Encontrando paz
O Quarto Mandamento
Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e
farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não
farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu
servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para
dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o
que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de
sábado e o santificou. Êxodo 20:8-11
Não sei quantas vezes viajei numa lancha para o porto de Livingston, na
costa nordeste da Guatemala, mas foram muitas. Mesmo assim, nenhuma viagem era
igual à outra.
Eram apenas cinco horas da tarde quando saímos do cais em Puerto
Barrios, mas já começava a escurecer. Caía uma chuva insistente e, por isso, em
vez de desfrutar a brisa no convés, todos se apertaram na pequena cabine. Tão
logo nos afastamos do quebra-mar, a tormenta nos atingiu com fúria total.
Violentas rajadas de vento faziam a chuva bater contra as janelas com uma
intensidade que ameaçava quebrá-las. Com uma das mãos me agarrei ao anteparo
dianteiro para não cair e com a outra segurava a cabeça, tentando acalmar as
fortes náuseas, que só pioravam a cada ondulação. Era impossível conversar, mas
eu ouvia gemidos e, às vezes, orações ou palavrões de outros passageiros. Em
viagens anteriores, pontos distantes de luz que piscavam para nós das casas ao
longo da praia haviam marcado nosso progresso. Agora, mal podíamos divisar a
proa da embarcação.
A viagem normalmente levava uns noventa minutos, mas dessa vez parecia
uma eternidade. Comecei a pensar que o capitão podia ter perdido o rumo e que
estávamos indo para o mar aberto, quando de repente a mais incrível calmaria
nos surpreendeu. Em vez de ser jogado e sacudido de um lado para o outro, o
pequeno barco passou a deslizar tranquilamente sobre a água, e lá adiante já
víamos, através da chuva, as luzes do nosso destino.
O que havia feito a diferença? A tormenta não tinha acabado, mas nós havíamos
entrado no abrigo do porto. No oceano aberto, as ondas continuavam revoltas,
mas não podiam mais aterrorizar-nos porque havíamos entrado no refúgio, e
estávamos seguros.
A Bíblia diz que no princípio a Terra toda estava envolta numa tempestade
incomparavelmente pior do que a que experimentamos naquela noite. Em meio a uma
escuridão impenetrável, água, ar, rochas e terra se agitavam num turbilhão
caótico (Gênesis 1:1 e 2)¹.
Então Deus falou, e a escuridão deu lugar à luz. Ele falou novamente, e
a atmosfera veio à existência, os continentes apareceram, montanhas se ergueram
e o mar foi contido no seu leito. O que esses pormenores nos contam é que o
processo da Criação foi um movimento da desordem para a ordem, da turbulência
para a calma.
É interessante notar que Deus registrou Sua satisfação com o que estava
ocorrendo. O verso 10 diz: “E viu
Deus que isso era bom”. Por que teria Ele dito isso pela primeira vez, precisamente
neste ponto, no terceiro dia? Talvez porque a luz, o ar, a água e a terra agora
existiam.
Eram os quatro elementos necessários para sustentar a vida vegetal. Em outras
palavras, eles deixavam tudo pronto para o passo seguinte.
Mais tarde, no mesmo dia, a terra se vestiu de verde. Grama, folhagens,
musgos e samambaias apareceram. Árvores majestosas erguiam os braços para o céu.
Pinheiros e flores acrescentavam cor à paisagem e perfumavam o ar.
A vegetação, com seu maravilhoso processo da fotossíntese, fora designada
para servir à vida animal, produzindo alimento e oxigênio.
E, pela segunda vez no mesmo dia, Deus falou e disse que “isso era bom”
(verso 12).
No quinto dia e no início do sexto, Deus falou novamente, e o mar, a
terra e os céus fervilharam de criaturas que nadavam, voavam, andavam ou
rastejavam. Novamente, o Criador expressou a Sua satisfação com os resultados (verso 25).
“Também disse Deus: façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus,
sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra” (verso 26).
A criação de seres inteligentes para governar a Terra foi o último passo
na vitória divina da ordem sobre o caos. Então, com infinita alegria, o Criador
contemplou Sua obra concluída e dessa vez não disse apenas que aquilo era bom.
Ele anunciou que era “muito bom” (verso
31).
A ciência nos assegura que a matéria consiste de elétrons e prótons, que
na realidade são uma forma de energia, mas uma energia organizada de maneira
altamente sofisticada e complexa. A matéria é classificada na forma de
elementos, indo desde o hidrogênio, o mais leve e simples, até os mais pesados
e radioativos, como o urânio. Alguns são tão instáveis que só existem por uma
fração de segundo.
