Gostaria que me respondessem: 1) Se Deus disse que Balaão devia ir com os anciãos dos moabitas e midianitas (Nm 22:20,22), porque Sua ira se acendeu quando o profeta foi ao encontro de Balaque?; 2) Foi Deus (2 Sm 24:1) ou Satanás (1 Cr 21:1) quem incitou Davi a levantar o censo de Israel? e 3) Araúna (2 Sm 24:16) e Ornã (I Cr 21:15) são a mesma pessoa?
A primeira pergunta começa a ser respondida pelo texto de Números 22:12 e 13: “Então, disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás o povo; porque é povo abençoado. Levantou-se Balaão pela manhã e disse aos príncipes de Balaque: Tornai à vossa terra, porque o Senhor recusa deixar-me ir convosco.” As duas idéias centrais do texto são: 1) Deus proíbe Balaão de ir, e 2) O profeta (certamente interessado no dinheiro que ganharia) gostaria de ir e amaldiçoar o povo que Deus dissera ser “abençoado”.
Mas, então, por que Deus disse ao profeta que fosse (22:20)? O fato é que Deus estava simplesmente deixando que Balaão fizesse o que ele queria fazer. Quando alguém conhece claramente a vontade de Deus, mas não está disposto a obedecê-la, Deus acaba deixando-o fazer sua própria vontade.
Balaão ouvira do próprio Deus que não deveria ir Então, o que deveria ter feito quando Balaque enviou pela segunda vez os príncipes, desta vez, mais honrados e em maior número? Certamente que o correto seria tê-los mandado embora (como fizera da primeira vez). Mas, ao contrário, pediu-lhes: Agora, pois, rogo-vos que também aqui fiqueis esta noite, para que eu saiba o que mais o Senhor me dirá” (22:19). Ele já não sabia o que o Senhor havia dito? Sim, ele sabia. Mas deve ter pensado que, talvez, Deus pudesse ter mudado de idéia. Então, Deus deixou Balaão seguir seu próprio caminho, respeitando seu livre arbítrio (se tem algo que Deus respeita é a liberdade que nos deu).
Que Deus não queria que Balaão fosse fica evidente pelo que aconteceu no caminho. ‘Acendeu-se a ira de Deus, porque ele se foi; e o Anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário” (22:22). Então, o Anjo é visto pela mula de Balaão, que primeiramente se desviou do caminho, indo para o campo, depois, comprimindo o pé do profeta contra um muro, e finalmente, deixando-se cair debaixo de seu dono (22:23-27). Podemos ver nessa atuação do Anjo uma última tentativa de Deus para que Balaão não prosseguisse viagem. Mas o que fez o profeta? Espancou a jumenta e falou até em matá-la (22:23, 27, 29). Então, o Anjo lhe apareceu e disse-lhe que seu caminho “era perverso” diante de Deus (22:32).
Em resumo: Deus não queria que Balaão fosse, mas deixou que ele seguisse sua própria vontade. E qual foi o fim de Balaão? Deixou-se corromper pelo dinheiro, apostatou da fé em Deus. Sugeriu perversamente a Balaque para que fizesse uma festa e convidasse os jovens de Israel para comerem, beberem, se prostituírem e adorarem os deuses dos moabitas e midianitas, trazendo assim maldição sobre o povo de Deus, e foi morto à espada pelos israelitas, quando estes entraram em Canaã (ver Apocalipse 2:14; Números, cap. 25 e Josué 13:22).
A segunda pergunta tem que ver com o censo levado a efeito por Davi. Há uma aparente contradição entre 2 Samuel 24:1 e 1 Crônicas 21:1. Foi Deus ou Satanás quem incitou Davi a fazer o censo?
Um dos princípios de interpretação bíblica é que as Escrituras não se contradizem, pois são fruto da inspiração divina, através do Espírito Santo (ver 2 Pedro 1:21). Então, como explicar essa aparente contradição?
Que o Senhor não queria que Davi levantasse o censo fica evidente na desaprovação divina ao ato do rei, propondo-lhe um castigo de sete anos de fome, ou fuga de diante dos inimigos por três meses, ou, ainda, três dias de praga sobre o povo de Israel (2Sm 24:13). Conforme 1 Crônicas 21:12, são três anos de fome, em lugar dos sete de 2 Samuel 24:13. Parece-nos que o período de sete anos de 2 Samuel pode ter sido um erro do copista, pois são oferecidos três castigos com três espaços de tempo, em ordemdecrescente: três anos, ou três meses, ou três dias.
Então, se Deus não queria que Davi contasse o povo (para evitar que o rei se orgulhasse dos milhares de soldados que poderia recrutar), como é que Ele “incitou Davi” a fazê-lo (2Sm 24:1)? Aqui temos a mesma situação de Balaão, quando ele desconsiderou a vontade de Deus para fazer a sua própria. Davi sabia que não devia confiar na força humana, e sim em Deus (ver Dt 20:1-4). Mas o orgulho subiu à cabeça do rei, e apesar do conselho de Joabe, o comandante do exército, para que não o fizesse, ainda assim Davi foi em frente (2Sm 24:3,4). E o resultado? A morte de 70 mil homens dentre o povo (2Sm 24:15).
O texto de 1 Crônicas 21:1 está correto em dizer que foi Satanás quem incitou Davi a levantar o censo. A afirmação de 2 Samuel 24:1: “Vai, levanta o censo de Israel e Judá” deve ser entendida como Deus deixando que Davi fizesse sua própria vontade em vez da vontade divina. Ou seja, Davi estava decidido a fazer o censo, e por nada voltaria atrás. Então, Deus deixou que o rei fizesse o que tinha decidido fazer, respeitando sua liberdade ou o seu livre arbítrio.
A terceira pergunta refere-se aos nomes de Araúna, em 2 Samuel 24:16, e Ornã, em 1 Crônicas 21:15. Quanto a isso, deve-se dizer que se trata meramente de duas formas de grafar o mesmo nome, mas ambas se referem ao “jebuseu” que tinha uma propriedade junto à cidade de Jerusalém.
Ozeas Caldas Moura, editor na Casa Publicadora Brasileira.
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