Pequenos deuses
O Segundo Mandamento
Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há
em cima nos céus, nem embaixo na Terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as
adorarás, nem lhes darás culto; porque Eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso,
que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração
daqueles que Me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que Me
amam e guardam os Meus mandamentos. Êxodo
20:4-6
Ainda estava escuro quando saímos de casa e começamos a percorrer as
ruas desertas. Em pouco tempo, o brilho da cidade havia sumido atrás de nós, e
continuamos a viagem seguindo o túnel de luz criado pelos faróis. Durante um
bom tempo, o único som era o zumbido do motor e dos pneus sobre o pavimento.
Por fim, um toque de vermelho no horizonte começou a anunciar a aproximação
do dia. Não demorou muito para que víssemos uma borda estreita marcada por
intensa luminosidade. Era o Sol espiando por trás da colina próxima. De alguma
forma, sem parecer que estivesse em movimento, ele se mostrou cada vez mais
visível até que, minutos mais tarde, era dia.
Foi nosso filho mais velho quem quebrou o silêncio. Com apenas quatro
anos de idade, David nos surpreendia constantemente com suas curiosas
observações.
– Papai – disse ele – se viermos aqui amanhã cedinho e subirmos aquela
montanha, você acha que poderemos estender a mão e pegar o Sol quando ele
passar?
Lá na floresta um homem está trabalhando. “Primeiro vou pegar um pouco
de argila”, diz ele. “Depois, vou modelar assim. Veja, aqui estão os olhos e o
nariz. Agora coloco isto ao sol por um pouco e, quando a argila estiver seca,
vou pintá-la com minhas cores preferidas. Quer saber o que estou fazendo? É
Deus, claro. Não adivinhou? Não, não é o próprio Deus. É a Sua representação. É
assim que Ele Se parece.”
Meu pequeno de quatro anos achou que podia estender a mãozinha e tocar
o Sol. E o homem na floresta acredita que pode fazer uma imagem de Deus. Ambos
estão cometendo o mesmo erro.
O rei Salomão tinha um conceito melhor. Construiu um belo templo em
Jerusalém. Quando estava pronto, ele organizou uma comemoração que durou vários
dias. Em meio a toda aquela euforia, contudo, ele não perdeu de vista o
verdadeiro significado do evento. Falou com Deus em oração e disse: “Eis que os
céus e até o céu dos céus não Te podem conter, quanto menos esta casa que eu
edifiquei” (2 Crônicas 6:18).
Por que o segundo mandamento proíbe fazer ídolos ou imagens para
representar Deus? Porque, não importa quão grande os façamos ou quanto de ouro,
diamantes e outras coisas usemos para cobri-los, a única coisa que conseguimos
é tornar Deus menor. inevitavelmente, nós O reduziremos à dimensão de um
conceito meramente humano. E esse é realmente o âmago do problema. Uma imagem
mental pobre acerca de Deus é o pecado fundamental que o segundo mandamento
procura ajudar-nos a evitar.
Os racionalistas modernos cometem o mesmo erro. Lançam a pequena rede
de sua habilidade intelectual no vasto oceano do Universo. O que conseguem
captar é limitado pelo curto alcance dos seus sentidos e de sua capacidade de
processar as informações obtidas. Tornam-se os donos daquela parcela de
informação e negam a existência de tudo o mais. Como eu disse, é o mesmo erro,
e isso prova que esse problema não se limita a pessoas ignorantes.
O Próprio Pai ama Você
Nos tempos antigos, o resultado lógico da idolatria foi o politeísmo, a
crença de que existem muitos deuses. As pessoas inventavam mais deuses porque
não podiam imaginar que um só seria suficiente, que uma deidade conseguiria
tomar conta de tudo.
Os cristãos primitivos se apegaram à ideia de que havia um só Deus.
Porém, infelizmente, muitos dos novos conversos do paganismo entravam
para a igreja com o mesmo conceito pobre a respeito de Deus que tinham antes. Inclinavam-se
a ver Deus como um ser semelhante às divindades que costumavam adorar – seres
esquecidos e indiferentes, não dispostos a ajudá-los. Eles sentiam que
precisavam suplicar e implorar constantemente para vencer a apatia de Deus e
convencê-Lo a interessar-Se por suas necessidades.
