem significado real a menos que Deus seja
pelo menos a união de duas pessoas. Amor é algo que uma pessoa tem por outra
pessoa. Se Deus fosse uma pessoa singular, então, antes que o Universo e os
anjos fossem criados, Ele não teria sido amor. Pois se o amor é a própria
essência da natureza de Deus, Ele precisa haver amado sempre, e, sendo eterno,
deve ter possuído um eterno objeto de amor. Alguém para amar. Além disso, o
perfeito amor somente é possível entre iguais. Adão, na criação, num ambiente
perfeito, só se tornou completamente feliz quando foi criada uma pessoa igual
para ele poder amar. Nós somos assim, porque somos a imagem e semelhança de
Deus. Deus é amor. Sempre foi amor. Por toda a eternidade. E exatamente por
isso decidiu vir aqui em pessoa, na pessoa do divino Jesus, para morrer por
nós, como tentei provar para meu amigo testemunha, lá nos anos 1990.
João,
inspirado por Deus, não perdeu as oportunidades de salientar a divindade de
Cristo. Em João 20:28, apresenta Tomé reconhecendo a divindade de Cristo. As
testemunhas de Jeová acabaram, por assim dizer, inventando um panteão de deuses
verdadeiros ao afirmar que Jeová é o Deus eterno e Jesus, um deus também
verdadeiro, mas inferior. Tipo na mitologia grega e em tantas outras. Mas não
existe nenhum Deus (maiúsculo) ou deus (minúsculo) além do verdadeiro (Isaías
45:21-23; 37:16-20; 44:6-8).
Em João
20:28, Tomé chama Jesus de Senhor meu e Deus meu. E aqui há o artigo antes de
Deus, indo contra a interpretação jeovista que procura desmerecer outros textos
que não têm o artigo. Só que aqui tem. Refere-se a Deus mesmo. E Jesus é esse
Deus que Tomé reconheceu. Jesus repreendeu Tomé? Não, não repreendeu. Jesus
confirmou o que ele falou, ao dizer: “Porque Me viste, creste?” “Você acreditou
que Eu sou o Senhor e que sou Deus por que você Me viu? Bem-aventurado quem não
viu, mas creu.”
Uma vez
uma testemunha disse que Tomé tinha ficado tão surpreso, que disse: “Meu Deus!”
Quando se tenta forçar o texto bíblico para se harmonizar com crenças
particulares, dá nisso. Chega a ser uma afirmação absurda. Imagine se um judeu
iria tomar o nome de Deus em vão. Sem contar que Jesus o repreenderia naquele
exato momento. Mas isso não aconteceu. Vamos analisar o texto.
A
expressão de Tomé: “Ho theos moy” só pode ser traduzida por “Deus meu”. Aqui o
artigo definido ho aparece junto de Kyrios (Senhor) e de Theos (Deus). O
próprio Diaglótico Enfático traduz como “o Deus de mim” ou “meu Deus”. E é Deus
maiúsculo, o eterno, referindo-se a Jesus. E Jesus não contestou, não repreendeu,
mas concordou com Tomé. Você creu porque viu. Tomé agora estava pronto para
servir Jesus como Senhor e adorá-Lo como Deus, o Eterno.
Outro
ponto importante a destacar é a sintaxe da conjunção aditiva kai = e. “Senhor
meu e [kai] Deus meu.” Para explicar kai vamos para outro texto: Tito 2:13.
Esse verso, obviamente, é adulterado na Tradução do Novo Mundo. Mas vejamos o
que o texto diz na Bíblia Sagrada: “Aguardando a bendita esperança e a
manifestação da glória do grande Deus e Salvador Cristo Jesus.” “Grande Deus e
nosso Salvador Cristo Jesus.” Essa é a forma correta de traduzir esse texto. A
Tradução do Novo Mundo traz equivocadamente assim: “...do grande Deus e de
nosso salvador, Cristo Jesus.” Será que as regras gramaticais permitem essa tradução?
Vejamos.
As
excelentes gramáticas gregas de Moulton, Blass e Robertson são unanimes ao
afirmar que Tito 2:13 apresenta referência a apenas uma pessoa e, portanto, só
pode ser traduzido desta forma: “Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo.”
Dana e
Mantey, em sua gramática do grego do Novo Testamento, na página 147, apresentam
a seguinte regra de Granville Sharp, sobre a sintaxe do artigo: “Quando a
partícula copulativa kai está unida a dois nomes do mesmo gênero, se o artigo
preceder o primeiro dos ditos nomes ou particípios, e não estiver repetido
antes do segundo nome ou particípio, o último sempre se refere à mesma pessoa
expressa ou descrita pelo primeiro nome ou particípio, isto é, denota uma mais
ampla descrição da primeira pessoa citada.”