Os elementos se unem, formando moléculas, que também vão desde as simples,
como o sal de mesa, até as extremamente complexas, que ocorrem apenas em
organismos vivos e, portanto, são chamadas de moléculas orgânicas. Uma única
molécula de proteína pode ter dezenas de milhões de átomos. E todo organismo
vivo, desde o diminuto micróbio até a maior baleia, é constituído deles.
Assim, mesmo no nível de elementos e moléculas, a Criação foi uma marcha
rumo à ordem e organização. Cada passo em frente nesse processo implicou
milhares e, em alguns casos, bilhões de mudanças.
Contrário à Natureza
Os físicos sintetizaram três leis da termodinâmica. A segunda lei afirma
que todos os sistemas da natureza mostram um movimento invariável rumo à
desintegração, à desordem e à perda de energia. Os cientistas o chamam de
princípio da entropia.
A Criação envolveu precisamente o oposto. Através de processos bioquímicos
e físicos de imensa complexidade, Deus transformou um planeta caótico num mundo
de ordem. Quando Ele disse que tudo era “muito bom”, foi porque a turbulência
havia acabado, a desordem fora vencida, o caos se fora e a Terra toda era uma
simbiose pacífica em todas as suas diferentes partes e relações. Cada pormenor
da Criação foi designado a servir aos outros. A uma voz, todas as coisas
testificavam do amor e da infinita sabedoria de Alguém que havia planejado e
trazido tudo à existência.
A relação de ideias que aparece no pronunciamento final de Deus ao encerrar-se
o relato da Criação não ocorre por acaso. Diz o texto:
a) Deus viu que tudo era muito bom, e então
b) descansou.
Está claro que o descanso do Criador nada tem que ver com fadiga. É o
descanso que vem quando a ordem toma o lugar do caos. É paz que aparece após a
tormenta. Deus viu que a Terra estava em repouso, e então descansou.
Obra Concluída
Aqui está a passagem na qual aparece a declaração de Deus (note especialmente
os termos que numerei):
“viu Deus tudo quanto fizera[1],
e eis que era muito bom. houve tarde e manhã, o sexto dia. Assim, pois, foram
acabados[2] os céus e a terra e todo
o seu exército. E, havendo Deus terminado[3]
no dia sétimo a Sua obra, que fizera[4],
descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito[5]. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele
descansou de toda a obra[6] que,
como Criador, fizera[7]” (Gênesis 1:31 a 2:3).
Sete vezes essa passagem nos faz lembrar que a Criação foi uma obra concluída.
Isso significa que Deus “descansou”. Isto é, Ele cessou o que estava fazendo,
porque havia completado Sua tarefa divina. O ponto central é que não houve
descuido; nada foi omitido nem passado por alto. Nenhuma parte deixou de
funcionar em perfeita harmonia com todas as outras.
“viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.”
Sinal de Uma Provisão Perfeita
Uma ilustração pode servir para realçar a importância deste ponto.
Tente imaginar por um momento que Adão, após ter sido criado, tenha se
colocado em pé e dito:
– O Senhor precisa de mim para ajudá-Lo em alguma coisa?
Diante disso, o Criador teria sorrido e respondido:
– Não, Adão; o trabalho já terminou.
– Mas deve haver algo que eu possa fazer. Quem sabe, pintar uns enfeites
nas asas da borboleta.
– Não, as asas da borboleta já estão coloridas.
– hmmmm, bem... talvez eu possa ensinar os passarinhos a cantar.
– Não, eles já sabem cantar muito melhor do que você poderia ensinar-lhes.
– E se eu verificar o ar, para ver se ele tem a quantidade certa de oxigênio?
O Senhor sabe que um pouquinho a mais ou a menos é perigoso. Talvez eu possa
ajudá-Lo na calibragem.
– Não; já cuidei disso também.
– Mas, Senhor, deve haver algo que eu possa fazer!
– Sim, na verdade há.
– O que é, Senhor?
– Quero que você descanse.
– Descansar? Mas como vou descansar se não fiz nada?
– Quero que você confie em Mim, Adão. Você precisa acreditar que, na
verdade, o trabalho está feito, que tomei providências completas e perfeitas
para todas as suas necessidades.
E é esse o significado do descanso no sétimo dia. Se Deus tivesse
criado os seres humanos no início da semana e nos tivesse pedido algum tipo de ajuda,
ou pelo menos solicitado nossa opinião, poderíamos receber algum crédito, não é
mesmo? Mas Ele não o fez. A observância do sábado foi, é e sempre será uma
celebração da obra de Deus, e não da nossa.
