quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Apêndice ao Estudo 2

1 - Qual o real significado da expressão “tardes e manhãs”?
 Muitos expositores das Escrituras têm vinculado, erroneamente, a expressão “tardes e manhãs” ao sacrifício diário, oferecido no Templo de Jerusalém, toda manhã e toda tarde. Por esse raciocínio, a referência em Daniel 8:14 seria a 2.300 sacrifícios da manhã e da tarde. Destarte, defendem que o período abrangido por essa quantidade de holocaustos seja de 1.150 dias. Encontram uma suposta sustentação para isso nas passagens que mencionam um ataque ao costumado sacrifício. Ver Daniel 8:11-13; 11:31; e 12:11.

As seguintes considerações demonstram a inconsistência dessa conclusão:
1) O hebraico diz literalmente “tarde-manhã, dois mil e trezentos”. As palavras emparelhadas “tarde-manhã” (heb.:  -'ereb boqernão são separadas por uma conjunção, constituindo uma unidade de expressão.
Em 1 Reis 11:3, aparece um caso semelhante, em que se diz que Salomão “tinha setecentas mulheres, princesas” (no original, “mulheres-princesas, setecentas”). Isso não deve ser entendido como “trezentas e cinqüenta mulheres e trezentas e cinqüenta princesas”; e por idêntica razão, as 2.300 tardes e manhãs não podem ser divididas em 1.150 tardes e 1.150 manhãs.
2) Se Daniel realmente quisesse indicar que o verdadeiro sentido da expressão era o de 1.150 tardes e 1.150 manhãs, ele o teria feito segundo o estilo hebraico. Quando um escritor bíblico queria distinguir entre dia e noite, seu método era o seguinte: “quarenta dias e quarenta noites” (Gênesis 7:4 e 12; Êxodo 24:18; 34:28; Deuteronômio 9:9, 11, 18 e 25; 10:10; e 1 Reis 19:8); “sete dias e sete noites” (Jó 2:13); ou “três dias e três noites” (1 Samuel 30:12 e Jonas 1:17). Em nenhum caso, no Antigo Testamento, isso é expresso sem a repetição do valor a que se faz referência, o que reforça o pensamento de que, em Daniel 8:14, a menção é a 2.300 dias e não a 1.150 holocaustos da manhã e da tarde.

3) Se a alusão fosse aos sacrifícios da manhã e da tarde, a passagem deveria trazer a expressão “manhãs-tardes” e não “tardes-manhãs”, pois sempre que esses termos são aplicados ao contínuo holocausto, a palavra “manhã” precede a palavra “tarde”, sem nenhuma exceção em todo o Velho Testamento (Êxodo 29:39 e 41; Números 28:4 e 8; Reis 16:15; 1 Crônicas 16:40; 2 Crônicas 2:4; 13:11; 31:3; e Esdras 3:3).
4) A base da expressão de Daniel 8:14 se encontra em Gênesis 1, no relato da Criação (Gênesis 1:5, 8, 13, 19, 23 e 31), em que a “manhã” se refere ao nascer-do-sol e a “tarde”, ao seu ocaso. Evidência disso se extrai de Marcos 1:32: “À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoninhados.”. Outro exemplo pode ser encontrado em Levítico 23:32: “Sábado de descanso solene vos será; então, afligireis a vossa alma; aos nove do mês, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado.”. Visto que, num período de 24 horas, ocorrem 2 fenômenos relacionados ao Sol, seu nascimento e seu ocaso, era natural que a expressão “tardes-manhãs” fosse usada para designar um dia completo.
Com base nessas evidências, não há como refutar o entendimento tradicional de que o período referido em Daniel 8:14 seja de 2.300 dias.

Bibliografia:
“Perguntas e Respostas Sobre Questões Doutrinárias”, Ministério, março-abril de 1.988, Santo André, S.P.: Casa Publicadora Brasileira.
SCHWANTES, Siegfried J., “‘Ereb Boqer of Daniel 8:14 Re-Examined”, Simposium on Daniel – Introductory and Exegetical Studies, Editor: Frank B. Holbrook, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 2, pp. 462 – 474.

2 - Que evidências bíblicas sustentam o princípio profético do dia-ano? E o que garante sua aplicação em Daniel 8:14?
O princípio do dia-ano está claramente fundamentado nas Escrituras, apesar da tentativa de alguns em desacreditá-lo totalmente. 

A seguir, serão apresentadas as evidências bíblicas que o apóiam:
1) Depois que os espias observaram Canaã por 40 dias, regressaram com um relatório sobre a fertilidade da terra; porém, 10 deles desanimaram o restante do povo, falando da dificuldade de nela entrar, o que levou os israelitas a se revoltarem contra Deus e contra Moisés. Como castigo por sua incredulidade, Deus determinou que eles haveriam de peregrinar 40 anos pelo deserto: “Vossos filhos serão pastores neste deserto quarenta anos e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que o vosso cadáver se consuma neste deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis experiência do Meu desagrado.” Números 14:33 e 34. Nessa passagem, está nítida a relação entre os 40 dias em que os espias percorreram a terra e os 40 anos em que o povo de Israel deveria jornadear pelo ermo, além de ser apresentado o princípio norteador dessa associação: “cada dia representando um ano”.
2) Em Ezequiel 4:4-7, a relação dia-ano está claramente delineada, embora no sentido inverso ao de Números. Pelos 390 anos de iniqüidade do reino de Israel, Ezequiel deveria se deitar sobre o seu lado esquerdo por 390 dias: “Deita-te também sobre o teu lado esquerdo e põe a iniqüidade da casa de Israel sobre ele; conforme o número dos dias que te deitares sobre ele, levarás sobre ti a iniqüidade dela. Porque Eu te dei os anos da sua iniqüidade, segundo o número dos dias, trezentos e noventa dias; e levarás sobre ti a iniqüidade da casa de Israel.” Depois, o profeta recebeu ordem de fazer o mesmo pelo reino de Judá, deitando-se sobre o seu lado direito por 40 dias, em virtude dos 40 anos de iniqüidade: “Quando tiveres cumprido estes dias, deitar-te-ás sobre o teu lado direito e levarás sobre ti a iniqüidade da casa de Judá. Quarenta dias te dei, cada dia por um ano. Voltarás, pois, o rosto para o cerco de Jerusalém, com o teu braço descoberto, e profetizarás contra ela.”. Ezequiel contém, portanto, o princípio de que um ano representa um dia, ao passo que Números contém o princípio de que um dia representa um ano. Essa relação inversa não anula o princípio, pois a proporção se mantém inalterada.
3) Gênesis 29:27 também mostra a íntima relação entre dias e anos. Tendo servido 7 anos para desposar Lia (embora por engano, como é de conhecimento geral), Jacó deveria trabalhar por outros 7 para também receber a permissão de se casar com Raquel. Como, geralmente, a festa de casamento durava 7 dias (Juízes 14:12 e 17), Labão informou a Jacó que ele deveria cumprir a semana das bodas de Lia, para também desposar Raquel, com a condição de que o servisse por mais 7 anos: “Decorrida a semana desta, dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás. Concordou Jacó, e se passou a semana desta; então, Labão lhe deu por mulher Raquel, sua filha.” Gênesis 29:27 e 28. Assim, foram 7 anos de trabalho para cada período de 7 dias de festa de casamento, o que torna evidente o paralelismo entre dias e anos.
4) Levítico 25:8 usa a expressão “sete sábados de anos”, de acordo com o hebraico, e traduzida por “sete semanas de anos”, na Versão Almeida Revista e Atualizada, ao falar do ano do jubileu: “Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos.”. Aí, a terminologia para designar o período de uma semana ou 7 dias é aplicada a um período de 7 anos. É o método de calcular em que um dia representa um ano.
5) É curioso notar que, até mesmo entre os gentios, era conhecida a relação dia-ano. Isso pode ser demonstrado por um episódio da vida do Imperador Tibério, narrado pelo escritor romano Caio Suetônio Traqüilo (c. 69 A.D. – c. 141 A.D.): “A Diógenes o Gramático, com quem se habituara a discutir, todos os sábados, recusou-lhe uma audiência particular que lhe fora pedida, e mandou-lhe dizer por um pequeno escravo que voltasse no sétimo dia. Como este gramático se apresentasse à porta do seu palácio, em Roma, para saudá-lo, passado aquele prazo, contentou-se em adverti-lo que tornasse a voltar ao fim de sete anos.” (A Vida dos Doze Césares, p. 113, Editora Tecnoprint S.A.). Está evidente, no trecho citado acima, que Tibério associou o sétimo dia a um prazo de 7 anos, o que só é possível mediante a aplicação do princípio que relaciona um dia simbólico a um ano literal.
Essas informações, exaradas de várias partes das Escrituras (com exceção do item anterior), já são suficientes para a aceitação do princípio profético do dia-ano, restando apenas a questão da legitimidade de sua aplicação aos períodos de Daniel e Apocalipse. 