Isso tudo
quer dizer: quando a conjunção aditiva kai (e) ligar dois nomes do mesmo caso,
se o artigo vem antes do primeiro nome e não é repetido antes do segundo nome,
essa última sempre se refere à mesma pessoa descrita pelo primeiro nome.
Resumindo,
a melhor tradução, sem dúvida, é: “...grande Deus e Salvador Cristo Jesus.”
Viu só
como é importante conhecer a língua original quando o assunto é tradução? O
problema é quando a preocupação não é com a tradução, mas com a “tradução” que
seja adequada a uma interpretação doutrinária particular.
Veja
também 2 Pedro 1:1: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo.” Simão
Pedro é o servo e Jesus Cristo é o apóstolo? Claro que não. Servo e apóstolo se
referem apenas a Simão Pedro. No mesmo verso, na parte final de 2 Pedro 1:1,
lemos: “...justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.” O texto é claro, não
né? Mas, para que a clareza seja mascarada, é necessário modificar uma letrinha
aqui, acrescentar uma preposição ali e modificar outro detalhe acolá. Se a
forma de traduzir o grego da Tradução do Novo Mundo fosse correta,
encontraríamos respaldo unânime nos grandes eruditos da língua.
Vamos a
João 1:1 agora. Esse texto é de uma clareza espetacular. Mas é claro que as
testemunhas tinham que colocar a mão e traduzir de modo particular. “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Assim
está na Bíblia Sagrada. No verso 14 é dito que o Verbo é Jesus, o Deus
encarnado, para que os humanos consigam ver a Deus sem morrer. Jesus teve que
Se revestir da humanidade. “O Verbo era Deus.” Significa dizer que Jesus sempre
foi Deus. Sempre. Nunca houve um tempo em que Ele não existisse como Deus. O
Verbo era Deus. Afinal, o verso 3 diz que nada pôde ser feito sem Ele. Nada. “O
Verbo estava com Deus.” União íntima dos seres que formam a Divindade. Lembra
de Echad, o único de Deuteronômio 6:4? E do “uma só carne” de Adão e Eva,
lembra? União íntima, profunda. “O Verbo estava com Deus.” Apesar de uma íntima
união, Jesus, o verbo, não é Deus Pai. São pessoas divinas diferentes. Mas “o
Verbo”, agora, na parte final do texto, “era Deus”. Deus maiúsculo. Ele era,
sempre foi Deus em toda a eternidade.
Querem
torcer a tradução desse verso? Então vamos para o grego. A gramática grega
esclarece o caso. A regra de Corwell, descoberta em 1930: “Predicados nominais
definidos que precedem o verbo normalmente não trazem o artigo definido. Um
predicado nominal que precede o verbo não pode ser traduzido como substantivo
indefinido ou ‘qualitativo’ tão-somente em virtude da ausência do artigo; se o
contexto sugere que o predicado é definido, deve ser traduzido como definido.”
A frase
transliterada do grego para o português é assim: “Kaí Theos en ho logos.” Kai
(“e”, conjunção); Theos (“Deus”, predicado nominal sem artigo definido vindo
antes do verbo); en (“era”, o verbo intransitivo que conecta o sujeito, ho
logos, ou “o Verbo”, o nome, ao predicado nominal, Theos, ou “Deus”); ho logos
(“o Verbo”, o sujeito ou nome da sentença).
A opção
mais coerente é a “qualitativa”. Essa opção destaca que, embora a pessoa de
Cristo não seja a pessoa do Pai, Sua essência é idêntica. A ideia de um Theos
qualitativo é de que o Verbo possui todos os atributos e qualidades que o Pai
possui. Jesus compartilha a essência do Pai, embora sejam pessoas distintas. A
construção que o evangelista escolheu para expressar a ideia foi a forma mais
concisa pela qual ele poderia haver dito que o Verbo era Deus e ainda assim
distinto do Pai. Obviamente, João não está dizendo que Jesus, que possui a
divindade, era simplesmente “um deus”, tampouco sugere que podemos igualar
Jesus à pessoa de Deus o Pai. Ao contrário, João emprega aqui uma gramática
cuidadosamente escolhida a fim de expressar sua convicção de que os cristãos,
junto com o discípulo Tomé, podem verdadeiramente confessar Jesus como “meu
Senhor e meu Deus” (João 20:28).