Assim como Adão, descansamos para mostrar nossa aceitação dessa realidade
e dizer que confiamos na perfeita provisão de Deus para nosso bem-estar e
realização. Isso significa que repousamos tranquilamente em Suas mãos,
confiando em Sua sabedoria, Seu plano e Suas providências para nossa vida. Reconhecemos
a posição de Deus como Criador e aceitamos a nossa como criaturas. Dessa forma,
num sentido profundo e significativo, o descanso no sétimo dia é um ato de
adoração.
Em quase todas as religiões falsas, incluindo o falso cristianismo, a adoração
é uma questão de fazer algo. Na Bíblia, porém, somos instruídos a adorar
deixando de lado nossos afazeres. Devemos pôr à parte nossos esforços e lutas,
cessar nosso labor e descansar na serena confiança de que o trabalho em nosso
benefício está feito. O quarto mandamento declara: “O sétimo dia é o sábado.” A
palavra “sábado” significa, literalmente, “descanso”. O sétimo dia é o descanso
apontado pelo próprio Deus. É o dia durante o qual o Criador nos convida a
participar com Ele do Seu descanso. Por isso, lemos: “não farás nenhum
trabalho”.
Ao repousar com Deus, declaramos ao Universo que o descanso sabático é
sinal de um relacionamento com o Criador baseado na fé².
Mas o descanso no sábado não simboliza apenas esse relacionamento; ele
o promove e aprofunda, tornando-se parte dessa realidade. Nosso descanso no sétimo
dia não apenas declara que encontramos segurança (e, portanto, paz) no amor de
Deus; ele fortalece essa segurança. Afirma e confirma o relacionamento entre
Deus e Sua criação.
Por isso, o sábado é o complemento e a garantia dos primeiros três mandamentos,
que nos ordenam adorar a Deus e dar-Lhe o primeiro lugar em nossa vida.
Seria possível guardar os três primeiros mandamentos em nosso íntimo,
observá-los de alguma forma que não fosse imediatamente visível a outras
pessoas. Poderíamos decidir de coração honrar a Deus e torná-Lo o primeiro. É
bem possível que ninguém notasse que não nos inclinamos diante de imagens. Mas
isso não seria verdade com respeito à observância do sábado. Por ser óbvia, ela
é um anúncio público. Essa pode ser a razão pela qual a Escritura diz que o
sábado é um “sinal” do concerto entre Deus e Seu povo (Ezequiel 20:12 e 20).
Um Mandamento de Misericórdia
Você tem ideia de quantas pessoas se sentem desesperadas e frustradas
com as responsabilidades e os problemas da vida? Vivemos apressados e
preocupados. O tempo nunca é suficiente. Precisamos ganhar o sustento, manter a
casa, melhorar os relacionamentos, educar os filhos, cuidar da saúde, conseguir
um diploma, pagar as contas
e seguir uma carreira. Essas e milhares de outras tarefas exigem constantemente
nossa atenção. O problema é que somos finitos, e a vida nunca para de exigir
mais e mais. Quando o famoso magnata britânico Cecil Rhodes estava para morrer,
teria murmurado: “Tão pouco realizado e tanto por fazer!” Hoje, um número
incontável de pessoas faz ecoar essa frustração.
Em meio à desenfreada sucessão de eventos e às estridentes exigências
de uma vida que, como a boca da sepultura, nunca brada “Já basta!”, o grande
Deus Criador nos oferece o sábado. O autor Herman Wouk, que observava o sábado,
escreveu: “O sábado representa os braços de uma mãe que se estendem para
receber um filho cansado.”
“Seis dias trabalharás”, diz o mandamento. Esse é o tempo que lhe é concedido.
Trabalhe, lute e dê o melhor de si durante esse tempo. Mas tudo isso tem um
limite – o sábado. Nesse dia, você deve descansar.
O quarto mandamento ordena trabalhar, mas não diz: “Trabalhe até cair
exausto.” Tampouco manda continuar labutando até que o trabalho esteja
concluído. Em vez disso, declara que você deve, sim, trabalhar, mas há um
limite para o que tem de fazer.
O sábado é uma parábola da vida, porque ensina que chegaremos ao fim
dos nossos dias e daremos nosso último suspiro ainda pensando em coisas que
gostaríamos de fazer – se tivéssemos tempo. Ele nos ensina a fazer o que
podemos no tempo disponível, e depois descansar. Com o Sábado, aprendemos a
medir nossas realizações não pela norma de nossa própria perfeição, mas pelo
padrão do amor de Deus.
Aquele que nos criou sabe que nossa ambição egoísta (ou mesmo nosso desejo
sincero de fazer o melhor) pode levar-nos à intemperança e ao excesso.