Os tópicos a seguir demonstram a necessidade dessa aplicação:
1) As profecias de Daniel e Apocalipse estão repletas de símbolos e não seria coerente encarar seus períodos de tempo como literais. Talvez o maior argumento em favor do uso da relação dia-ano em Daniel e Apocalipse seja o exato cumprimento das 70 semanas, que não são entendidas como literais por nenhum teólogo competente, embora haja diferenças de interpretação.
2) A não ser em Daniel e Apocalipse, a Bíblia nunca emprega dias para designar um período superior a um ano. Na verdade, o mais longo período que, noutro lugar,  é designado pela palavra “dias” é o de Ester 1:4 (180 dias). Além dessa passagem, somente em Gênesis 7:24; 8:3; e Neemias 6:15, aparecem períodos superiores a 40 dias. Em parte alguma, um período maior que um ano é expresso em termos de “meses”, com exceção de Apocalipse 11:2 e 13:5. Somente 2 passagens em toda a Escritura usam as palavras “doze meses” (Ester 2:12 e Daniel 4:29). A expressão normal para 42 meses é “três anos e seis meses” (Lucas 4:25 e Tiago 5:17). Jamais a Escritura designa um período superior a 7 semanas por meio dessa palavra (“semana”), a não ser, é claro, em Daniel 9:24 (as 70 semanas). Assim, a singularidade das expressões “duas mil e trezentas tardes e manhãs” e “setenta semanas” denota que elas não podem se referir a dias literais.
3) Alegam alguns que o princípio do dia-ano não pode ser aplicado nem a Daniel 8:14, nem a Daniel 9:24-27, em virtude de que nessas passagens não consta o termo “dia”. Tal raciocínio é superficial e destituído de razão, pois o conceito de “dias” está implícito em ambos os textos:
3.1) A expressão “tardes e manhãs” remonta a Gênesis 1, em que cada dia é designado como possuindo “tarde e manhã”: “Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (verso 5), são os dizeres das Escrituras. Isso demonstra que, em Daniel 8:14, a expressão “tardes e manhãs” equivale a “dias”.
3.2) Visto que a palavra hebraica para “semana”  (heb.:  - shabua) é derivada do número 7, alguns têm sugerido que Daniel 9 esteja se referindo a “grupos de sete” e não a “semanas”, o que permitiria entender o período ali mencionado como constituído naturalmente de anos, sem lançar mão do princípio profético do dia-ano. Porém, em Daniel 10:2 e 3, a mesma palavra é usada para indicar as 3 semanas em que Daniel ficou a jejuar: “Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras.”. Por volta daquela época, os samaritanos, que eram hostis aos judeus, haviam contratado alguns conselheiros para indispor os reis da Pérsia contra a obra de reconstrução da cidade de Jerusalém. Ver Esdras 4:5 e 6. O anjo Gabriel foi, então, comissionado para dissipar tais influências do coração de Ciro, rei dos persas. No entanto, um anjo caído lhe opôs ousada resistência, a qual só foi vencida com o auxílio de Miguel, “o grande príncipe”. Ao descrever essa intensa batalha espiritual, Gabriel assim se expressou: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia.” Daniel 10:13. Nesse fascinante relato, as “três semanas inteiras”, durante as quais Daniel jejuou em prol de seu povo, são equacionadas aos “vinte e um dias” do conflito entre Gabriel e o “príncipe do reino da Pérsia”, o que demonstra que a palavra “shabua” (plural:  - shabuim) realmente estava indicando um conjunto de 7 dias, sendo correto, portanto, traduzi-la como “semana”.
O texto de Daniel 10:3 traz literalmente “três semanas de dias”. Alguns têm insinuado que o capítulo 10 usa a expressão “semanas de dias” para contrastar com as “semanas de anos” do capítulo 9. Tal conclusão é enganosa porque em todas as passagens do Antigo Testamento em que a expressão “de dias” é acrescentada a um período de tempo, ela simplesmente indica que se trata de períodos completos. Assim, o hebraico pode dizer “anos de dias”, mas isso deve ser entendido como “anos inteiros” (ver Gênesis 41:1; Levítico 25:29; e 2 Samuel 13:23 e 14:28); ou pode dizer “um mês de dias”, o que deve ser traduzido como “um mês completo” (ver Gênesis 29:14; Números 11:20 e 21; Juízes 19:2; e 2 Reis 15:13). Da mesma sorte, as palavras “de dias” em Daniel 10:3 intencionam apenas indicar que o vidente jejuou por “três semanas inteiras”.
3.3) A Septuaginta (ou Versão dos Setenta) dá pleno apoio à tradução de Daniel 9:24 como “setenta semanas”, pois utiliza a palavra grega  (hebdomades), a qual sempre tem o significado de “semana”, quando poderia ter usado  (hepta), que significa “sete”. É interessante notar também que a Septuaginta usa a expressão “hepta hebdomades” em Deuteronômio 16:9, em conexão com a Festa das Semanas, calculada com base em “sete semanas” contadas a partir do dia em que as primícias eram agitadas perante o Senhor. Isso não deve ser traduzido por “sete grupos de sete”, o que demonstra que, para os sábios judeus que confeccionaram a Septuaginta, o real sentido de “shabuim” é “semanas”.

Bibliografia:
“Perguntas e Respostas Sobre Questões Doutrinárias”, Ministério, março-abril de 1.988, Santo André, S.P.: Casa Publicadora Brasileira.
SHEA, William H., “Year-Day Principle”, Parts 1, 2 and 3, Selected Studies on Prophetic Interpretation, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 1, pp. 56-93.
SUETÔNIO, A Vida dos Doze Césares, tradução de Sady-Garibaldi, Rio de   Janeiro, R.J.: Editora Tecnoprint, S.A..

