As Escrituras revelam que os antigos profetas não somente se preocuparam em anunciar eventos futuros, como também em indicar o tempo de seu cumprimento. Os 120 anos de graça destinados ao mundo antediluviano (Gênesis 6:3), os 7 dias que precederiam o início da chuva, a qual deveria cair por 40 dias ininterruptos (Gênesis 7:4), os 400 anos de peregrinação da descendência de Abraão (Gênesis 15:13 e Atos 7:6), os 3 dias para o copeiro e para o padeiro de Faraó (Gênesis 40:12, 13, 18 e 19), os 7 anos de fartura e os outros 7 de fome sobre a terra do Egito (Gênesis 41:26, 27, 29 e 30), os 40 anos de jornada no deserto (Números 14:33 e 34), os 3 anos e meio de seca no reinado de Acabe (1 Reis 17:1 e Lucas 4:25), o cativeiro de 70 anos (Jeremias 25:11 e 12; 29:10 e Daniel 9:2) e os 7 tempos de loucura de Nabucodonosor (Daniel 4:16, 23, 25 e 32) foram períodos que delimitaram a realização dos acontecimentos preditos.
Não poderiam os profetas ter antecipado também a época do advento do Redentor? A lógica sugere que sim, o que é confirmado pelo apóstolo Pedro, segundo o qual “os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada” “inquiriram e trataram diligentemente” da salvação, “indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir.” 1 Pedro 1:10 e 11.
Os dados cronológicos concernentes à primeira vinda de Cristo podem ser encontrados em Daniel 9, em que já estavam preditos, com inigualável precisão, os anos exatos do início e do fim do ministério do Salvador. Contudo, visto que Daniel 9 constitui um complemento ao capítulo 8, imperioso se torna o estudo concatenado de ambos.
Uma Impressionante Visão
O capítulo 8 descreve uma fascinante visão recebida pelo profeta Daniel, na qual ele contemplou um carneiro, um bode e uma ponta pequena. Esse último elemento lhe atraiu particular interesse, em virtude de seu ataque ao exército do Céu, ao Príncipe dos príncipes e ao Santuário Celestial. Enquanto observava a blasfema atuação da ponta pequena, Daniel ouviu um santo anjo a indagar: “Até quando durará esta visão?”. A solene resposta é encontrada em Daniel 8:14: “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.”.
Daniel 8:14 faz referência a um longo período profético, findo o qual o Santuário seria purificado. Esse período possui especial importância por estar intimamente associado às 70 semanas de Daniel 9, cujo principal objetivo é localizar o tempo do ministério de Jesus. Daí, a necessidade de uma investigação mais detalhada das 2.300 tardes e manhãs.
As 2.300 Tardes e Manhãs.
A origem da expressão “tardes e manhãs” remonta ao relato da Criação, no qual se lê: “Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.” Gênesis 1:5. Desse texto se deduz que num dia completo há uma tarde e uma manhã, o que conduz à inevitável conclusão de que o período mencionado em Daniel 8:14 é, na realidade, de 2.300 dias.1
Qual o real significado da expressão "tardes e manhãs"?
Esses dias não podem ser literais, em virtude de que aparecem num contexto altamente simbólico. Mediante a aplicação do princípio bíblico do dia-ano, segundo o qual, um dia profético corresponde a um ano literal (Números 14:34 e Ezequiel 4:6 e 7), torna-se evidente que os 2.300 dias representam 2.300 anos reais.2
O Ponto de Partida das 2.300 Tardes e Manhãs
Uma leitura atenciosa de Daniel 8 revela a carência de qualquer indicação exata para o início dos 2.300 anos. Depois de comentar cada elemento da visão, as poucas palavras de Gabriel referentes àquele período foram: “A visão da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, preserva a visão, porque se refere a dias ainda mui distantes.” Daniel 8:26. Antes que Gabriel pudesse fornecer alguma informação adicional sobre os 2.300 dias, Daniel perdeu as forças e desmaiou. A cena das horrendas perseguições a sobrevir ao povo de Deus e a afirmação de sua longa duração eram mais do que o idoso profeta poderia suportar. Assim, Gabriel teve de abandoná-lo para só retornar em ocasião oportuna.