Consequentemente, Ele nos deu o quarto preceito do Decálogo como um mandamento
de misericórdia. “Seis dias trabalharás”, diz Ele, “mas no sétimo dia não farás
nenhum trabalho.”
Jesus relembrou ao povo de Sua época que o sábado foi feito para a humanidade
(Marcos 2:27). É uma preciosa dádiva
oferecida para nosso benefício e proteção. O sábado é um porto, nosso abrigo da
interminável tormenta da existência, um oásis onde o viajante cansado pode
encontrar restauração e renovação antes de retomar as lutas da vida.
O Sábado num Mundo Fragmentado
– É assim que Deus disse: “Não comereis de toda árvore do jardim”?
Essa pergunta deve ter parecido inocente. E a mulher, sem suspeitar de
nada, foi rápida em responder. Ela defenderia o Criador de uma acusação falsa
(ver Gênesis 3:1-5).
– Não é verdade! – disse ela. – Temos a permissão de comer do fruto das
árvores do jardim. Mas com relação ao fruto da árvore que está no meio do
jardim, Deus disse: “Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não
morrais.”
– É lógico que vocês não vão morrer! – afirmou o inimigo, com um sorriso
afetado. – O que acontece é que Deus sabe que, quando vocês comerem deste
fruto, seus olhos se abrirão e vocês serão como Ele, conhecendo o bem e o mal.
Aqui está algo que Deus não quer que vocês conheçam.
Ele está retendo informações que seriam para benefício de vocês.
O sábado era uma mensagem de fé: “Confiem em Mim. Aceitem que realmente
tomei providências perfeitas.” Mas a mensagem do inimigo era precisamente o
oposto: “Não é verdade que Deus tomou providências perfeitas. Está faltando
alguma coisa. vocês precisam se afastar do plano dEle, escolher o próprio rumo
e se defender por conta própria.”
Ao aceitar essas insinuações, Adão e Eva se uniram ao inimigo em sua
atitude de desconfiança e desobediência. Isso causou a necessidade de uma
providência adicional, um plano pelo qual Deus pudesse resgatar seres humanos
de sua confusão e restaurá-los a um relacionamento de fé, confiança e
obediência.
Foi numa sexta-feira que Deus concluiu Sua obra e descansou da tarefa
da Criação. E também foi numa sexta-feira que Jesus concluiu a obra da
redenção. Quando inclinou a cabeça ao morrer, disse: “Está consumado!” (João 19:30).
Depois disso, os discípulos tiveram apenas o tempo suficiente para remover
o corpo da cruz e colocá-lo na tumba nova de José. Enquanto saíam apressados, o
sol se punha. A Escritura diz: “E começava o sábado” (Lucas 23:54). Assim, pela segunda vez, o Salvador descansou no sétimo
dia de uma obra terminada.
O sábado, criado para comemorar as providências de Deus para um mundo perfeito,
assumiu então um significado adicional. Daquele dia em diante, simbolizaria
também Suas providências para um mundo em pecado: o plano para nos redimir,
curar e restaurar a uma relação de fé e confiança nEle.
Este segundo significado do sábado foi apresentado muito tempo antes da
cruz. Quando Deus deu os Dez Mandamentos no Sinai, explicou a razão para o
sábado fazendo alusão à Criação. Mas, quando Moisés repetiu os mandamentos 40
anos mais tarde, citou-os de uma forma que prenunciava claramente a segunda
razão para a observância do sábado: “Porque te lembrarás que foste servo na
terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço
estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado”
(Deuteronômio 5:15).
Deus criou os seres humanos para ocuparem uma posição de soberania (Gênesis 1:26 e 27). A escravidão é o
oposto disso. O Senhor não só havia resgatado Seu povo da escravidão literal,
mas tinha a intenção de resgatá-lo para um relacionamento de confiança com Ele
(Êxodo 19:4). Como resultado, o povo
deveria assumir uma posição de liderança, sendo elevado ao status de
“sacerdócio real” (ver os versos 5 e 6;
1 Pedro 2:9; Apocalipse 5:10).
Dessa forma, o sábado é uma comemoração não apenas da Criação, mas
também da redenção.
Já observamos o significado do sábado como complemento e garantia dos
três primeiros mandamentos. Mas, como sinal de nosso resgate da escravidão, o
sábado também nos traz à consciência a necessidade de respeitar nossos
semelhantes. Ordena que nos lembremos da rocha de onde fomos talhados e do poço
do qual fomos cavados (Isaías 51:1).
Assim, o quarto mandamento também dá sentido aos seis preceitos seguintes, que
lidam com nossos deveres para com as outras pessoas (ver Deuteronômio 16:11 e 12).