3 - Que evidências apontam para uma estreita conexão entre Daniel 8 e 9?
Muitos comentaristas das Escrituras não têm percebido a íntima relação entre os capítulos 8 e 9 de Daniel e, conseqüentemente, o vínculo entre as 2.300 tardes e manhãs e as 70 semanas; entretanto, o contexto e certos detalhes do relato requerem essa estreita conexão, como as seguintes evidências o demonstram:
1) Praticamente, todos os elementos contidos na visão de Daniel 8:1-14 estão explicados em Daniel 8:15-27, exceto as 2.300 tardes e manhãs. É verdade que Gabriel fez menção do período, mas não pôde completar sua exposição.
2) A perspectiva da terrível perseguição a sobrevir ao povo de Deus mostrou-se muito mais do que o idoso profeta poderia suportar, e, em razão disso, ele se enfraqueceu e esteve enfermo alguns dias. Conseqüentemente, Gabriel teve que interromper sua exposição por algum tempo (Daniel 8:10-14 e 23-27).
3) Como a visão do capítulo 8 fazia referência ao Santuário e ao povo de Deus, ambos sendo atacados pela ponta pequena, Daniel teve sua atenção atraída para uma declaração de Jeremias, enquanto lia o livro desse profeta: “No primeiro ano de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus, no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi, pelos livros, que o número de anos, de que falara o SENHOR ao profeta Jeremias, que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos.” Daniel 9:1 e 2. Segundo o profeta Jeremias, após a queda de Babilônia e a ascensão dos reis medo-persas, os judeus poderiam esperar sua breve libertação. O reinado de Dario, da linhagem dos medos, deveria  concretizar as esperanças de Israel; no entanto, sendo já o primeiro ano desse rei (havia passado o ano de ascensão), nenhuma medida havia sido tomada para permitir o regresso da nação judaica à sua pátria. Em decorrência disso, Daniel temeu que o período indicado em sua última visão fosse um acréscimo ao número de anos de cativeiro.
4) O receio de que os 2.300 dias representassem uma tardança no cumprimento da promessa de libertação motivou a oração de Daniel em prol de seu povo (Daniel 9:3-19). Sabendo que as promessas de Deus são condicionais (Jeremias 18:7-10) e concluindo que a transgressão de Israel era responsável pelo que ele considerava uma extensão dos 70 anos, Daniel suplicou pela misericórdia de Deus e pelo Seu perdão. Que o idoso profeta realmente estava enxergando as coisas sob essa ótica, pode-se deduzir de seu apelo final para que o Senhor não retardasse Sua intervenção (Daniel 9:19).
5) Uma comparação cuidadosa entre o capítulo 9 de Daniel, em que se faz referência às transgressões cometidas pelos judeus, ao mal que sobreveio à cidade de Jerusalém e à assolação do Templo, e os elementos do capítulo 8, em que se retrata um brutal ataque contra o Santuário de Deus, em virtude das transgressões do povo, torna evidente que Daniel tinha o problema diante de si enquanto orava.
6) Após a visão, Gabriel recebera a incumbência: “Dá a entender a este a visão.” Ao iniciar suas instruções, o anjo dissera a Daniel: “Entende, filho do homem, pois esta visão se refere ao tempo do fim.” “Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira, porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim.” Daniel 8:16, 17 e 19. Mas, como, nessa ocasião, nem tudo fora devidamente explicado e visto que Daniel entendera mal a parte derradeira da visão, Gabriel teve que retornar para completar sua tarefa. Por isso, interrompendo a oração do profeta, disse o mensageiro de Deus: “Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão.” Daniel 9:23. O objetivo de Gabriel, nessa nova visita, era o de projetar mais luz sobre o período profético mencionado na visão do capítulo precedente e, dessa forma, dissipar as conclusões equivocadas obtidas pelo profeta. Que Daniel estivesse pensando na visão recebida anteriormente também pode ser comprovado pela maneira como ele identifica o anjo do Senhor: “Falava eu, digo, falava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na minha visão ao princípio, veio rapidamente, voando, e me tocou à hora do sacrifício da tarde.” Daniel 9:21.
7) Entretanto, uma das mais fortes evidências sobre a estreita conexão entre as 2.300 tardes e manhãs e as 70 semanas está em 2 vocábulos hebraicos empregados em Daniel 8 e 9.
A palavra “visão”, conforme aparece nesses capítulos, é tradução de 2 vocábulos diferentes no original. Em Daniel 8:1, 13, 15, 17 e 26 (última parte);  e 9:21 e 24, o termo utilizado é  (chazon), enquanto que, em Daniel 8:16, 26 (primeira parte) e 27; e 9:23, o termo utilizado é  (mareh).
A palavra “chazon” é utilizada em Daniel 8 e 9 para se referir à visão como um todo, incluindo os elementos do carneiro, do bode e da ponta pequena: “No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, eu, Daniel, tive uma visão depois daquela que eu tivera a princípio.” Daniel 8:1. Logo após a declaração concernente às 2.300 tardes e manhãs, a visão se encerrou, pois, no versículo 15, o profeta assim se expressa: “Havendo eu, Daniel, tido a visão (chazon), procurei entendê-la, e eis que se me apresentou diante uma como aparência de homem.” . Nesse momento, o anjo Gabriel se aproximou e deu início à sua exposição. Após ter elucidado os principais elementos da visão, Gabriel mencionou o período profético indicado no verso 14: “A visão (mareh) da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, preserva a visão (chazon), porque se refere a dias ainda mui distantes. Eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias; então, me levantei e tratei dos negócios do rei. Espantava-me com a visão (mareh), e não havia quem a entendesse.” Daniel 8:26 e 27. Esse trecho se reveste de vital importância porque as 2 palavras para “visão” aparecem com pequena distância entre si, permitindo uma comparação mais detalhada de seu significado. O vocábulo “mareh” é nitidamente associado a algo que foi dito na visão do capítulo 8. É importante notar que os versos 1-12 se referem a coisas que Daniel viu, ao passo que somente nos versos 13 e 14 se diz que o profeta ouviu algo. Tendo isso em vista, percebe-se que a palavra “mareh” não alude à visão na sua totalidade, mas somente àquilo que foi dito. Isso se torna ainda mais evidente quando se observa que o texto diz que a “mareh da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira”. Em outras palavras, o termo “visão”, enquanto tradução de “mareh”, só se refere ao elemento “tempo” envolvido, o período das 2.300 tardes e manhãs, que consiste na única parte em que algo é falado na revelação. Dessa forma, quando o profeta exclamou que se espantava com a visão (mareh), sua  intenção não era aludir a todos os elementos da revelação anteriormente recebida, tais como o carneiro e o bode. Isso seria ilógico, tendo em vista que Gabriel explicara o significado desses símbolos. A mente de Daniel estava voltada especificamente para o período de tempo mencionado.
Para arrematar, então, a conclusão de que as 70 semanas são um complemento às 2.300 tardes e manhãs, basta uma leitura atenciosa dos termos empregados nos versos 21 e 23 do capítulo 9. Após mencionar o anjo Gabriel, que ele “tinha observado” na sua “visão (chazon) ao princípio”, Daniel registra as palavras que aquele mensageiro do Senhor lhe dirigiu: “No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão (mareh).”. O uso da palavra “mareh”, nessa última passagem, demonstra que o anjo Gabriel havia retornado, não para explicar todas as partes da visão do capítulo precedente, mas apenas aquela referente ao elemento “tempo envolvido”, isto é, os 2.300 dias.
Com essas observações, não há como se contestar a íntima relação entre Daniel 8 e 9 e a real necessidade do estudo concatenado das 70 semanas e das 2.300 tardes e manhãs.

Bibliografia:
Comentário a Daniel 9:21, em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 4. Editor: Francis D. Nichol. Washington, D.C.: The Review and Herald Publishing Association, Revised, 1.976.
SHEA, William H., “The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and Daniel 9”, The Sanctuary and the Atonement – Biblical, Historical and Theological Studies, preparado pelo Biblical Research Committee of the General Conference of the Seventh-day Adventists. Editores: Arnold V. Wallenkampf e W. Richard Lesher. Washington, D.C.: The Review and Herald Publishing Association.
GOLDSTEIN, Clifford, 1.844 – Uma Explicação Simples das Principais Profecias de Daniel, tradução de Regina Motta, primeira edição, Tatuí, SP.: Casa Publicadora Brasileira, 1.998.

4 - Qual a melhor tradução para a palavra “chatak”     (determinadas) de Daniel 9:24?
A palavra “determinadas”, em Daniel 9:24, é tradução do vocábulo hebraico  (chatak), que nessa passagem aparece na sua forma Niphal (voz passiva do hebraico): Segundo o Gesenius Hebrew and Chaldee Lexicon to the Old Testament, à página 314, um dos significados para “chatak” é “cortar”. O mesmo sentido é dado pelo Professor Marcus Jastrow, em seu dicionário, publicado pela Judaica Press, Inc. New York, 1.992.
A palavra “chatak” só ocorre uma vez em toda a Bíblia, precisamente em Daniel 9:24, e é geralmente traduzida por “determinadas” (Almeida Revista e Atualizada e Almeida Revista e Corrigida), “fixadas” (Tradução dos Monges de Maredsous e Bíblia de Jerusalém), “decretadas”. Embora os tradutores soubessem que o real sentido de “chatak” é “cortar” ou “dividir”, eles nem sempre conseguiram entender de que forma tal palavra poderia fazer sentido se fosse traduzida literalmente, de maneira que propuseram as alternativas apresentadas nas versões citadas acima. No entanto, levando em conta que o anjo Gabriel viera com o definido propósito de fornecer algumas informações adicionais sobre o período dos 2.300 dias, fica evidente que a tradução exata de “chatak” é “cortar”, sendo as 70 semanas separadas daquele período.

Bibliografia:
Gesenius Hebrew and Chaldee Lexicon to the Old Testament, quarta edição. Grand Rapids, Mich: Baker Book House, 1.981.
JASTROW, Marcus, Dictionary of the Targumim, Talmud Babli, Yerushalmi and Midrashic Literature, New York: Judaica Press, Inc., 1.992.
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, R. Laird Harris Organizador, tradução de Márcio Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1.998.

