Outro dia assisti um daqueles raros e bons filmes que demonstram que o cinema tem um potencial para o bem. Trata-se do premiado e sensacional filme “Hotel Ruanda” que conta a história real de um adventista (embora o filme não diga isso), que salvou a vida de milhares de pessoas durante o genocídio de Ruanda.
Ruanda é um pequeno país no centro da África, colônia Européia por muitos anos, sofreu uma influencia dos Belgas que classificaram o povo em Tutsis (negros mais altos e claros) e Hutus (negros mais escuros e de nariz largo). Pelo incrível que pareça esta distinção não tem razão de ser, pois nem se quer havia diferença tribal antes disso, mas o Belgas chegaram ao ridículo de medir a largura do nariz do povo para classificá-los. Logo os Tutsis obtiveram os melhores cargos e empregos e os Hutus tornaram-se a maioria pobre e oprimida.
Quando os Belgas deixaram o poder os Tutsis governaram Ruanda, até que em 1994 as forças Hutus se organizaram e planejaram um massacre que os libertaria de seus opressores Tutsis e os colocaria no poder. Uma limpeza étnica foi planejada e a população foi paulatinamente armada e enfurecida, fuzis AK-47 e milhares de facões foram amplamente fornecidos a população. Em cada família Hutu, em cada vizinhança, havia pessoas preparadas para matar sem piedade.
Quando o ódio e a vingança se instalaram em Ruanda a comunidade internacional ‘virou as costas’, fazendo de conta que não tinha nada a ver com isso. Estima-se que entre 800 mil a 1 milhão de pessoas foram mortas pelas hordas de linchadores, a maioria retalhados a golpes de facão. No mínimo 11% da população do país foram exterminadas. Quase todas as mulheres que foram poupadas entre os Tutsis foram violentadas e 5 mil meninos nascidos destes atos foram assassinados.
As pessoas morriam nas ruas, nas casas e até nas igrejas, ninguém era poupado, um amigo matava o outro, um vizinho matava o outro. A violência chegou às comunidades religiosas inclusive a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Infelizmente mesmo alguns irmãos e obreiros da IASD cometeram atrocidades indo contra tudo o que a igreja e a Bíblia ensinam, sendo que, pelo menos dois ex-obreiros foram condenados a prisão pelos crimes que cometeram, muitos Adventistas morreram pela mão de seus próprios amigos e irmãos, muitos perderam parentes, como um seminarista que relata ter perdido cerca de 150 familiares.
Quando o presidente mundial da IASD visitou Ruanda alguns anos depois do massacre, suas palavras foram “Pode-se tentar compreender a magnitude dessa tragédia, mas é um exercício impossível. É com humildade que todos os cristãos devem examinar os eventos de 1994, e é com tristeza que a Igreja Adventista do Sétimo Dia deve também reconhecer que em meio a essa tragédia, muitos membros da Igreja-pessoas que deviam saber melhor-falharam em revelar o amor básico e cuidar de seus irmãos e irmãs”.
No meio de toda dor e sofrimento, surgiu a figura de um administrador de hotel, ex-aluno de escola Adventista, Paul Rusesabagina um Adventista Hutu que ajudou a proteger os Tutsis, tornando-se o herói de Ruanda ao salvar a vida de 1200 pessoas escondidas no seu hotel, a história foi transformada no filme “Hotel Ruanda”. Paul empregou seu dinheiro e tudo o que encontrou para subornar os agressores e livrar as pessoas abrigadas no seu hotel.
Poderíamos resumir os fatos da seguinte maneira:
1) Mesmo cristãos sinceros podem ser corrompidos através do preconceito e ambição,
2) Traidores sujam a imagem do povo de Deus, mas Deus levanta seus santos para defender o nome de Sua igreja,
3) A IASD deve ficar longe de questões políticas e zelar sempre pela justiça e o reino de Deus,
4) O perdão é a única maneira de recomeçar,
5) O bom testemunho de homens com Paul são muito mais fortes que qualquer declaração oficial da adminstração da igreja.
Em Ap.13:15 menciona que os poderes da 2ª Besta decretam morte aos santos de Deus que se recusam a adorar a 1ª Besta. A despeito da interpretação profética destes eventos, já bem conhecida pela IASD e disponível no livro ‘O Grande Conflito’ de Ellen White, o fato é que o genocídio de Ruanda mostra como será possível convencer as pessoas a aderir a pena de morte contra pessoas que discordam da forma de adoração. Muitos questionam se vai haver um perseguição real ao povo de Deus num mundo moderno tão civilizado como o nosso, no entanto, o exemplo do genocídio de Ruanda onde milhares morreram e as Nações e autoridades do mundo inteiro nada fizeram para intervir mostram o quanto é fácil isso acontecer.
Se na Ruanda pessoas morreram por que foram divididas em nariz mais largo ou fino, por que não morreriam pela observância do sábado ou domingo? Se mínimas diferenças de estéticas foram o estopim para tanto ódio, o que dizer de diferenças fundamentais quanto a fé e adoração que tem sido por tantos séculos motivos de guerras e perseguições?
Alguns argumentam que isto não aconteceria em lugares mais desenvolvidos e próperos, no entanto num passado não muito distante, católicos e protestantes se matavam na Irlanda e o medo tomou conta de Americanos e Europeus depois dos atentados terroristas Bin Laden.
A opinião da massa popular é facilmente conduzida a condenar e perseguir um ‘culpado’, basta haver pressão social suficiente como fome, pobreza ou doença, com uma pitada de divulgação da mídia. Quando os massacres em Ruanda terminaram e a ONU finalmente julgou os criminosos, centenas de críticos da IASD se deleitaram em apontar e divulgar os crimes dos dois ex-obreiros Adventistas, mas nenhum destes críticos quis ser plenamente honesto e divulgar a história de Paul Rusesabagina, o Adventista do Sétimo Dia que salvou centenas de pessoas.
Assim será no fim dos tempos, empenhado em manchar a igreja e em jogar a opinião pública contra o povo Adventista, Satanás fará de tudo o que puder! Apocalipse chama o povo de Deus a ser perseverantes nesta hora, Ap.13:10 e 14:12.
Quando chegar a hora mais escura da história deste mundo, quando milhares deixarem a igreja, quando o mundo estiver em crise e caos tomar conta, então Deus terá homens e mulheres como Paul Rusesabagina e um lugar seguro para Seu povo, como o ‘Hotel Ruanda’.
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Ericson Danese Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, trabalha com o Ministério Jovem, Comunicação e Mordomia da MOSR. Mestrando em Teologia pelo UNASPc2
Ericson Danese Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, trabalha com o Ministério Jovem, Comunicação e Mordomia da MOSR. Mestrando em Teologia pelo UNASPc2
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