Investigando o livro do profeta Jeremias, Daniel entendeu que o prazo determinado por Deus para o regresso de seu povo à Judéia seria de 70 anos (Daniel 9:1 e 2). Como esse período já estava próximo do fim, Daniel temeu que a visão recebida alguns anos antes fosse um alerta divino concernente a um prolongamento na duração do cativeiro. Tal perspectiva encheu de horror o coração do bondoso profeta, o que o impulsionou a derramar sua alma perante o Senhor numa impressionante oração intercessória por sua nação. Temendo que os 2.300 dias consistissem num acréscimo aos 70 anos de desolação, Daniel assim se expressou: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não Te retardes, por amor de Ti mesmo, ó Deus meu; porque a Tua cidade e o Teu povo são chamados pelo Teu nome.” Daniel 9:19.3
Em resposta à súplica daquele fervoroso servo de Deus, Gabriel retornou para completar sua missão. Ele recebera a ordem: “Dá a entender a este a visão” (Daniel 8:16) e a incumbência devia ser satisfeita. Por isso, aproximou-se mais uma vez do profeta, dizendo: “Daniel, agora saí para fazer-te entender o sentido... Considera, pois, a coisa e entende a visão.” Daniel 9:22 e 23. Retomando o assunto, Gabriel se deteve particularmente no aspecto do tempo: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade...” Daniel 9:25. A palavra aqui vertida por “determinadas” significa literalmente “separadas” ou “cortadas”.4 O questionamento lógico em face dessa observação é: separadas de quê? Visto que os 2.300 dias foram o único período mencionado anteriormente, o qual não havia recebido maiores considerações, devem ser o período de que as 70 semanas se separaram. As 70 semanas são, portanto, uma parte dos 2.300 dias e os 2 períodos devem começar simultaneamente. Isso supre a carência de informação em Daniel 8 sobre o início das 2.300 tardes e manhãs, visto que em Daniel 9 o ponto de partida é indicado.
O ponto inicial das 70 semanas é “a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém” Daniel 9:25. Embora 3 decretos persas sejam mencionados no livro de Esdras nesse sentido, o de Artaxerxes é o mais abrangente, além do que, as intenções dos 2 anteriores são plenamente satisfeitas com este último.5 Qual o ponto de partida das 70 semanas? Esse decreto entrou em vigor no outono de 457 A.C., data que deve ser tomada como o início dos cômputos proféticos.
7 Semanas e 62 Semanas
“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas6; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” Daniel 9:25. Assim, a manifestação do Messias estava marcada para 69 semanas proféticas, ou 483 dias-anos, depois que o decreto de Artaxerxes entrasse em vigor, o que conduz ao ano 27 da Era Cristã7, no qual Jesus, após ter sido batizado no rio Jordão, foi ungido pelo Espírito Santo, que sobre Ele repousou em forma de pomba, e deu início ao Seu ministério público8. Após essa data, segundo o relato de Marcos, “foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.” Marcos 1:14 e 15.
A parte final do versículo se refere aos turbulentos anos de reconstrução da cidade de Jerusalém, o que pode ser comprovado mediante a leitura do livro bíblico de Neemias.
“O Ungido será tirado”
“Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.” Daniel 9:26. A intenção dessa passagem não é marcar a data exata da morte de Jesus, pois, segundo as palavras de Gabriel, o Ungido seria tirado não ao fim das 62 semanas, mas depois disso. A menção à destruição do Templo e da Cidade Santa aponta logicamente à invasão de Jerusalém pelos exércitos romanos, liderados pelo general Tito, no ano 70 da Era Cristã. Invasões dessa natureza eram comparadas a inundações, o que explica a referência a um dilúvio9; , a afirmação de que “até ao fim haverá guerra” retrata bem os combates e o derramamento envolvendo a destruição de Jerusalém e a frase "desolações são determinadas" descreve a desolação causada pelos romanos cujo ódio pelos judeus foi tanto que seus líderes ordenaram que jogassem sal sobre a cidade e arredores para que nada mais nascesse ali.