5 - Qual o ponto de partida das 70 semanas?
A localização do início das 70 semanas não é uma tarefa tão fácil como se poderia deduzir em princípio. A primeira grande dificuldade se encontra no fato de que a palavra  (dabar), vertida como “ordem” em Daniel 9:25, e que geralmente é encarada como sendo um decreto humano, aparece associada, no verso 23, a um mandado divino: “No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem (dabar), e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa (dabar) e entende a visão.”. No mesmo capítulo, esse vocábulo aparece associado a uma sentença de Deus pronunciada pelo profeta Jeremias: “No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi, pelos livros, que o número de anos, de que falara (dabar) o SENHOR ao profeta Jeremias, que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos.” Daniel 9:2. O mesmo ocorre no versículo 12. Assim, surge a incerteza se a referência é a um decreto humano ou a uma ordem divina.
Se a intenção é referir-se a um decreto humano, o problema se quadruplica, pois durante o domínio medo-persa, a Bíblia informa que 3 decretos foram expedidos em prol dos judeus, além de algumas cartas entregues a Neemias. Trata-se dos decretos de Ciro, de Dario e de Artaxerxes. A seguir, serão arroladas as principais características desses 3 decretos.

  • Decreto de Ciro, o Grande.

Após a queda do Império Babilônico, Ciro, o Grande, resolveu conceder liberdade à nação judaica. Para tanto, expediu um decreto, no primeiro ano de seu reinado (538/537 A.C.), pelo qual se permitia que todos os judeus retornassem a Jerusalém com o fim de reconstruir o Santuário de Deus (Esdras 1). Em decorrência disso, uma grande expedição voltou de Babilônia, sob o comando de Zorobabel, e deu-se início à restauração do Templo (Esdras 3).

  • Decreto de Dario I, Histaspes.

Após o reinado de Cambises e o período em que um usurpador, conhecido como o falso Smerdis, esteve à frente dos negócios da Pérsia, os inimigos do povo de Israel, percebendo que as obras de reconstrução progrediam, escreveram uma carta ao rei Dario, alertando-o do risco daquele empreendimento, pois os judeus poderiam se tornar poderosos, assim como seus soberanos o foram outrora, e “sacudir de seus ombros o jugo medo-persa”. Dario ordenou, então, que se fizesse uma busca nos arquivos reais para se verificar a existência ou não de alguma disposição de seus antecessores quanto à obra ora em andamento na Judéia. Descobriu-se que Ciro, o Grande, havia dado essa permissão, o que levou Dario não somente a confirmar o decreto anterior, como também a assumir as despesas daquele serviço (Esdras 6).

  • Decreto de Artaxerxes I, o Longímano.

Embora o Templo houvesse sido concluído no sexto ano do reinado de Dario, o livro de Esdras também menciona Artaxerxes entre os que contribuíram para o trabalho de reconstrução: “Os anciãos dos judeus iam edificando e prosperando em virtude do que profetizaram os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido. Edificaram a casa e a terminaram segundo o mandado do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia.” Esdras 6:14. Isso ocorre porque Artaxerxes também emitiu um decreto, no qual liberava recursos para a realização dos serviços do Santuário, além de permitir que mais uma numerosa expedição de judeus retornasse a Jerusalém. No entanto, provavelmente o elemento mais relevante desse decreto seja a concessão de uma certa autonomia política à nação judaica: “Tu, Esdras, segundo a sabedoria do teu Deus, que possuis, nomeia magistrados e juízes que julguem a todo o povo que está dalém do Eufrates, a todos os que sabem as leis de teu Deus, e ao que não as sabe, que lhas façam saber. Todo aquele que não observar a lei do teu Deus e a lei do rei, seja condenado ou à morte, ou ao desterro, ou à confiscação de bens, ou à prisão.” Esdras 7:25 e 26.
Alguns anos após esse decreto, o rei Artaxerxes entregou certas cartas particulares a Neemias, que presto retornou a Jerusalém para reconstruir suas muralhas. Embora alguns autores se refiram a essas cartas como um quarto decreto, deve-se observar que elas não possuem o mesmo status dos demais documentos. Esdras registra que Ciro “fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito”, ao expedir seu decreto. Esdras 1:1. Além disso, Esdras 6:3 também testifica do caráter público (oficial) desse decreto. O mesmo testemunho é dado quanto ao decreto de Dario (Esdras 6). A ordem registrada em Esdras 7 é a que fornece maiores evidências de seu status oficial, pois foi assinada pelo rei e pelos seus 7 conselheiros (Esdras 7:14, 15, 28; 8:25). Por outro lado, as cartas dadas a Neemias eram de natureza meramente pessoal e tinham como objetivo liberar o fornecimento de madeira para a reconstrução das muralhas de Jerusalém (Neemias 2).

O Decreto de Artaxerxes – Ponto de Partida das 70 Semanas.
Visto que, de todos os decretos mencionados no livro de Esdras, o único que permite o perfeito cumprimento das especificações de Daniel 9:24-27 é o de Artaxerxes I, esse deve ser considerado como o referido para o início das 70 semanas. No entanto, levando em conta que a palavra “dabar” é usada em Daniel 9:23 para se referir a uma ordem divina e que Esdras 6:14 informa que a reconstrução do Templo foi executada segundo o mandado do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, deve-se visualizar uma progressão na formação da ordem mencionada em Daniel 9:25, a qual teve sua origem na vontade de Deus e só se consumou com a expedição do Edito mencionado em Esdras 7.

6 - Por que a segmentação do período destinado ao batismo de Jesus em 7 e 62 semanas?
Daniel 9:25 não deixa claro qual acontecimento marcaria o término das 7 semanas proféticas iniciais. No entanto, a menção aos “tempos angustiosos”, em que “as praças e as circunvalações” de Jerusalém seriam reedificadas, traz à recordação o relato de Neemias (capítulos 4 e 6) sobre as hostilidades dos samaritanos contra os operários envolvidos na reconstrução dos muros, o que conduz à conclusão de que essa primeira porção das 70 semanas se refira à reconstrução da cidade. Contudo, embora tudo indique que tal entendimento esteja correto, as informações históricas desse período são bastante fragmentárias, não permitindo a verificação de que aquele era, de fato, o  acontecimento intencionado pela profecia.

7 - Por que as 69 semanas terminam no ano 27 e não no ano 26 da Era Cristã? Como processar o cálculo?
À primeira vista, se as 69 semanas proféticas, ou 483 dias-anos, têm início no ano 457 A.C., o batismo de Jesus deveria ocorrer no ano 26 A.D., pois 483 – 457 = 26. No entanto, visto que o ano zero nunca existiu, esse cálculo deve ser efetuado de outro modo.
Da maneira como são usualmente dispostos, os anos A.C. e A.D. representam uma escala, em que a primeira parte é decrescente (ou regressiva) e a segunda é crescente (ou progressiva). Nessa escala, inexiste o ano zero, pois o ano 1 A.C. é seguido pelo ano 1 A.D..
A falta de um ano zero impede a realização de cálculos que utilizem simultaneamente anos A.C. e A.D., como se pode verificar pelo seguinte exemplo:
Se o número cardinal 10 for subtraído pelo número 3, o resultado será 7. A representação gráfica dessa conta pode ser feita de 2 maneiras:
Primeira maneira: 10 – 3 = 7
Segunda maneira: conforme o gráfico abaixo

Isso demonstra que, em qualquer subtração, o número zero é automaticamente utilizado. Visto, porém, que entre os anos A.C. e A.D. não existe um ano zero, sentiu-se a necessidade da criação de uma escala, o mais semelhante possível com a vigente, para a qual fosse possível converter as datas em uso, com a existência de um ano que correspondesse ao zero. Nessa nova escala, tomando-se o ano 1 A.D. como +1, os anos seguintes seguem a progressão indefinidamente. O ano 1 A.C. passa a representar o zero, o ano 2 A.C. torna-se o –1, o ano 3 A.C. torna-se o –2, sendo que tal proporção se repete ininterruptamente. O gráfico abaixo ilustra bem a relação entre essas 2 escalas. Por ser utilizada predominantemente pelos astrônomos, a escala que contém o ano zero é chamada de astronômica. Ela foi idealizada por Jacques Cassini, em meados do século XVIII.