É difícil imaginar um erro maior. A Bíblia compara Deus com a mais poderosa
expressão do amor humano, dizendo: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho
que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda
que esta viesse a se esquecer dele, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti. Eis
que nas palmas das Minhas mãos te gravei” (Isaías
49:15 e 16).
Apesar dessa garantia, muitas pessoas chegaram a imaginar Deus como
esquecido e relutante, com um exército de intercessores ao redor do Seu trono,
clamando dia e noite para conseguir que nos ajude. Mas Jesus disse aos Seus
seguidores: “Não vos digo que rogarei ao Pai por vós. Porque o próprio Pai vos
ama” (João 16:26 e 27). E o apóstolo
insistiu: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a
fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião
oportuna” (Hebreus 4:16).
A idéia da intercessão por parte dos santos mortos viola claramente o segundo
mandamento, porque se baseia no conceito pagão de um Deus limitado que
dificilmente possa ser convencido a nos auxiliar.
Por que você Duvida?
Certo dia, eu estava parado nas docas de Guanaja, Honduras, enquanto um
amigo me mostrava os barcos de pesca de camarão atracados nas docas. Seus
guindastes estavam erguidos e as gigantescas redes secavam ao sol. Naquele
entardecer, sairiam de novo. O amigo me contou acerca das toneladas de camarões
que os barcos traziam cada dia.
Alarmado, pensei comigo mesmo: Nesse ritmo, não vai demorar para que os
oceanos se esvaziem!
Na manhã seguinte, ao partir, voei ao longo da costa entre Guanaja e
Puerto Cabezas. Sob a asa esquerda do avião, pude ver a silhueta azul das
montanhas costeiras e, à direita, a imensidão do mar. Tentei adivinhar a
quantos quilômetros de distância ficaria o ponto onde o horizonte se confunde
com o céu.
Alguns minutos depois, vi três barcos de pesca de camarão lá embaixo,
balançando-se sobre as ondas enquanto arrastavam as redes. Eram dos mesmos que
eu tinha visto no dia anterior, mas agora pareciam minúsculos!
E que contraste entre o seu tamanho e a vastidão do oceano! Então
pensei: Que podem fazer esses pequeninos barcos para esgotar todo o tesouro que
Deus tem estocado na Sua despensa? Como as coisas mudam quando as vemos de uma
perspectiva diferente! Refleti: E o que dizer da perspectiva de Deus? Por
vezes, nossos problemas parecem encher a Terra e o céu. Como acha você que Deus
os vê?
Essa foi a lição que Pedro aprendeu numa noite tempestuosa, no Mar da
Galileia. As gigantescas ondas e os ventos o encheram de pânico, e ele gritou:
“Salva-me, Senhor!” (Mateus 14:30).
“E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe disse: homem de
pequena fé, por que duvidaste?” (verso
31).
Medo e ansiedade vêm da falta de fé, e violam o segundo mandamento,
porque mostram que na nossa mente Deus é muito pequeno.
Nunca Subestime o Poder de um Ídolo
O salmista escreveu acerca dos ídolos: “Tornem-se semelhantes a eles os
que os fazem” (Salmo 115:8). O
apóstolo Paulo observou o mesmo fenômeno em seus dias. Disse que os idólatras
haviam mudado “a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis”.
Por isso, disse Paulo, “Deus os entregou a uma disposição mental reprovável,
para praticarem coisas inconvenientes”. Ele esclarece o que quer dizer com
“coisas inconvenientes” ao citar uma lista de pecados que incluem avareza,
maldade, inveja, homicídio, contenda, dolo, malignidade, difamação, calúnia,
insolência, arrogância, presunção, desobediência aos pais, perfídia, ausência
de afeição natural e de misericórdia (Romanos
1:23, 28-31).
Não é um quadro bonito, concorda? Mas você acha que é um exagero? Há
pouco tempo, fui ver as impressionantes ruínas do Monte Albán, em Oaxaca,
México. Elas contêm imagens dos antigos deuses Zapotecas, na forma de serpentes
emplumadas, animais selvagens à espreita de suas vítimas e dezenas de figuras
humanas com expressões grotescas de raiva e ódio. O guia nos mostrou um altar
onde os sacerdotes arrancavam corações de vítimas vivas por ocasião das
cerimônias. Depois nos levou a um campo de jogo, explicando que o time vencedor
ou o perdedor era sempre sacrificado aos deuses.