A Última Semana
“Ele10 fará firme aliança11 com muitos12, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.” Daniel 9:27. A “semana” aqui mencionada é a última das 70 e corresponde aos derradeiros anos de oportunidade concedidos ao povo de Israel.13 Durante esse período, que se estende do ano 27 ao ano 34, Cristo, em princípio em pessoa e depois por intermédio de Seus discípulos, dirigiu o convite do Evangelho especialmente aos judeus.
A parte mais impressionante da predição está relacionada ao meio14 da septuagésima semana, em que se faria cessar o sacrifício e a oferta de manjares. No ano 31 da Era Cristã, 3 anos e meio após Seu batismo, o Senhor Jesus foi crucificado. Mediante o grande sacrifício oferecido na Cruz do Gólgota, o sistema de sacrifícios, que por 4.000 anos havia apontado para o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29), perdeu a sua validade15. O tipo alcançou o antítipo e, em conformidade com a vontade de Deus, todos os sacrifícios e ofertas deveriam cessar. Ao Jesus entregar Seu espírito naquela tarde de sexta-feira, houve um grande terremoto e “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo” (Mateus 27:51), como notória evidência de que o sistema cerimonial havia chegado ao esgotamento. Que Jesus estava cônscio de que aquele era o momento indicado pela profecia de Daniel, observa-se de Suas palavras proferidas na noite anterior: “Pai, é chegada a hora; glorifica a Teu Filho, para que o Filho Te glorifique a Ti.” João 17:1.
O final do versículo 27 também faz alusão à destruição de Jerusalém, assim como o verso precedente, e foi mencionado por Jesus em Seu sermão profético, quando Ele instou a Seus discípulos que estudassem com atenção o livro de Daniel. Ver Mateus 24:15.
O Fim das 70 Semanas
Visto que as 70 semanas foram separadas especialmente para o povo de Israel, seu término deve coincidir com a rejeição dos judeus ao Evangelho de Cristo. Embora nenhum evento específico seja relacionado ao fim das 70 semanas e apesar de os dados cronológicos dos primeiros capítulos do livro de Atos serem insuficientes para uma datação exata, a morte do diácono Estevão16 e a primeira perseguição à Igreja servem muito bem como marcos do fim do tempo de graça concedido à nação eleita, pois, após o início das hostilidades, os discípulos, forçados pela perseguição a fugir de Jerusalém, “iam por toda parte pregando a palavra” (Atos 8:4). Filipe desceu à cidade de Samaria e pregou a Cristo. Pedro, guiado pelo Espírito de Deus, anunciou o Evangelho a Cornélio, centurião de Cesaréia; e Paulo, ganho à fé cristã, foi incumbido de pregar as doces novas do Evangelho “aos gentios de longe” Atos 22:21 (ARC).
O Término dos 2.300 Anos
Todas as especificações da profecia se cumpriram nos mínimos pormenores em relação ao ministério terrestre de Cristo, o que imprime um selo de garantia sobre o restante da profecia que diz respeito à purificação do Santuário Celestial. Avançando 2.300 anos a partir do outono de 457 A.C., chega-se ao outono de 1.844 A.D., quando Jesus, Sumo Sacerdote do Céu, à semelhança do que se fazia no Dia da Expiação17, entrou no Lugar Santíssimo para purificar o Santuário. Naquele ano, Jesus deu início à última etapa de Seu ministério intercessório, após o qual Ele voltará para buscar o Seu povo.
Implicações dos Cômputos Proféticos
As 70 semanas de Daniel 9 constituem a mais espetacular de todas as profecias bíblicas. Erguem-se como um desafio ao ceticismo do mundo hodierno, cujos pilares estão supostamente firmados sobre bases científicas. Se as datas propostas pelo esquema profético puderem ser confirmadas, um golpe mortal terá sido dado a todas as correntes do pensamento atual que deixam de parte a Bíblia e a fé em Jesus. Nos próximos estudos, serão fornecidas evidências concretas e irrefutáveis para a comprovação das datas do início das 70 semanas, do batismo de Jesus e de Sua crucifixão e morte. Que o leitor possa sentir sua fé aumentar a cada descoberta e que a graça de Cristo e a presença do Espírito Santo possam Se intensificar em seu coração!
Bibliografia:
WHITE, Ellen G., O Grande Conflito, trigésima sexta edição, Tatuí, S.P.: Casa Publicadora Brasileira, 1.988.
Henderson H. L. Velten
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