Entrando no Descanso
Muitas vezes, parece que a segunda lei da termodinâmica está tentando
se impor na minha vida, e que o princípio da desordem vai vencer. Já cheguei a
pensar que a experiência que tive naquela noite tempestuosa enquanto viajava
para Livingston estaria destinada a ser uma realidade permanente na minha vida.
Suponho que o apóstolo Paulo tenha sentido algo parecido quando
confessou: “Não faço o que gostaria de fazer. Pelo contrário, faço justamente
aquilo que odeio. ... Não faço o bem que quero, mas justamente o mal que não
quero fazer é que eu faço. ... Dentro de mim eu sei que gosto da lei de Deus.
Mas vejo uma lei diferente agindo naquilo que faço, uma lei que luta contra
aquela que a minha mente aprova. Ela me torna prisioneiro da lei do pecado que
age no meu corpo” (Romanos 7:15-23, NTLh).
Com total honestidade, o grande apóstolo admitiu que ele era um ser humano
perfeitamente normal e que as tormentas espirituais eram uma realidade na sua
vida assim como são para os demais. Essa é uma experiência que todo ser humano
– convencido da necessidade de mudança e aperfeiçoamento, embora se encontre
preso a um combate mortal com velhos hábitos e paixões – pode entender e
apreciar.
Estamos condenados a sempre navegar em meio a um temporal implacável?
Não! Na mesma passagem, o apóstolo indica onde encontrar o porto: “Graças a
Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”, exclama ele (verso 25). “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão
em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou
da lei do pecado e da morte” (Romanos
8:1 e 2).
Em outro lugar, a Escritura fala do Sábado como um tipo ou símbolo
desse repouso espiritual que Deus concede a Seus filhos. “Portanto, resta um
repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus,
também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das Suas” (Hebreus 4:9 e 10).
Adão aceitou que Deus realmente havia feito uma provisão para ele na
obra perfeita de criação, e mostrou essa aceitação descansando no sábado. Os
cristãos se unem a ele para comemorar a bondade e a amorosa providência de Deus
na Criação. Ao apartar-nos do ritmo incessante de nossas atividades habituais e
da pressão da vida durante as horas sabáticas, lembramo-nos de que o mundo não
gira em torno de nós. Afinal, o Sol não se ergue pela manhã e as flores não
desabrocham por ordem nossa. A criação pode continuar perfeitamente bem sem
qualquer ajuda de nossa parte. O descanso físico no sábado reconhece e celebra
a maravilhosa providência para nós no mundo físico, assim como tem acontecido
com o povo de Deus desde o começo do mundo.
E nossa fé em Jesus acrescenta nova e gloriosa dimensão a tudo isso.
Como indica a passagem de Hebreus
4, o repouso do sábado agora significa que aceitamos que Cristo realmente
alcançou para nós a salvação na cruz do Calvário.
Devido a essa obra consumada, o cristão pode “descansar de suas obras”,
isto é, do esforço frustrante de obter a salvação através de bons atos
pessoais. Simplesmente aceitamos pela fé que, quando Jesus disse “Está
consumado”, realmente estava consumado, e que Ele alcançou uma salvação plena e
ilimitada para “todo o que nEle crê” (João
3:16).
Essa relação de fé e confiança em Deus, simbolizada e aprofundada quando
descansamos no sétimo dia, é “a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Filipenses 4:7). É o descanso
desfrutado por todos os que estão “em Cristo Jesus”. Não mais necessitam ser
jogados daqui para lá num mar de problemas e ansiedades. Podem entrar no porto
e encontrar paz e descanso.
Talvez você esteja indagando o que fazer a respeito de tudo isso.
Insisto para que você não hesite mais. Com passos alegres e confiantes,
entre no repouso sabático. “Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a
promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer que algum de vós tenha
falhado” (Hebreus 4:1).
¹ Não peço desculpas por tratar os primeiros capítulos de Gênesis como
uma história a ser levada a sério. Mas entendo a desconfiança de alguns que
pensam de modo diferente. Eles crêem que essas histórias bíblicas não
representam eventos reais. Antes, consideram-nas como ferramentas didáticas ou
mensagens que ensinam uma lição. Em ambos os casos, é claro que qualquer
abordagem dos Dez Mandamentos terá de lidar com esses capítulos, porque são
básicos para compreendermos a lei moral e, com efeito, toda a mensagem da
Bíblia.
² Não é irônico que algumas pessoas acusem os observadores do sábado de
crer na salvação pelas obras quando, na verdade, a observância do sábado
significa exatamente o oposto?
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