Referindo-se aos ídolos e seus adoradores, o salmista disse: “Tornem-se
semelhantes a eles os que os fazem.”
Ao meio-dia, retornei à cidade e fui a um restaurante. O lugar vibrava
com o ritmo de uma canção popular, enquanto um “ídolo” moderno berrava: “O dia
todo penso em sexo. A noite toda penso em sexo. E o tempo todo penso em sexo com
você, com você.”
As canções seguintes só eram diferentes no sentido de usar termos ainda
mais vulgares para repetir a mesma mensagem.
Quem duvida de que os ídolos modernos tenham pelo menos tanto poder
sobre as pessoas quanto os antigos? E ainda é verdade que aqueles que os fazem
se tornam como eles. Em muitos sentidos, os resultados da idolatria moderna
ultrapassam o que o apóstolo Paulo descreveu na sua época.
Milhares de Gerações
Algumas pessoas se surpreendem porque o segundo mandamento contém uma
séria advertência acerca de imagens: “Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque
Eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos
filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem” (Êxodo 20:5). O que as assusta é o fato de
Deus ter dito que é “zeloso”. Além disso, Ele declara que até três ou quatro
gerações vão sofrer por causa dos pecados dos seus antepassados.
O problema vem de uma leitura superficial do texto. Note que aquilo que
acontece com essas gerações não é uma vingança por parte de um Deus irado. O
mandamento simplesmente diz que o “castigo” que essas pessoas sofrem é a “iniquidade
dos pais”. Isso é exatamente o que o apóstolo Paulo tinha em mente na passagem
mencionada antes. Ele diz que a adoração a ídolos, a exaltação da criatura
acima do Criador, remove as barreiras e abre as comportas da depravação humana.
Quando as pessoas se tornam como seus ídolos, a terra se enche com violência,
e o coração do povo se volta para a “malícia, avareza... inveja, homicídio,
contenda, dolo e malignidade” (Romanos
1:29). Os indivíduos se tornam “caluniadores, aborrecidos de Deus,
insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais,
insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia” (versos 30 e 31).
Você acha que seria um castigo viver numa sociedade como a que Paulo
retrata? Essa é a conseqüência que alcança a “terceira e quarta geração”, o
fatídico resultado que Deus deseja que evitemos, ao dar-nos essa advertência no
segundo mandamento. Por isso, Ele é “zeloso”. O ciúme humano é uma exibição de
interesse próprio, mas o mandamento deixa claro que Deus é ciumento em favor do
Seu povo.
Em contraste, a misericórdia e a bondade de Deus se estenderão até “mil
gerações” dos que O amam e guardam os Seus mandamentos (Êxodo 20:6). Isso, naturalmente, se refere à promessa da vida
eterna. Jesus disse:
“Pai, a Minha vontade é que onde Eu estou, estejam também comigo os que
Me deste, para que vejam a Minha glória que Me conferiste, porque Me amaste
antes da fundação do mundo” (João 17:24).
Mensagem de Liberdade
O segundo mandamento é o complemento perfeito do primeiro. As pessoas
que tomarem a decisão de colocar a Deus no centro de sua existência não permitirão
que qualquer coisa criada ocupe o lugar que pertence somente ao Criador. E não
haverá confusão com respeito à verdadeira adoração, porque essas pessoas se
afastarão de tudo que diminua a importância de Deus em sua vida.
Para aqueles que guardam o primeiro e o segundo mandamentos, a obediência
aos demais será completamente natural. Se amamos a Deus – se Ele está no trono
da nossa vida – nosso coração transbordará de amor pelas outras pessoas também.
O apóstolo Tiago chamou os Dez Mandamentos de “lei perfeita, lei da
liberdade” (Tiago 1:25). A esta
altura, consideramos apenas dois preceitos da lei, mas o significado dessa
perfeição e liberdade já está claro.
Como diz o salmista, “grande paz têm os que amam a Tua lei; para eles não
há tropeço” (Salmo 119:165).
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