João está
declarando do modo mais direto possível que “Deus” pode ser usado como um
predicado nominal “qualitativo” para descrever Jesus como alguém que compartilha
da essência plena da natureza divina de Deus o Pai. Amém! Glória a Deus! João,
inspirado pelo Espírito Santo, foi cuidadoso com a gramática, assim como
deveriam ser os tradutores bíblicos. Além de reverência e respeito pelo texto
bíblico, tradutores devem ter muito conhecimento da língua que estão traduzindo
e da língua para a qual estão traduzindo. Isso evita uma série de distorções e
até heresias.
E por que
não usar “o verbo era um deus”? Porque o argumento gramatical é fraco, com
pouca ou nenhuma evidência para apoiá-lo. O Novo Testamento apresenta Theos sem
o artigo definido em 282 lugares. E dessas 282 ocorrências, apenas 16 são
traduzidas na Tradução do Novo Mundo como “um deus”, “deuses” ou “divino”. Isso
demonstra claramente um padrão de tradução arbitrário, incoerente e sem lógica
alguma. Além da tentativa de harmonizar suas doutrinas à revelia do texto
bíblico, usar a expressão “um deus” conduziria a uma versão de panteísmo. A
heresia sempre leva a conclusões absurdas. Um erro leva a outro.
Em textos
como Marcos 12:26, 27 e Lucas 20:37, 38 não há o artigo e ninguém questiona que
se referem a Jeová, ao Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. E no caso de Mateus
1:23, “Emanuel, Deus conosco”, a palavra “Deus” é antecedida pelo artigo grego
ho. E a mesma coisa acontece em João 20:28, na declaração de Tomé. Texto
claríssimo. Esse texto da declaração de Tomé nem a Tradução do Novo Mundo
conseguiu modificar. Deus ali é maiúsculo. (Leia também: “Como usar umguardanapo para provar que uma testemunha de Jeová está errada”)
Talvez
seja por isso que A Sentinela de 15 de setembro de 1910, na página 298,
recomenda: “Ademais, nós não apenas achamos que as pessoas não podem ver o
plano divino estudando a Bíblia por si só, mas também que se alguém coloca os Estudos
das Escrituras [livro deles] à parte e se concentra apenas na Bíblia, ainda que
tenha se inteirado da Bíblia por dez anos, nossa experiência mostra que dentro
de dois anos ela andará em trevas. Por outro lado, se tivesse lido simplesmente
os Estudos das Escrituras [livro deles] com suas referências, e não tivesse
lido nenhuma página da Bíblia, estaria na luz ao final dos dois anos.”
E mais: A
Sentinela, de 1o de dezembro de 1981, na página 27 (edição norte-americana),
diz o seguinte: “A menos que estejamos em contato com este canal de comunicação
que Deus está usando [a organização das testemunhas], nós não alcançaremos
progresso na estrada para a vida, não importa o quanto leiamos a Bíblia.”
Esses são
conselhos para não serem seguidos. Quer um infinitamente melhor? Leia 2 Timóteo
3:16 e 17 e estude a Bíblia Sagrada por si mesmo, com a ajuda do Espírito
Santo. Tenho certeza de que, se fizer isso com sinceridade, permitindo que o
texto fale por si mesmo, você encontrará Jesus, o verdadeiro Jesus Cristo.
Para
encerrar, leia Apocalipse 22:12 e 13: “Eis que venho sem demora... sou o alfa e
o ômega.” O primeiro e o último. O princípio e o fim. Quem é esse que disse que
vem sem demora? Apocalipse 22:20: “Certamente, venho sem demora. Amém! Vem,
Senhor Jesus!” Apocalipse 1:17 e 18: “Eu sou o primeiro e o último e aquele que
vive, estive morto, mas eis que estou vivo.” Quem é o primeiro e o último?
Aquele que esteve morto, mas agora vive: Jesus. Apocalipse 2:8: “Estas coisas
diz o primeiro e o último, que estava morto e tornou a viver.” São títulos
aplicados a Deus o Pai e a Jesus, também. Isaías os aplica ao Senhor dos
Exércitos, o Deus de Israel: “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor,
o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro e Eu sou o último, e além de Mim não
há Deus” (Isaías 44:6); “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; Eu sou
o mesmo, sou o primeiro e também o último” (Isaías 48:12).
Em breve
teremos a oportunidade de conhecer pessoalmente o nosso “grande Deus e
Salvador”. A volta de Cristo, pessoal e visível, está muito próxima. Eu quero
muito que esse dia chegue! E você?
(Michelson
Borges é jornalista e mestre em Teologia; Vanderlei Ricken é formado em
Biblioteconomia)
Fonte: www.criacionismo.com.br
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