sexta-feira, 23 de março de 2012

Uma só carne

Em julho de 1995, a Revista Adventista publicou um artigo do médico Fadel Basile, intitulado “Uma só carne”. Na matéria, o Dr. Basile afirma: “A Medicina Legal é um ramo da ciência que aparentemente nada tem a ver com o casamento, porém é dela que nos vem uma das maiores contribuições para o esclarecimento do assunto. A biotecnologia veio preencher uma lacuna importante da criminologia, no que se refere à comprovação de paternidade e identificação de suspeitos de estupro, usando a engenharia genética para desenvolver um exame que tem a capacidade em quase 100% dos casos de identificar a presença no sangue da mulher de anticorpos antiespermatozoides, altamente específicos, comparando com o esperma dos suspeitos.

“Vários trabalhos científicos comprovam a existência desses anticorpos no sangue das mulheres vítimas de estupro, assim como nos esclarecimentos das conjunções carnais voluntárias ou não. O fato é que, toda vez que uma mulher mantém relações sexuais com o sexo oposto, seu sistema imunológico produz anticorpos específicos contra espermatozoides de seu parceiro. Caso a mulher tenha contatos sexuais com vários homens, ela terá em seu corpo anticorpos contra todos os espermas introduzidos em seu corpo. Isso significa a imposição de uma marca imunológica na mulher. Esse é apenas um fenômeno biológico natural, sem conotação antifeminista. 


“A medicina só obteve sucesso na área de transplantes de órgãos, quando conseguiu entender e controlar a rejeição dos enxertos. Um órgão transplantado (enxerto) só é aceito pelo hospedeiro quando possui compatibilidade imunológica: caso contrário, será rejeitado e destruído através da produção de anticorpos contra as células do enxerto. Daí vem a prática pelas equipes cirúrgicas do uso de medicamentos que inibem essa reação. O transplante entre irmãos gêmeos tem probabilidade mínima de rejeição, graças às semelhanças genéticas. Os anticorpos do hospedeiro reagem ligando-se aos receptores localizados na superfície das células do enxerto, que pode ser um retalho de pele, um rim ou córnea (que são enxertos mais frequentes). Esses receptores são proteínas cuja produção é ditada geneticamente no cromossoma 6 do núcleo das células que possui um setor do DNA especificamente para reconhecer estruturas próprias do organismo (estrutura self) ou estranha (no self). 

“Outro sistema de reconhecimento encontra-se no cromossoma Y, só encontrado no sexo masculino, pois as mulheres não possuem cromossoma Y. Durante uma relação sexual, o homem ao introduzir seu esperma na mulher, está na verdade introduzindo um enxerto composto de milhões de espermatozoides e outros milhões de outras células próprias do sêmen. Esse conceito do esperma como enxerto é fundamental para entendermos que a mulher desencadeará uma reação imunológica em tudo semelhante aos demais enxertos. Tal reação desenvolve-se em três etapas: (1) Uma fase aguda em que o esperma é totalmente rejeitado e destruído pelos anticorpos femininos. (2) Uma fase crônica, em que as células de rejeição da mulher guardam uma memória imunológica para futuras rejeições, caso a mulher entre novamente em contato com o mesmo esperma. Essa fase é semelhante à reação das vacinas, que confere proteção à criança toda vez que ela entra em contato com o vírus, impedindo-a de desenvolver a doença. É uma fase silenciosa. (3) Esta fase é de ‘tolerância imunológica’, na qual a introdução de pequenas quantidades de elementos estranhos de modo sistemático e contínuo induz à não reação e à aceitação por parte do organismo da mulher das pequenas doses de ejaculação durante toda a sua vida. 

“Pelo fato de o organismo do homem só reconhecer como suas as células presentes desde o início de sua vida embrionária, os espermatozoides, que só aparecem na adolescência, não são reconhecidos como próprios e induzem no homem uma reação imunológica semelhante à da mulher, como descrito acima. Isso significa que marido e mulher possuem circulando em seu sangue anticorpos semelhantes contra o mesmo alvo: os espermatozoides. A mulher, pelo seu lado, após sucessivas relações com o marido, já não rejeita seu esperma devido à tolerância imunológica. 

“Podemos dizer que, imunologicamente, ambos se tornaram uma só carne. Isso conduz a união conjugal a uma profunda relação visceral que extrapola as esferas afetivas e sociológicas, apontadas comumente como a única explicação. [...]

“O casamento é mais profundo, mais poético e mais complexo do que poderíamos imaginar durante toda a nossa vida. Que Deus seja louvado em nossos lares! Amém.”

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