Tabela de Conversão para a Escala Astronômica:
7
a.C.
6
a.C.
5
a.C.
4
a.C.
3
a.C.
2
a.C.
1
a.C.
1
a.D.
2
a.D.
3
a.D.
4
a.D.
5
a.D.
6
a.D.
7
a.D.
-6-5-4-3-2-10+1+2+3+4+5+6+7
a.C. = Antes de Cristo
a.D. = Depois de Cristo

Com tudo isso, percebe-se claramente porque as 69 semanas (483 anos) findam no ano 27. O ano 457 A.C. equivale a – 456 da escala astronômica, de maneira que o cálculo resulta em + 27, que corresponde ao ano 27 da Era Cristã: 483 – 456 = + 27.

8 - As 69 semanas realmente apontavam para o batismo de Jesus?
Conforme Daniel 9:25, “desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até ao Ungido, ao Príncipe” transcorreriam 69 semanas proféticas. O evento indicado nessa passagem se refere ao batismo de Jesus e não ao Seu nascimento, como alguns poderiam imaginar. Foi por ocasião de Seu batismo que Jesus foi ungido pelo Espírito Santo, pois, segundo os evangelistas, ao sair da água, “o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo.” Lucas 3:21 e 22. Ver também Mateus 3:16 e 17; Marcos 1:10 e 11; e João 1:32 e 33. Essas palavras trazem à lembrança uma profecia de Isaías, proferida vários séculos antes, com respeito ao Messias: “Eis aqui o Meu servo, a Quem sustenho; o Meu escolhido, em Quem a Minha alma Se compraz; pus sobre Ele o Meu Espírito, e Ele promulgará o direito para os gentios.” Isaías 42:1.
Marcos informa que após ter sido batizado e ter enfrentado Satanás no deserto, “foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.” Marcos 1:14 e 15. Percebe-se aí uma clara alusão ao período delineado na profecia de Daniel.
O próprio João Batista sabia que sua missão era manifestar o Messias a Israel. As palavras de João, registradas pelo discípulo amado, revelam a importância do batismo de Jesus como o momento em que Ele deu início ao Seu ministério público: “Eu mesmo não O conhecia, mas, a fim de que Ele fosse manifestado a Israel, vim, por isso, batizando com água.” João 1:31.
Pouco tempo depois de Seu batismo, Jesus usou uma profecia de Isaías, em que se menciona a unção do Enviado do Senhor, para revelar a verdadeira natureza de Seu ministério: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” Lucas 4:18 e 19. Ver também Isaías 61:1 e 2.
A ideia de que Jesus fora ungido pelo poder do Espírito de Deus também aparece numa oração dos discípulos de Jesus, na qual se diz que “os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o Seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o Teu santo Servo Jesus, ao Qual ungiste.” Atos 4:26 e 27.
Talvez a passagem mais clara sobre o assunto, revelando a íntima relação entre o batismo de Jesus, Sua unção pelo Espírito Santo e o início de Seu ministério messiânico, seja a de Atos 10:37 e 38: “Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galiléia, depois do batismo que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o Qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele.”. Desse texto se extrai, com clareza, que, por ocasião de Seu batismo, Jesus foi ungido pelo Espírito Santo e começou Sua obra de pregação do Evangelho.

9 - O que Daniel 9:26 quer dizer ao se referir a um “dilúvio”?
A menção a um “dilúvio” em Daniel 9:26 nada tem a ver com uma inundação literal e sim com a invasão da Judéia pelos exércitos romanos, liderados pelo general Tito, no ano 70 da Era Cristã. Essa linguagem é familiar na Bíblia, como se pode extrair dos seguintes textos:
Predizendo a invasão do reino de Israel pelas hostes da Assíria, assim se expressou o profeta Isaías: “Eis que o Senhor fará vir sobre eles as águas do Eufrates, fortes e impetuosas, isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória; águas que encherão o leito dos rios e transbordarão por todas as suas ribanceiras. Penetrarão em Judá, inundando-o, e, passando por ele, chegarão até ao pescoço; as alas estendidas do seu exército cobrirão a largura da tua terra, ó Emanuel.” Isaías 8:7 e 8.
Referindo-se ao exército babilônico, predisse o profeta Jeremias: “Assim diz o SENHOR: Eis que do Norte se levantam as águas, e se tornarão em torrentes transbordantes, e inundarão a terra e a sua plenitude, a cidade e os seus habitantes; clamarão os homens, e todos os moradores da terra se lamentarão.” Jeremias 47:2.
O próprio livro de Daniel deixa claro o significado dessa figura de expressão: “As forças inundantes serão arrasadas de diante dele; serão quebrantadas, como também o Príncipe da aliança.” Daniel 11:22. “No tempo do fim, o rei do Sul lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra ele com carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará nas suas terras, e as inundará, e passará.” Daniel 11:40.

10 - Quem é o “Ele” de Daniel 9:27?
Muitos expositores das profecias têm identificado o “Ele” de Daniel 9:27 como sendo o Anticristo; outros tantos vêem nele o rei selêucida Antíoco IV Epifânio. Além disso, eles dissociam o Ungido dos versos 25 e 26 do “Ele” do verso 27, entendendo que a primeira referência seja a Cristo e a última ao futuro perseguidor de Israel. Alguns estudiosos chegam mesmo a defender que Daniel 9:25-27 esteja se referindo a 3 pessoas distintas: Ciro, o Grande , rei da Medo-Pérsia (verso 25); Onias III, sumo sacerdote judeu, martirizado durante o reinado de Antíoco Epifânio (verso 26); e o próprio Antíoco (verso 27).
Os que interpretam o “Ele” como sendo o futuro Anticristo, diferenciando-o do Ungido (Cristo) dos versos precedentes, alegam que a menção ao “fim” do tempo, no final no verso 26, projeta o cumprimento do versículo 27 para além do primeiro século. Afirmam ainda que o “Ele” não poderia se referir ao Ungido, pois seu antecedente imediato é o “príncipe que há de vir”.
Os que sustentam a existência de 3 personagens diversos em Daniel 9:25-27 apontam para o fato de que o Ungido mencionado no verso 25 é claramente descrito como sendo “Príncipe”, o que não ocorre com o Ungido do verso 26. Além disso, o “Ele” do verso 27, assim como o “príncipe que há de vir” do verso anterior, faz “cessar o sacrifício e a oferta de manjares”, o que parece indicar uma ação de ímpios, não aprovada por Deus.
Nenhuma dessas considerações é suficiente para derrubar a posição tradicional que vê em Daniel 9 uma predição acerca do Messias, inclusive o verso 27

As evidências elencadas a seguir demonstrarão a razão de se considerar o “Ele” como uma referência a Jesus:
1) A passagem paralela de Daniel 11:22 se revela um importante argumento em prol da posição que vê no “Ele” de Daniel 9:27 a mesma pessoa que o Ungido dos versos 25 e 26: “As forças inundantes serão arrasadas de diante dele; serão quebrantadas, como também o Príncipe da aliança.”. Isso pode ser confirmado mediante uma cuidadosa comparação entre essas 2 passagens.

Daniel 11
Daniel 9
PríncipeUngido, Príncipe (verso 25)
Arrasado / QuebrantadoUngido que é morto (verso 26)
AliançaUm que firma a aliança (verso 27)

O fato de que todos os elementos dos versos 25, 26 e 27 de Daniel 9 se encontram reunidos em uma só pessoa no capítulo 11 demonstra que não é coerente a separação proposta pelos defensores da teoria de Antíoco ou do Anticristo.
2) Uma leitura mais atenciosa dos versos 26 e 27 revela a inviabilidade de se associar o “Ele” com o “príncipe que há de vir”. Deve-se notar que “príncipe” está em subordinação a “povo”, de forma que os antecedentes do “Ele” só poderiam ser o “povo do príncipe que há de vir” ou o “Ungido”, o “Príncipe”, que é morto. Esta última relação é mais apropriada, pois encontra um paralelo em Daniel 11:22.
3) Outro ponto desfavorável à identificação do “Ele” como sendo o Anticristo está na total carência de passagens bíblicas que revelem um futuro opositor de Deus e de Seu povo firmando alguma aliança. Por outro lado, em várias partes das Escrituras, tanto no Antigo quanto em o Novo Testamento, a idéia de aliança aparece associada ao Messias:

Passagens de Isaías que associam o Servo do Senhor à aliança:
“Eis aqui o Meu servo, a Quem sustenho; o Meu Escolhido, em Quem a Minha alma Se compraz; pus sobre Ele o Meu Espírito, e Ele promulgará o direito para os gentios... Eu, o SENHOR, Te chamei em justiça, tomar-Te-ei pela mão, e Te guardarei, e Te farei mediador da aliança com o povo e luz para os gentios.” Isaías 42:1 e 6.
“Diz ainda o SENHOR: No tempo aceitável, Eu Te ouvi e Te socorri no dia da salvação; guardar-Te-ei e Te farei mediador da aliança do povo, para restaurares a terra e lhe repartires as herdades assoladas.” Isaías 49:8.

Passagem de Malaquias que associa o vindouro Messias à aliança:
“Eis que Eu envio o Meu mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim; de repente, virá ao Seu templo o Senhor, a Quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a Quem vós desejais; eis que Ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos.” Malaquias 3:1. Comparar com Mateus 11:10; Marcos 1:2-4; e Lucas 1:76 e 7:27, em que João Batista é definidamente identificado com o Mensageiro que deveria preparar a vinda do Anjo da Aliança, isto é, do Salvador da humanidade.

Passagens da Epístola aos Hebreus que confirmam o vínculo entre Jesus e o Concerto Eterno:
“Por isso mesmo, Jesus Se tem tornado fiador de superior aliança.” Hebreus 7:22.
“Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é Ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas.” Hebreus 8:6.
“Por isso mesmo, Ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados.” Hebreus 9:15.
“De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?” Hebreus 10:29.
“E a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel.” Hebreus 12:24.
“Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança.” Hebreus 13:20.

4) Outro argumento em prol do ponto de vista que considera Daniel 9:27 uma profecia relativa a Jesus Cristo pode ser extraído de Hebreus 9:15-17: “Por isso mesmo, Ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador.”
O vocábulo grego  (diatheke), vertido como “testamento” nos versos 16 e 17 do trecho citado acima, é o termo comumente empregado pelo Novo Testamento para “concerto”, “pacto”, “aliança”. Aliás, essa é a tradução adotada pela Versão Almeida Revista e Atualizada em Hebreus 9:15, também citado acima, em que se diz que Cristo “é o Mediador da nova aliança”. Destarte, o real sentido da parte destacada no texto transcrito é que “onde existe uma aliança, é necessário que intervenha a morte daquele que a estabelece”. Tal asserção, quando sobreposta a Daniel 9:25-27, encaixa-se perfeitamente, pois do “Ele” que “firma a aliança” (verso 27) se diz que “será morto”, “e já não estará” (verso 26). Isso não somente ratifica a idéia de que o versículo 27 esteja se referindo ao Ungido, como também o vincula à pessoa de Jesus, cuja morte deu validade ao Concerto Eterno.

Observação:  
Talvez alguns julguem estranha a afirmação de Hebreus de que “onde existe uma aliança, é necessário que ocorra a morte do que a estabelece”, pois isso não se afigura verdadeiro num mero contrato ou acordo entre 2 ou mais pessoas. No entanto, se o pano de fundo dessa epístola, que é o contraste entre a Aliança Provisória do Sinai e a Aliança Eterna proposta por Jesus, for levado em consideração, a afirmativa estará totalmente justificada. Ao ser firmada a Antiga Aliança, Moisés aspergiu o povo e o Livro da Lei com o sangue de certos animais que haviam sido sacrificados, dizendo: “Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez conosco acerca de todas estas palavras.” Êxodo 24:8. Séculos mais tarde, ao instituir a cerimônia da Santa Ceia, Jesus pronunciou palavras semelhantes: “Bebei dele todos [referindo-se ao cálice que estava em Suas mãos]; por que isto é o Meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” Mateus 26:27 e 28. Dessa forma, tendo em mente que a Antiga Aliança não foi ratificada sem sangue e que a Nova Aliança foi confirmada pelo sangue de Cristo, o autor de Hebreus conclui que “onde existe uma aliança, é necessário que intervenha a morte do que a estabelece”
Poderão alguns alegar que o sentido se tornará mais natural se o vocábulo “diatheke” for traduzido por “testamento” nos versos 16 e 17 e por “aliança” nas demais passagens, assim como fez a V.A.R.A., admitindo que o autor quis realizar um jogo de palavras no trecho em comento. É bem possível que esse seja o caso, o que, no entanto, não destrói as conclusões já concebidas, pois, num jogo de palavras, ocorre a duplicação do sentido do texto, podendo os versos 16 e 17 se referir simultaneamente a uma aliança e a um testamento.
5) Na noite da Última Páscoa, quando estava assentado à mesa com os discípulos, Jesus fez ecoar as palavras de Daniel 9:27 ao oferecer o cálice: “Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” Mateus 26:27 e 28. Com isso, Jesus nitidamente Se identificou com o “Ele” que  torna firme a aliança, o que confirma a idéia de que a referência não é nem ao Anticristo, nem a Antíoco Epifânio. Ver também Marcos 14:23 e 24 e 1 Coríntios 11:25.
6) Os antigos judeus também entendiam Daniel 9:27 como uma alusão à obra do Messias. É o que se extrai de um trecho dos escritos do Mar Morto –  11Qmelquisedec (11Q13 [11Qmelch]) – o qual se refere ao “ungido do espírito do qual falou Daniel” em estreita conexão com “os que estabelecem a aliança”:
“Este é dia d[a paz do qual] falou [Deus desde antigamente pelas palavras de Isa]ias o profeta, que disse: “Que] belos são 16 sobre os montes os pés do proclamador que anuncia a paz, do pro[clamador do bem que anuncia a salvação,] dizendo a Sião: ‘teu Deus [reina’”.] 17 Sua interpretação: Os montes são os profe[tas...] 18 E o proclamador é [o un]gido do espírito do qual falou Da[niel... e o proclamador do] 19 bem que anuncia a salva[ção é aquele do qual está escrito que [ele o enviará “para consolar os aflitos, para vigiar sobre os aflitos de Sião”.] 20 “Para conso[lar os aflitos”, sua interpretação:] para instruí-los em todos os tempos do mun[do...] 21 em verdade. [...] 22 [...] ela foi apartada de Belial e ela [...] 23 [...] nos juízos de Deus como está escrito sobre ele: “Dizendo a Sião: ‘teu Deus reina’”. [“Si]ão, é 24 [a congregação de todos os filhos de justiça, os] que estabelecem a aliança, os que evitam andar [pelo ca]minho do povo. “Teu Deus”, é 25 [... Melquisedec, que os livra]rá da mão de Belial. E o que diz: “Fareis soar o chi[fre em to]do o país”.” (MARTÍNEZ, Florentino García, Textos de Qumran, editora Vozes, Petrópolis, 1.995, p. 181). 

Nesse trecho, que traz um comentário sobre Isaías 52:7, “o que anuncia as boas novas” “a Sião” é identificado com “o ungido do espírito do qual falou Daniel”, e “Sião” é definido como o grupo dos “que estabelecem a aliança”, o que demonstra o entendimento, por parte dos judeus essênios, de que o personagem descrito em Daniel 9:24-27 é o Messias – Confirmador da aliança.

Bibliografia:
MARTÍNEZ, Florentino García, Textos de Qunram, tradução de Valmor da Silva, Petrópolis, R.J.: Editora Vozes Ltda., 1.995.

11 - A que “aliança” Daniel 9:27 está se referindo?
A “aliança” a que se faz referência nesse texto é o Concerto Eterno, um pacto firmado entre Deus e Suas criaturas pelo qual estas poderiam ser reintegradas ao favor divino. A vida e as bênçãos do Céu são patenteadas aos seres criados dotados de raciocínio sob condição de perfeita obediência; assim, quando Adão transgrediu a ordem do Criador, a raça humana ficou desprovida do direito a qualquer desses benefícios. Contudo, já no Éden, Deus renovou Seu Concerto com Adão, prometendo-lhe que, através de Um de seus descendentes, a raça seria restaurada à sua condição original. Esse Concerto, juntamente com sua promessa de salvação, foi renovado a Noé, a Abraão, a Isaque e a Jacó. Segundo a profecia de Daniel, Cristo viria para “fazer firme aliança com muitos”. O real sentido da palavra hebraica  (gabar), traduzida por “fazer firme” em Daniel 9:27, é o de “confirmar” ou “fortalecer”. Portanto, Cristo viria para “confirmar a aliança” anteriormente firmada com os patriarcas; e isso, consoante Daniel 9:27, seria realizado por uma semana profética (ou 7 anos), a qual se estendeu do ano 27 ao ano 34 da Era Cristã. Na primeira metade desse período, Cristo realizaria essa obra pessoalmente, enquanto que, na segunda metade do mesmo, Ele a faria por intermédio dos Seus discípulos. Durante Seu ministério terrestre, Cristo apresentou as cláusulas do Concerto Eterno, pelas quais qualquer pessoa poderia se reconciliar com Deus, e no final de Sua obra, depois de ter tomado sobre Si os pecados de toda a raça humana, morreu sobre a Cruz do Gólgota, para livrá-la da condenação imposta pela Lei. Em suma, a obra predita pela profecia de Daniel era a de “tornar vitorioso o plano da salvação”.
As passagens que demonstram ser a Aliança Eterna a intentada nesse texto estão elencadas na resposta à pergunta anterior (n.º 10) sobre a identidade do “Ele”.

12 - Quem são os “muitos” com quem o Messias confirmaria a aliança?
Os “muitos” referidos em Daniel 9:27 são todos aqueles que aceitam o plano de salvação oferecido por Deus e com ele se comprometem. As passagens a seguir dão sustentação a esse entendimento:
“Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.” Mateus 8:11. Ver também Lucas 13:29.
“Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos.” Mateus 20:28. Ver também Marcos 10:45.
“Porque isto é o Meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” Mateus 26:28. Ver também Marcos 14:24.
“Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos.” Romanos 5:15.
“Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.” Romanos 5:19.
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” Romanos 8:29.
“Porque convinha que Aquele, por cuja causa e por Quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles.” Hebreus 2:10.
“Assim também Cristo, tendo-Se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O aguardam para a salvação.” Hebreus 9:28.
Em Apocalipse 7:9, esses “muitos” são mencionados como uma grande multidão, que ninguém podia contar, proveniente de todos os povos da terra, que são os resgatados do pecado e de sua terrível conseqüência, a morte eterna.

13 - Em que sentido as 70 semanas são um período de graça concedido ao povo judeu?
Em certa ocasião, sendo interrogado por Pedro sobre até quantas vezes se deveria perdoar a um irmão, Jesus declarou: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Mateus 18:21 e 22. É possível que as palavras de Cristo estivessem ecoando Daniel 9:24, pois ali se estabelece um período de 70 semanas (70 x 7 = 490) “sobre o teu povo (Israel) e sobre a tua santa cidade (Jerusalém)”. Dessa forma, as 70 semanas são na verdade um período de graça destinado à raça eleita para que ela pudesse atender à voz de Deus. Segundo as Escrituras, após o término desse período (no ano 34 A.D.), o povo judeu foi rejeitado como o agente pelo qual Deus desejava comunicar o Evangelho de Sua graça ao mundo. As evidências escriturísticas para isso estão enumeradas abaixo:
1) Na semana de Sua crucifixão, Jesus narrou uma parábola, segundo a qual um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns lavradores e se ausentou do país. Depois, esse senhor enviou seus servos para receber a sua parte, mas os lavradores maltrataram alguns desses servos, assassinaram a outros e não entregaram a porção devida ao dono da vinha. Então o senhor enviou mais outros servos, os quais foram tratados da mesma forma. Por fim, o senhor enviou seu próprio filho na esperança de que fosse respeitado, mas, ao invés disso, também esse foi assassinado. Após contar essa parábola, Jesus perguntou aos líderes judeus que com Ele debatiam: “Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?” Mateus 21:40. A resposta irrefletida de Seus interlocutores foi: “Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.” Mateus 21:41. Jesus, então, confirmando a acertada resposta dos sacerdotes e fariseus, sentenciou: “Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.” Mateus 21:43.
O sentido dessa parábola é por demais evidente para ser olvidado. A vinha representa Israel (Salmos  80:8 e Isaías 5:7); seu dono é Deus; os lavradores representam os judeus; os servos, os profetas; e o filho é Jesus. A lição é clara: visto que os judeus rejeitaram a mensagem dos profetas e de Cristo, o reino de Deus lhes seria tirado e entregue a um outro povo, que produzisse frutos de obediência, uma alusão à Igreja Cristã.
O mesmo relato é encontrado em Marcos 12:1-12 e Lucas 20:9-18.
2) O apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos tessalonicenses, disse-lhes que haviam se tornado “imitadores das igrejas de Deus existentes na Judéia em Cristo Jesus”, pois estavam suportando pacientemente de sua gente “as mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos judeus, os quais não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida de seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles, definitivamente.” 1 Tessalonicenses 2:14-16. Essa idéia é confirmada por Paulo em Romanos 11:15, em que se diz que os judeus foram rejeitados como o agente de Deus para a divulgação das boas novas. Além disso, nesse mesmo capítulo (Romanos 11), a rejeição de Israel é ilustrada pela figura de uma oliveira, cujos ramos naturais são quebrados (versos 17, 19, 20 e 21) e novos ramos são enxertados (os gentios).
3) Certa vez, quando Jesus enviou Seus 12 discípulos a pregar o Evangelho, deu-lhes a seguinte recomendação: “Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel.” Mateus 10:5 e 6. Essa preferência pela raça eleita também foi ilustrada através das parábolas das bodas (Mateus 22:1-14) e da grande ceia (Lucas 14:15-24). Em certa ocasião, quando uma mulher cananéia rogou ao Mestre que expulsasse o demônio de sua filha, Ele lhe respondeu: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” e “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. Mateus 15:21-28 e Marcos 7:24-30. Porém, após a morte de Cristo (em 31 A.D.), o apedrejamento de Estevão (em 34 A.D.), e a subseqüente perseguição à Igreja (no mesmo ano), Paulo, percebendo a dureza de coração de seus concidadãos, anunciou: “Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios.” Atos 13:46. Essa sentença, motivada pelo Espírito Santo de Deus, demonstra que a nação eleita, em razão de seus pecados e de sua completa rejeição ao Santo Evangelho, perdeu o privilégio de ser o arauto da mensagem de Cristo às nações dos 4 cantos da terra.

14 - O “sacrifício e a oferta de manjares” seriam tirados durante a metade da última semana ou no meio dela?
A palavra hebraica traduzida por “metade” (heb.:  - chetsi) pela Versão Almeida Revista e Atualizada também poderia ter sido vertida para o Português como “meio”. Os tradutores que vêem em Daniel 9:27 uma referência a Antíoco Epifânio ou a um futuro Anticristo preferem a tradução “metade de uma semana”. Por outro lado, os que defendem que a referência é ao Messias optam pela tradução “meio da semana”. Uma discussão mais detalhada sobre a verdadeira identidade do “Ele” em Daniel 9:27 pode ser encontrada na resposta à pergunta 10.
Embora um grande número de versões modernas adote a tradução “metade de uma semana”, essa escolha não é a mais acertada, pois quando “chetsi” está em “status constructus” com um período de tempo, sempre significa “meio” e nunca “metade”. É o que ocorre em todas as seguintes passagens: Êxodo 12:29; Josué 10:13; Juízes 16:13; Rute 3:8; e Jeremias 17:11. A percepção desse detalhe assegura que o ato de “fazer cessar o sacrifício e a oferta de manjares” deveria ocorrer no meio da septuagésima semana da profecia de Daniel, o que se cumpriu perfeitamente por ocasião da morte de Jesus.

Bibliografia:
DOUKHAN, Jacques, “The Seventy Weeks of Daniel 9: An Exegetical Study”, The Sanctuary and the Atonement – Biblical, Historical and Theological Studies, preparado pelo Biblical Research Committee of the General Conference of the Seventh-day Adventists. Editores: Arnold V. Wallenkampf e W. Richard Lesher. Washington, D.C.: The Review and Herald Publishing Association.

15 - Que evidências demonstram que o evento a ocorrer no meio da septuagésima semana era a morte de Jesus?
É de suma importância, para o devido entendimento da profecia de Daniel 9, a identificação do evento a ocorrer no meio da septuagésima semana. A informação fornecida pelo verso 27 é referente à cessação do “sacrifício” e da “oferta de manjares”. Assevera-se que isso está associado à morte de Jesus. Qual é o embasamento bíblico para tal posicionamento? Em primeiro lugar, deve-se atentar para o fato de que o verso 26 traz uma inequívoca referência à morte do Messias, o que já demonstra que tal evento é abordado pela profecia. Mas, é nas cartas aos Efésios e aos Hebreus que são encontradas as declarações bíblicas que vinculam a morte de Jesus ao meio da última semana:
“E andai em amor, como também Cristo nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave.” Efésios 5:2.
“Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo Me formaste; não Te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, Eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a Meu respeito), para fazer, ó Deus, a Tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto Te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a Tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.” Hebreus 10:5-10.
Esses trechos ecoam os dizeres de Daniel 9:27, pois neles se diz que Cristo Se entregou “como oferta e sacrifício a Deus em aroma suave” (Efésios 5:2); que ao entrar no mundo, Jesus Se dirige ao Pai, dizendo: “sacrifícios e ofertas não quiseste; antes, um corpo Me formaste” (Hebreus 10:5); que Ele vem para fazer a vontade de Deus (Hebreus 10:7), a qual é identificada com Sua morte (Hebreus 10:10); e que Seu sacrifício resulta na remoção do antigo sistema e no estabelecimento do novo (Hebreus 10:9).
A razão da substituição do sistema de sacrifícios do Antigo Testamento pelo sacrifício de Cristo em o Novo Testamento está no fato de que o objetivo daqueles era apontar para este último. Por isso é que Isaías diz que o Servo Sofredor “como cordeiro foi levado ao matadouro” para dar “a Sua alma como oferta pelo pecado” Isaías 53:7 e 10. Todos os sacrifícios do Velho Concerto tipificavam a morte de Jesus e os que deles se serviram só seriam de fato beneficiados se o Salvador vertesse Seu “precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula” sobre o madeiro (1 Pedro 1:19), pois “é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados” (Hebreus 10:4). João Batista estava a par desse simbolismo quando contemplou a Jesus, que vinha ao seu encontro, no Jordão, o que o motivou a exclamar: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” João 1:29 e 36. Como a razão de ser do sistema cerimonial era apenas o de prefigurar o vindouro sacrifício de Jesus, quando este se efetuou, aquele chegou ao fim. Isso explica porque o “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo” (Mateus 27:51; Marcos 15:38; e Lucas 23:45). Diante dessas considerações, não restam dúvidas de que o evento predito para o meio da septuagésima semana era a morte de Jesus.

16 - O que conduz à conclusão de que o apedrejamento de Estevão marcou o fim das 70 semanas?
Embora a profecia não faça menção à morte de Estevão como um marco do encerramento do período especialmente concedido ao povo de Israel, algumas informações encontradas no livro dos Atos dos Apóstolos conferem plausibilidade a essa conclusão.
Antes do apedrejamento de Estevão, relatado no capítulo 7 de Atos, não se faz menção à conversão de samaritanos ou de gentios. Em Atos 2, que trata dos maravilhosos acontecimentos do Dia de Pentecostes, só se faz referência a prosélitos, que não obstante serem gentios de nascimento, já eram membros reconhecidos da comunidade judaica.
No mesmo dia em que Estevão foi assassinado, “levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria.” Atos 8:1. Em decorrência dessa terrível perseguição, os seguidores de Cristo foram espalhados para outras regiões, nas quais puderam pregar o Evangelho aos não-judeus (Atos 8:4). “Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo.” Atos 8:5. Filipe pregou ainda a um etíope que voltava de Jerusalém para sua terra (Atos 8:26-40). Depois disso, Saulo, perseguidor da Igreja, passou pela gloriosa experiência do caminho de Damasco, em que foi chamado para ser “um instrumento escolhido” para pregar o Evangelho “perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” Atos 9:17. Por fim, Pedro foi conduzido pelo Espírito Santo até um centurião romano, de nome Cornélio, a quem anunciou as boas novas da salvação. Ver Atos 10.
Em Atos 11, uma importante seqüência de informações também destaca a morte de Estevão como o ponto a partir do qual a mensagem de Cristo se estendeu aos não-judeus. Sendo indagado sobre sua recente visita à residência de um gentio, Pedro fez um relato do progresso da obra do Evangelho entre os não-judeus. Então, “ouvindo eles estas coisas”, alegraram-se muito “e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida.” Atos 11:18. Dando prosseguimento ao relato, o autor de Atos explica que “os que foram dispersos por causa da tribulação que sobreveio a Estêvão se espalharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.” Atos 11:19. Como muitos deles não estavam certos ainda da conveniência de se pregar a mensagem de Cristo aos gentios, restringiram-se a falar somente ao judeus residentes nesses lugares, mas “alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus.” Atos 11:20. Dessa forma, torna-se evidente que os Atos dos Apóstolos vinculam o término do período separado especialmente para os judeus com o apedrejamento de Estevão e com a primeira perseguição aos cristãos.

17 - Que serviço era realizado no Dia da Expiação e qual seu significado tipológico?
O Antigo Santuário Israelita era uma estrutura bipartida, sendo o primeiro compartimento denominado de Lugar Santo e o compartimento mais interior de Lugar Santo dos Santos (ou Santíssimo). Do lado de fora do Santuário, havia uma área separada para os serviços sagrados denominada de Átrio (ou Pátio). Nela, diariamente entravam as pessoas que vinham trazer suas ofertas ao Santuário. No Lugar Santo, o acesso também era diário, mas destinado somente aos sacerdotes (classe de pessoas designadas para oficiar como mediadores do povo). No Lugar Santo dos Santos, o acesso era bem mais restrito: somente o sumo sacerdote (o líder dos sacerdotes) podia nele ingressar e apenas uma vez ao ano, no Dia da Expiação (o décimo dia do sétimo mês judaico). Ver Hebreus 9:1-7.
A entrada do sumo sacerdote no Lugar mais sagrado do Santuário tinha um objetivo especial: purificá-lo de todos os pecados dos filhos de Israel. Durante todo um ano, os israelitas, com o fim de terem seus pecados perdoados, traziam suas ofertas ao Santuário. Era a chamada “oferta pelo pecado”, na qual o pecador arrependido colocava suas mãos sobre a cabeça da vítima, transferindo para ela suas iniqüidades, e a sacrificava. Depois, o sacerdote comia a carne ou levava um pouco do sangue do sacrifício para dentro do Santuário. De um jeito ou de outro, o pecador era perdoado, mas seus pecados não estavam ainda extintos; eram transferidos para o sacerdote, e por meio dele ao Santuário, ou, eram transferidos diretamente, através do sangue, para aquele lugar sagrado. Assim, o Santuário ficava poluído com os pecados da nação israelita. No Dia da Expiação, a função do sumo sacerdote era limpar o Santuário de sua contaminação. Por isso, depois de efetuar a escolha de 2 bodes, um para o Senhor e outro para Azazel, sacrificava o primeiro e entrava com seu sangue até o interior do Lugar Santíssimo, onde depositava um pouco do sangue sobre a arca da aliança. Com isso, tomava sobre si os pecados, saía do Santuário e os colocava sobre a cabeça do bode por Azazel; esse bode não era sacrificado, mas era solto no deserto, no qual vivia até perecer. Por meio desse ritual, o Santuário era purificado de todos os pecados que para ele haviam sido transferidos. Maiores detalhes acerca dessas cerimônias podem ser encontradas em Levítico 4 e 16.
O ministério dos sacerdotes no primeiro compartimento representava o ofício intercessório que Jesus, Sumo Sacerdote do Céu, deveria cumprir no Lugar Santo do Santuário Celestial. E assim como, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote judeu entrava no Lugar Santo dos Santos, ao final dos 2.300 dias-anos de Daniel 8:14, isto é, em 1.844 A.D., Jesus entrou no recinto mais interior do Santuário do Céu, com o fim de purificá-lo. Dessa forma, do ano 31 A.D., quando ascendeu à alturas, até 1.844 A.D., Jesus Cristo esteve intercedendo pela raça pecadora no primeiro compartimento do Santuário; mas, depois disso, houve uma mudança em Seu ministério e, hoje, Ele está no Santo dos Santos do Céu, empenhado na última parte de Sua obra em prol dos seres humanos. Findando esse trabalho, Ele voltará para resgatar Seus escolhidos e levá-los para as mansões celestiais. 
Henderson H. L. Velten

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...